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AINDA O HORÓSCOPO
Autor: d. Estevão Bettencourt
Fonte: Revista "Pergunte & Responderemos" - maio/1998
Transmissão: Roberto Jardim Cavalcante

Em síntese: O presente artigo propõe sete razões que evidenciam a fragilidade dos oráculos da astrologia. Esta se acha fundamentada em concepções científicas ultrapassadas. Na verdade, nota-se em pleno século XX a persistência da mentalidade mágica: o homem contemporâneo facilmente se deixa sujeitar por pretensas forças misteriosas ou ocultas, quando ele foi criado à imagem e semelhança de Deus para dominar a terra e seus elementos.


A revista francesa "Science et Avenir", janeiro 1998, pp. 52s, publica o artigo de Gilles Moine intitulado "Pour en finir avec l'Astrologie... (Para acabar com a Astrologia...). É de alto nível científico e destinado a público de estudiosos - o que confere autoridade às observações de Gilles Moine.

A seguir, serão propostos os principais tópicos do artigo e breve comentário ao mesmo.

I. Sete Considerações

  1. O número de planetas reconhecido pelos astrólogos até 1781 era de seis. Tem aumentado; em 1781 foi descoberto o planeta Urano; em 1846, Netuno; e, em 1930, Plutão. E quem garante que não se descobrirá um décimo planeta do nosso sistema solar? Ora põe-se a pergunta: se os astros exercem influência sobre o comportamento dos seres humanos, eles a exercem mesmo quando não são conhecidos pelos terrestres. Como pode então o astrólogo definir a conduta ou o destino de alguém, se este é influenciado por forças desconhecidas?

  2. A astrologia parte do princípio de que certos corpos celestes, como são os astros, exercem sobre o recém-nascido uma influência devida à força da gravidade e coisas semelhantes. Mas, pensando bem, pode-se observar que o médico obstetra e a parteira devem exercer ainda maior influência sobre a criancinha, porque estão mais próximos dela: exercem uma força gravitacional seis vezes mais importante do que a do planeta Marte. Verdade é que a massa corpórea do médico ou da parteira é muito menor do que a de um planeta, mas, em compensação, estão muitíssimo mais perto do bebê que nasce.

  3. A Física ensina que o poder de atrair que têm os corpos vai diminuindo à medida que aumenta a distância entre os corpos. Ora acontece que a astrologia julga que a influência dos astros é independente da sua distância: em conseqüência, a influência de Marte sobre os recém-nascidos seria a mesma quer o planeta Marte esteja do mesmo lado do Sol que a Terra, quer esse planeta esteja do outro lado do Sol, sete vezes mais longe da Terra. Tal concepção contradiz às leis da Física e se deve, em parte, à imagem geocêntrica dos antigos astrólogos.

  4. Conseqüentemente ainda se pergunta: se a influência dos astros é independente das distâncias, por que a astrologia não leva em conta a possível influência de estrelas e galáxias esparsas pelo universo? Está claro que, se os astrólogos fossem considerar tais eventuais influências, a astrologia se tornaria tão complexa e complicada que deixaria de ser cultivada. A astrologia só pode ter tido origem em época muito recuada, na qual pouco se conheciam os astros, e só pode subsistir se se faz abstração de tantos astros descobertos após a origem das astrologia.

  5. Questiona-se ainda: por que a influência dos astros só se exerce a partir do momento em que a criança nasce, e não a partir do momento em que é concebida no seio materno? Quando a astrologia começou a ser praticada, julgava-se que o nascimento era o momento "mágico" do surto ou da origem da vida. Hoje, porém, sabe-se que a vida da criancinha começa nove meses antes, em conseqüência da fecundação do óvulo pelo espermatozóide. É notório também o fato de que o bebê ou o feto ouve a voz de sua mãe e é sensível aos choques e ao barulho violento. Na verdade, a data do nascimento é algo de evidente a todo ser humano ao passo que a data da fecundação do óvulo pelo espermatozóide é misteriosa e não poderia ser levada em conta pelos astrólogos.

