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Diz o Concílio de Trento: "Se somos, forçosamente, obrigados a confessar que os fiéis não podem
exercer obra mais Santa nem mais divina do que este Mistério terrível, no qual a Hóstia
vivificadora, que nos reconciliou com Deus Pai, é, todos os dias, imolada pelos sacerdotes,
parece bastante claro que devemos ter muito cuidado para fazer esta ação com grande pureza de
coração e com a maior devoção exterior possível". Estas palavras dizem respeito tanto aos
fiéis como ao celebrante.
O historiador Flávio Josefo relata que, no templo de Salomão, setecentos sacerdotes e levitas
estavam ocupados, todos os dias, em imolar as vítimas, em purificá-las, em queimá-las sobre o
altar, e que isto se fazia com profundo silêncio e perfeito respeito. Entretanto, estes
sacrifícios eram somente símbolos do Sacrifício da Santa Missa. Com que fervor, com que
silêncio e atenção devemos assistir, pois, ao sacrifício verdadeiro!
Os primeiros cristãos nos deram admiráveis exemplos a este respeito. Segundo o testemunho de
S. João Crisóstomo, ao entrar na Igreja, beijavam, humildemente, o assoalho e guardavam,
durante a Santa Missa, tal recolhimento que se julgava estar em lugar deserto. Era de observar
o preceito da liturgia de S. Tiago: "Todos devem se conservar no silêncio, no temor, no
medo e no esquecimento das coisas terrestres, quando o Rei dos reis, Nosso Senhor Jesus Cristo,
vem imolar-se e dar-se em alimento aos fiéis". São Martinho conformou-se, exatamente, com
esta recomendação. Nunca se sentava na igreja; de joelhos, ou em pé, orava com ar compenetrado
de um santo assombro. Quando lhe perguntavam pela razão desta atitude, costumava dizer: "Como
não temeria, visto que me acho em presença do Senhor?".
Como outrora a Moisés, Deus poderia ainda dizer-nos hoje: "Tirai os sapatos de vossos pés,
porque o lugar onde estais é Santo". Mais santas ainda são as nossas igrejas sagradas, com
tanta profusão de unções e orações, e santificações, cada dia, pela oblação do Santo Sacrifício.
Caro leitor, David eleito de Deus, tremendo, aproximava-se da Arca da Aliança, e nós não
tremeríamos, ao entrar na igreja, onde se acha o Santíssimo Sacramento? Não nos esqueçamos da
severa advertência do Senhor: "Tremei diante de meu santuário" e da exclamação de Jacó:
"Quanto é terrível este lugar! É, verdadeiramente, a casa de Deus e a porta dos céus"
(Gen. 28, 17).
À vista disto, que pensar dos cristãos que se comportam, na igreja e durante a Santa Missa,
como se estivessem na rua, ou em casa? Os Anjos adoram, tremendo e prostrados, a divina
Majestade, e entre os assistentes há cristãos que lançam, aqui e acolá, olhares curiosos e
provocadores; ocupam-se das pessoas presentes, pensam nos negócios do mundo, nas suas
vaidades, falam sem pudor em coisas inúteis, talvez, más, semelhantes aos vendedores no templo
que "faziam da casa de oração uma casa de ladrões". As nossas igrejas são mais que uma
casa de oração: são a casa de Deus, habitada por Jesus Cristo, dia e noite.
Ora, se o próprio Jesus expulsou, a chicote, os profanadores do templo, como tratará estes
cristãos audaciosos?
Dizes: "É mister responder a quem interroga". - Não é proibido responder a uma pergunta
útil nem dizer uma palavra necessária; é proibido, conversar coisas inúteis, fazer observações
sobre o próximo, saudar-se mutuamente, como se estivesse na rua, e outras coisas semelhantes
que impedem seguir, atentamente, a Santa Missa. Jesus Cristo nos preveniu: "Os homens darão
conta, no dia do Juízo, de toda palavra ociosa" (Mt. 12, 36). Ora, haverá palavras mais
inúteis do que as proferidas durante o tremendo Mistério do Altar?
