»» Artigos Diversos

NATAL DA CONFIANÇA
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Transmissão: Carlos Melo

Corria o ano 800. Era dia de Natal. Entra na Catedral de Latrão, em Roma, a Catedral dos Papas, um homem majestoso, quase sexagenário, em cujos olhos brilham ideais sem fim, em cuja corpulência e estatura quase gigante notam-se a força indomável do guerreiro, e nas cãs e na barba uma bondade e uma doçura indizíveis.

Não é um homem qualquer, logo se vê. É um Rei... Mas que Rei! Já teve que submeter, em território dos francos, os aquitanos e os lombardos; passou os Pirineus para quebrar, na Espanha, o poder ameaçador dos árabes; reprimiu a insurreição dos saxões e dos bávaros; e está em plena luta com os ávaros. Sua fama de batalhador só se iguala à de defensor da Fé. Sob seu influxo, as artes e as ciências florescem por toda a Europa. Extremosamente amado por seus súditos, venerado por seus guerreiros, seus domínios se estendem cada dia mais em terras pagãs, e com eles a benéfica influência da Religião católica.

Trata-se do grande Carlos Magno - perdoem-nos a redundância.

Pois bem, esse homem de tanta grandeza, esse Rei poderoso, penetra na Catedral para rezar, como um humilde servo de Jesus Menino. Ajoelha-se, baixa a cabeça, adora a Deus feito homem e implora misericórdia para seus pecados. Bate no peito, recorre à intercessão da doce Virgem Maria, e não se dá conta de que alguém se aproxima devagar, em silêncio respeitoso. É um sacerdote? Um bispo? Não apenas. É um Papa. É um Papa santo.

É São Leão III, que traz algo nas mãos. Sem ser notado, o Pontífice chega junto a Carlos Magno e sobre sua fonte descoberta coloca uma coroa. Uma coroa nova, não já de Rei mas de Imperador...

Naquele Natal, na Catedral do Vigário de Cristo, nasce o Império católico do Ocidente - nervura central da civilização cristã medieval - como 800 anos antes, no mesmo dia, havia nascido numa manjedoura o Menino Jesus.

Ao fundar a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, Nosso Senhor Jesus Cristo colocou nEla, em semente, todas as potencialidades para gerar uma grande civilização. Com a expansão da Igreja, com a conversão dos povos ao longo de oito séculos, a semente se desenvolveu, tornou-se uma possibilidade concreta, desabrochou por fim, no ano 800, no Império de Carlos Magno, abençoado e ratificado pelas mãos de um santo sucessor de Pedro.

Então, ensina Leão XIII, "O Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios"; mais ainda, "organizada assim, a sociedade civil, deu frutos superiores a toda expectativa" (Encíclica 'Immortale Dei').

Em certo momento, porém, vendavais revolucionários, soprados pelo inferno, começaram a percorrer a Terra. Sucederam-se as revoluções: a protestante (século XVI), a francesa (século XVIII), a comunista (século XX), demolindo partes sucessivas do magnífico edifício medieval. Hoje em dia, os ventos revolucionários se atiram com ódio multiplicado sobre o pouco que resta de civilização na sociedade, de fé nas almas e de luz da razão nos espíritos.

Neste Natal de 2000, parece que chegamos ao fim. Tudo é desolação, como após a morte de Nosso Senhor. Tudo, menos uma coisa. Após a crucifixão, restou na alma santíssima de Nossa Senhora a certeza luminosa da Ressurreição.

Essa certeza, hoje também, Ela a comunica às almas fiéis. Certeza de uma ressurreição da civilização católica, tornada ainda mais esplêndida do que foi outrora, luminosa como o foram as chagas de Cristo ressurrecto: o Reino de Maria anunciado por São Luis Maria Grignion de Montfort, profetizado em Fátima pela Virgem Santíssima. Nascerá ele também num Natal, como o do ano 800? Num Natal muito, muito próximo?

Quem viver verá, diz conhecido adágio. Poderíamos acrescentar: Quem confiar viverá.