  6. Surge ainda a indagação: por que é que os astrólogos não são mais ricos? Explicando a pergunta um tanto maldosa, há quem observe que os astrólogos afirmam não poder predizer acontecimentos pontuais e precisos, mas apenas grandes tendências. Em conseqüência, não poderiam predizer o número que será sorteado na Loteria, mas poderiam prever as oscilações e as inflexões que vão tomando as Bolsas de Valores. Como teria sido vantajoso se tivessem previsto a queda das Bolsas asiáticas e se pudessem predizer como evoluirá a problemática da economia mundial em 1998!

  7. Aponta-se outrossim o fenômeno da precessão dos equinócios. Com efeito; o signo do Câncer tem as datas de 22 de junho a 22 de julho. Outrora o Sol estava na constelação do Câncer: mais precisamente, há dois mil anos... Hoje ele está na constelação de Gêmeos, a 10º do limite da constelação do Câncer, ou seja, vinte vezes o diâmetro da Lua. Tal fenômeno é dito 'a precessão dos equinócios"; consiste em que o eixo de rotação da Terra percorre um circulo completo em 25.000 anos: em conseqüência, a Terra se deslocou em relação às constelações do Zodíaco.

II. Refletindo...

As considerações até aqui propostas levam a ver que não há porque dar crédito ao horóscopo e semelhantes processos de adivinhação do futuro. O interesse pelo horóscopo como também pelo Tarô, I Ching, Numerologia, Cabala, jogo de búzios, cartas etc. é alimentado por mentalidade que se pode dizer "mágica". Quem se entrega à prática de tais processos de adivinhação, de certo modo acredita estar subordinado a forças cegas e misteriosas; o cliente de tais instâncias se amedronta e dobra diante de poderes fictícios - o que não é cristão. A propósito seja citado S. Agostinho (+430):

Certa vez, em sua Igreja em Hipona (Norte da África), Agostinho se referia a um chavão daquela época e também dos dias atuais: "Os tempos são maus, são ingratos! Como era feliz o passado!" O santo Bispo respondeu: "Os tempos somos nós. Sejamos bons e os tempos serão bons. Quais fomos nós, tais serão os tempos". Tais palavras merecem atenção. Muitos são aqueles que se queixam de que os tempos não são propícios a uma autêntica vida cristã, reta e honesta, porque incitam à desonestidade; tais pessoas quase se dobram diante de um preconceito, como se fosse impossível removê-lo. Ora, Agostinho nota que nós somos maiores que os tempos, porque nós é que fazemos os tempos ou damos aos tempos o seu colorido próprio. Vale a pena ter consciência disto. Aliás, já dizia Roger Garaudy em sua trajetória de simpatizante com o Cristianismo: "O homem foi criado criador".

Em outra ocasião, S. Agostinho comentava as ameaças dos godos contra a cidade de Roma. Os homens da época julgavam que, se Roma caísse sob os golpes de invasores, o mundo acabaria; tal era o apreço que a população do Império devotava a Roma. A seus fiéis assustados Agostinho respondeu: "Que é Roma? Roma não são as pedras; Roma são os romanos; se os romanos não caírem, Roma não cairá". E acrescentou: "Quem colocou pedra sobre pedra para construir as muralhas de Roma, sabia que as pedras cairiam. Não nos surpreende o fato delas desmoronarem. Mas o essencial de Roma são os seus cidadãos, pois são eles que fazem a grandeza de Roma". Também aqui se exprime profunda sabedoria. O homem é maior que as pedras, é maior que os fatos que o ameaçam. A grandeza e a riqueza do ser humano estão dentro dele; são a dignidade do caráter, a fidelidade ao dever, a coragem de enfrentar dificuldades e desafios, a aspiração a nobres ideais. Se estas qualidades não desfalecem, o essencial não está perdido, mesmo quando os furacões tentam desarmar e desatinar a pessoa humana. Em suma: Roma não cairá, se os romanos não caírem. O Brasil, nossa comunidade, não cairão, se os brasileiros ou se nós não cairmos!