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SÃO ROBERTO BELARMINO:
GRANDE POLEMISTA E DOUTOR DA IGREJA

Autor: Luiz Carlos Azevedo
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Transmissão: Carlos Melo

"Diante das investidas dos protestantes, a Igreja Católica nunca permaneceu indiferente, nem resignada. Ela não se encerrou no bastião dos dogmas e dos cânones disciplinares do Concílio de Trento. A Igreja se nos afigura, nesse contexto histórico, como uma praça sitiada. Teólogos e exegetas se esmeram em refutar os erros protestantes. No plano das idéias, como no das armas, a contra-ofensiva da ortodoxia católica foi vigorosamente conduzida. Os protestantes começavam a utilizar a imprensa: múltiplas edições de suas obras ajudavam-nos a difundir bastante os seus erros. Seus panfletos e tratados circulavam por toda parte, causando grande prejuízo às almas. No momento em que o Concílio de Trento encerrava seus trabalhos, dispunham eles de uma espécie de suma anticatólica monumental, chamada As Centúrias de Magdeburgo, cujo autor, Flacius Illyricus, expondo o conjunto das doutrinas luteranas, pretendia explicar a história do mundo pelo jogo infernal do Anticristo, isto é, o Papa! Essa péssima literatura encontrou imitadores. No Catálogo dos Testemunhos da Verdade, por exemplo, lia-se que em certos conventos de freiras tinha-se encontrado milhares de cabeças de crianças imoladas! Na obra Stupenda Jesuitica, os membros da Companhia de Jesus eram todos apresentados como assassinos profissionais entregues a uma vida debochada. Não era possível deixar sem resposta todas aquelas obras.

Defensor da Fé

Dentre os numerosos santos suscitados pela Providência, no século XVI, para promoverem a verdadeira reforma religiosa na Europa e combaterem a pseudo-reforma protestante, São Roberto Belarmino, cuja festa a Igreja celebra a 17 de setembro, surge como um prodígio da natureza e da graça. Escritor fecundo, convincente, polemista invicto, o grande jesuíta foi o mais terrível adversário que, no campo doutrinário, os hereges de sua época tiveram de enfrentar. De tal maneira suas obras de apologética eram eficazes e obtinham incontáveis conversões, que Isabel I, rainha protestante da Inglaterra, proibiu que as estudassem todos os que não fossem doutores em Teologia.

Mestre das controvérsias

Nascido em Montepulciano, na Toscana (Itália), a 4 de outubro de 1542, ingressou São Roberto Belarmino na Companhia de Jesus aos 18 anos. Pregador emérito aos 21 anos, aos 27 tornou-se professor de Teologia da Universidade de Louvain, na Bélgica, para onde o enviara o Geral da Companhia, São Francisco de Borgia, em 1569, como pregador contra o protestantismo nos Países Baixos. O futuro Doutor da Igreja foi logo depois e durante doze anos, encarregado de reger, no Colégio Romano, a recém-criada cátedra de Controvérsias. Obrigado pelo seu superior a escrever suas aulas, o fruto de seu magistério nesse período resultou nas famosas "Controvérsias", obra na qual o combativo jesuíta ofereceu à Santa Igreja um arsenal contra todas as heresias nascentes. Esse enorme Tratado latino, logo traduzido em diversas línguas, com uma objetividade excepcional expunha, ponto por ponto, as doutrinas de Lutero, Calvino e outros heresiarcas, opondo-lhes a verdadeira doutrina católica. Consistia ele em um autêntico arsenal doutrinário, depositado nas mãos dos pregadores para refutar as asserções e teses dos adversários da Fé.

Insigne pastor de almas

Diretor espiritual do Colégio Romano, do qual veio a ser Reitor, orientou um célebre noviço: o futuro São Luiz Gonzaga, assistindo-o, como diretor espiritual, em seu leito de morte (15/06/1591). Manteve também regular correspondência com o famoso Bispo de Genebra, São Francisco de Sales, que se tornaria mais tarde também insigne Doutor da Igreja. São Roberto Belarmino foi encarregado pelos Papas de empreender diversas missões diplomáticas delicadas, nas quais sempre defendeu, de modo exímio, a ortodoxia e o Primado de Pedro. Cardeal em 1599 e Arcebispo de Cápua em 1602, ingressou depois, o já famoso Purpurado, na Corte Pontifícia, onde participou de diversas Congregações, como a do Santo Ofício, a da Propagação da Fé - que juntamente com Jean de Vendeville, teve a idéia de sugerir a criação, a do Index, a dos Ritos, etc. Em Cápua, o Santo deu provas de excelentes qualidades pastorais, na pregação, no ensino do Catecismo, nas relações com o seu Clero, para o qual escreveu em 1604, uma esplêndida "Explicação do Credo". Suas obras, especialmente as "Controvérsias", alcançaram repercussão universal e ocasionaram inúmeras conversões. Escreveu também um catecismo para tornar acessível ao povo o conhecimento das verdades essenciais da nossa Fé. Essa obra, somente durante a vida do Santo, foi traduzida para cerca de 40 idiomas.

Ardente defensor dos direitos da Santa Sé

Polemista combativo e incansável, suas obras de apologética ultrapassaram os limites da natureza humana e não se explicam sem um grande e contínuo auxílio sobrenatural. Para falar só de uma - as já citadas Controvérsias, diziam muitos protestantes não constituir ela trabalho de um só homem mas de todos os jesuítas, sob o pseudônimo de "Belarmino". Os sermões e as aulas do santo eram avidamente anotadas pelos estudantes, que depois os faziam publicar, tornando tal produção literária disputada até em países protestantes, como a Inglaterra, Alemanha e Holanda. Defensor zeloso da Santa Sé, São Roberto Belarmino sustentou polêmica com a República de Veneza em defesa do Papa. Refutou também um livro de Jaime I, no qual o monarca inglês tentava justificar um juramento de fidelidade de seus súditos, contrário à autoridade pontifícia. Estando a Universidade da Sorbonne, na França, eivada de galicanos, isto é, de pessoas que sobrepunham os interesses da França aos da Igreja e da Santa Sé, publicou aquela instituição de ensino uma obra de Guilherme Baclay, repleta de idéias propugnando autonomias religiosas em relação a Roma. A pedido do Papa, São Roberto Belarmino refutou tal livro com tanta erudição e lógica, que o trabalho do santo foi considerado seu mais valioso escrito, após as Controvérsias. São Roberto Belarmino faleceu em 1621, aos 79 anos de idade. Tido como santo já em vida, a causa de sua beatificação teve início no ano seguinte à sua morte, mas não se concluiu senão em 1923. O enorme atraso deveu-se a uma série de circunstâncias históricas, entre as quais a animosidade da Corte galicana e o não breve período da supressão da Companhia de Jesus. A heroicidade das suas virtudes foi proclamada por Bento XV em julho de 1920. Beatificado em 1923, foi canonizado em 1930, sendo, um ano depois, declarado Doutro da Igreja".