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CIENTISTA DESCOBRIU O INFERNO?
Autor: d. Estevão Bettencourt
Fonte: Revista "Pergunte e Responderemos" - Jan./01
Transmissão: José Augusto

Em Síntese: Segundo o jornal "FOLHA UNIVERSAL"; um cientista terá descoberto a existência do inferno escavando a crosta terrestre, e terá ouvido os gritos de milhões de condenados imersos no fogo. Tal afirmação não pode ter sido proferida por um autêntico cientista, visto que a própria ciência é a primeira a desmentir tal notícia. Além do mais, o inferno, segundo a Teologia católica, não é um local, mas um estado de alma, que começa neste mundo e assume toda a sua virulência no além.


O jornal FOLHA UNIVERSAL, da Igreja Universal do Reino de Deus, publicou uma notícia "espantosa", a saber: um cientista finlandês terá tomado contato com o inferno ao escavar a crosta terrestre e terá ouvido gritos dos réprobos... A notícia merece comentários; eis por que será abaixo transcrita e analisada. Eis o que se lê na FOLHA UNIVERSAL, edição de 3/9/2000:

Que dizer? Três principais observações sejam propostas.

É possível?

O que espanta, não é a notícia como tal, mas o fato de que uma instituição que pretende ser séria, publique tal notícia... e isto precisamente numa época em que os avanços da ciência, especialmente os da Física e da Geologia, não permitem falar assim. Como, à luz da ciência, se pode admitir que no seio do planeta Terra haja pessoas ardendo em chamas e gritando de dor? Ademais o fogo tudo extingue; ninguém fica indefinidamente ardendo em chamas.

Surge espontaneamente a pergunta: que autoridade tem tal instituição (a IURD) para criticar outras instituições? O artigo em pauta permite avaliar o exíguo ou nulo valor que têm as invectivas dessa instituição contra a Igreja Católica. Os seus autores são, muitas vezes, obcecados e preconceituosos. Além do mais, é de notar que o grande obstáculo à aceitação do inferno, para muitas pessoas, são as imagens fantasiosas que a poesia e a fantasia popular criaram a respeito do inferno. Na verdade, para muitos o inferno é um tanque de enxofre fumegante com diabinhos e tridentes a torturar os condenados. Ora tal imagem é falsa. Os conceitos materiais e grotescos têm que dar lugar a concepções mais puras e dignas de Deus.

Em que consiste o inferno?

  1. Antes do mais, é preciso afastar a idéia de que Deus criou ou cria o inferno... Este não é um espaço dimensional nem é um lugar', mas sim um estado de alma... estado de alma no qual o próprio indivíduo se projeta quando rejeita radicalmente a Deus pelo pecado grave; começa então o estado infernal, do qual o pecador se pode insensibilizar pelo fato de não dar atenção ao seu íntimo ou à sua consciência, mas que saltará à tona quando ele não mais puder escapar à voz da consciência. Vê-se, pois, que não é Deus quem condena ao inferno; ao contrário, o Senhor Deus quer a salvação de todos os homens, como afirma São Paulo em 1Tm 2, 4. É a própria criatura que lavra a sua sentença ou que se condena quando diz um Não total a Deus, que é o Sumo Bem, o único Bem que o ser humano não pode perder.

  2. Mais precisamente: o inferno é o vazio absoluto ou a suprema frustração. E o não amar... não amar nem a Deus nem ao próximo. Todo homem foi feito para o Bem Infinito, como notava S. Agostinho (+430): "Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso coração enquanto não repousa em Ti" (Confissões I,1). Quem não repousa em Deus, inquieta-se e angustia-se, à semelhança da agulha magnética, que foi feita para o Norte, que a atrai; quando alguém a desvia do seu Norte, ela se agita e só pára quando se lhe permite voltar-se para o Norte.

  3. Conseqüentemente, vê-se que o inferno é mesmo algo de lógico, pois é a violência que o homem comete contra si mesmo. Verdade é que ninguém pode definir quantas pessoas morrem avessas a Deus. Bem pode acontecer que na hora da morte muitos pecadores obstinados se convertam e recebam a graça da reconciliação com Deus, como se deu no caso do bom ladrão. Afinal ninguém sabe quantos "bons ladrões" existiram e existirão através dos séculos. Possivelmente um grande número... para surpresa de quem só considera a face aparente da história.

E a Misericórdia de Deus?

Deve-se responder que, sem dúvida, Deus é infinitamente misericordioso, mas não é "tiranicamente" misericordioso. Com outras palavras: Deus não impõe a sua misericórdia ou o seu perdão a quem não 0 pede ou não o quer receber. Deus não obriga o homem a amar a Deus. Nisto consiste precisamente a grandeza e a nobreza de Deus. Ele não violenta nem força a criatura a se abrir para a misericórdia. Ora na outra vida não há possibilidade de conversão. A morte fixa o ser humano em sua última opção, de modo que após a morte ninguém pode mudar suas atitudes. Assim o inferno é o testemunho de que Deus respeita a sua criatura e não lhe tira a liberdade que lhe deu para dignificá-la.

Pode-se ir mais longe, e dizer que o inferno é a conseqüência do amor irreversível de Deus. Tal amor se dá e não volta atrás; não pode voltar atrás precisamente porque é divino e não pode contradizer a si mesmo (cf. 2Tm 2, 13). Por isto Deus ama a criatura que não O ama e se afastou dele. O fato de que Deus continua a amar, é que atormenta o réprobo; este percebe que se incompatibilizou com o Supremo Bem e o Sumo Amor. Donde se segue que o inferno é compatível com a Grandeza e a Santidade de Deus. Uma imagem servirá para ilustrar de algum modo o que é o inferno: observe-se o caso de um jovem que foge de casa para ir viver com seus colegas numa república de estudantes, porque "papai é cafona e mamãe é quadrada"... Pai e mãe que amam o filho, se preocupam, e resolvem enviar recados, perguntando ao jovem como está,... se precisa de alguma coisa,... quando voltará... Estas interpelações do amor incomodam ou atormentam o filho; este se daria por mais tranqüilo se pai e mãe desistissem de o amar e o esquecessem. O fato, porém, é que pai e mãe não podem deixar de amar seus filhos e de mostrar-lhes o seu amor. Paralelamente Deus não pode deixar de amar suas criaturas, mesmo quando elas se afastam do Pai celeste; a consciência desse amor atormenta o pecador que se incompatibilizou com Deus. Se o Senhor retirasse ou cancelasse o seu amor, o réprobo não sofreria tanto, porque estaria totalmente voltado para seus ídolos, sem ser atraído pelo Bem Supremo. Mas, como dito, Deus não se pode desdizer ou não pode dizer Não após ter dito Sim (aquele Sim proferido quando criou cada ser humano). Nisto está a nobreza de Deus, que é paradoxalmente motivo de tormento para quem não responde ao amor divino. Em suma, é altamente consolador ser amado por Deus, mas também é assustador ser amado por Deus e não O amar.