São Crisóstomo opina que os que falam e riem, durante a Santa Missa, merecem ser fulminados na
Igreja. Com esta ameaça, o santo Doutor aponta também os que, por direito e dever, deveriam
impedir as irreverências: os pais que não repreendem nem corrigem os filhos dissipados; os
mestres e amos que não vigiam a atitude de seus alunos e criados.
Testemunhamos ainda nosso respeito, assistindo à Santa Missa, de joelhos. São Paulo nos
convida, quando diz que, "ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e nos
infernos" (Fl. 2, 10). Com mais razão ainda, devemos guardar esta atitude durante a
presença real do divino Salvador, isto é, desde a elevação até a Comunhão. Muitas pessoas,
homens sobretudo, têm o mau costume de ficar em pé durante toda Missa; apenas inclinam-se à
consagração para levantar-se logo depois, como se Jesus não estivesse presente. Quem não puder
permanecer de joelhos durante toda a Missa, poderia ficar em pé até o momento da consagração e
depois da Comunhão. A presença real de Nosso Senhor torna também inconveniente o costume de
muitas pessoas de sentarem-se, sem motivo de força maior, imediatamente depois da elevação. Se
estivessem na presença dos grandes da terra, em alguma reunião mundana, a força não lhes
faltaria, mesmo para tomar atitudes muito mais penosas do que a de estar de joelhos!
A piedosa imperatriz Leonor, esposa de Leopoldo I, assistia sempre, de joelhos, à Santa Missa.
Quando lhe aconselhavam poupar a saúde e servir-se duma cadeira de braços, dizia: "Todos se
inclinam diante de mim, pobre pecadora, ninguém de minha corte ousaria sentar-se em minha
presença, e teria eu a coragem de faze-lo em presença de meu Deus e Criador?"
Aconselharíamos, de boa vontade, às mães, que não trouxessem à Missa os pequenitos que, com os
choros, poderiam perturbar o silêncio e incomodar o sacerdote no altar: quanto aos que estão
bastante crescidos para aí ficarem quietos, é muito bom conduzí-los.
Terminando, reprovamos ainda outro deplorável abuso: o das senhoras e moças que vão à Missa
vestidas à última moda, às vezes bastante indecente para lugar tão santo. Estas pessoas não
medem a imensa dívida que contraem para com Deus. Jesus Cristo, do alto da cruz, parece
dizer-lhes: "Vê, minha filha, estou atado a este lenho, inundado de sangue, coberto de
chagas, para pagar o escândalo de teus trajos inconvenientes. Tu, por ironia cruel, apareces
aqui ostentando a elegância; não te envergonhas de mostrar-te a meus fiéis? Toma cuidado para
que teu luxo e tua vaidade não te lancem ao fogo do inferno!"
A garridice, o luxo é como um archote que acende desejos ilícitos até no coração dos justos;
que fogo não acenderá nos levianos e impuros! As pessoas adornadas com tanto cuidado são
sempre perigosas: desviam do altar a atenção dos homens e são a causa de distrações e
pensamentos criminosos. Quem prepara o veneno comete um pecado mortal, mesmo que não o tome
aquele a quem é destinado; o mesmo acontece com estas pessoas: pecam pelo único fato de expor
os outros à tentação. Sua falta é ainda mais escandalosa, quando assim se apresentam na Santa
Missa. Como responderão por suas vítimas no dia do Juízo? Acrescenta a isso que são uma
ocasião de pecado para outras senhoras, a quem servem de figurinos de imitação.
Terminamos, caro leitor, com uma súplica: [...] lê e relê com
atenção. Teu amor para o divino Sacrifício e a Santa Comunhão crescerão, porque, de mais a
mais, compreenderás a excelência da Santa Missa, e o tesouro imenso que lucras, assistindo a
ela fielmente. Será, porém, na hora da morte, principalmente, que experimentarás quanto o
Senhor é bom para os que honram os sagrados Mistérios do Altar, ao passo que os indiferentes e
tíbios meditarão, num amargo, mas inútil arrependimento, o prejuízo que fizeram a seus
interesses eternos.
Rogamos a Deus que, por Nosso Senhor Jesus Cristo, seu Filho único, e pela virtude do Espírito
Santo, esclareça a inteligência e fortifique a vontade dos que lerão estas linhas, a fim de
que aproveitem para sua alma e nos façam participar de suas orações, no Santo Sacrifício.