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OS NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
Autor: d. Estevão Bettencourt
Fonte: Revista "Pergunte e Responderemos" nº 377

Em síntese: Novos Movimentos Religiosos vêm-se expandindo de modo a provocar séria reflexão da hierarquia e dos leigos católicos. Entre as causas de sua difusão, registre-se a enorme carência de soluções para os problemas de nosso tempo, carência que, em desespero de causa, leva a aceitar propostas irracionais, mágicas, falsamente reveladas. Registra-se outrossim o vazio deixado nos fiéis católicos por uma pastoral excessivamente voltada para questões sócio-políticas e econômicas.

Se, de um lado, o crescimento dos Novos Movimentos Religiosos impressiona, de outro lado não se pode esquecer que traz em seu bojo pontos muito vulneráveis, que podem ser fatores de seu próximo declínio: assim a manipulação da pessoa humana, o desrespeito à inteligência e à verdade, o fanatismo, que tem suscitado crimes e processos judiciários contra esses Movimentos...

Da parte da Igrela Católica, requer-se uma revisão de sua pastoral: mais intensa e precisa catequese para todas as idades, com ênfase nos pontos controvertidos pelos não-católlcos, a revitalização do comportamento de certos setores do Catolicismo afetados pelo secularismo, a renovação das paróquias, que se devem tornar mais aconchegantes e fraternas, celebrando uma Liturgia viva e participada (que não perca o seu caráter hierático ou sagrado).


É sempre - ou cada vez mais - atual o tema das seitas ou, melhor, dos Novos Movimentos Religiososo (NMR) que invadem as populações da América Latina e, em particular, do Brasil. Embora as estatísticas sejam difíceis, visto que há pessoas de posição religiosa ambígua, diz-se que anualmente 600.000 católicos se passam para os novos movimentos religiosos no Brasil. Com relaçao à América Latina, o Cardeal Obando y Bravo, da Nicarágua, observava no Consistório Extraordinário convocado pelo Papa para examinar o fenômeno das seitas: "Em 1900, contavam-se 50.000 pertencentes a denominações não católicas; em 1967, eram 4.000.000; em 1974, 8.000.000, e em 1985 30.000.000". Podemos dizer que em nossos dias a cifra ainda é bem maior.

O ritmo de progresso numérico das seitas mostra que nao se trata de um fenômeno passageiro, mas, sim, de algo que tende a se expandir e a se arraigar, pois:

  1. Se formam famílias não católicas, onde a fé católica já não é transmitida aos filhos;

  2. Os adultos que aderem a determinada seita, são doutrinados tão preconceituosamente contra a Igreja Católica que dificilmente voltam para ela; não raro ficam desorientados e vagos em matéria de religião e não recuperam a fé e o fervor que possam ter tido em seus anos de juventude católica.

Consideremos de perto algumas facetas da grave problemática que assim se põe. O assunto já foi abordado em PR 309/1988, pp. 67-77; 325/1989, pp. 278-283; 364/1992, pp. 386-397. Procuraremos abordá-lo acrescentando novos dados ao que já foi dito.

Antes do mais, impõe-se a procura das causas do fenômeno.

  1. AS CAUSAS DA DIFUSÃO DOS NMR

    Distingamos causas externas, ou seja, de fora da Igreja Católica, e causas internas, isto é, deficiências da ação pastoral da Igreja Católica.

    1. Causas externas

      1. Verifica-se que o homem de nossos dias é profundamente carente:

      1. Carente de bens materiais - o que o torna sujeito à fome, à doença, à migração, à baixa escolarização, ao subemprego ou ao desemprego...;

      2. Carente de bens espirituais: sentido da vida (por que ou para que viver), instrução religiosa, experiência de Deus...

      Isto tudo torna as pessoas angustiadas e inseguras. A situação se agrava pelo fato de que há muitos lares destruídos: casais separados ou mal casados, filhos que abandonam o lar, migrantes deslocados do seu ambiente familiar... Estes dados geram terrível sentimento de solidão e a expectativa de uma mão amiga que socorra a quem precisa.

      Ora a esse quadro respondem os NMR. Pregam, numa palavra, a "salvação", "salvação" que, antes do mais, toma aspectos emotivos, falando ao coração, acompanhados de mensagem "maravilhosa". Com efeito; os NMR oferecem respostas que pretendem desvendar o futuro e profetizar em nome de Deus ou resolver problemas de todo e qualquer tipo. Isto satisfaz profundamente a todo ser humano pouco crítico, na medida em que é desejoso de conhecer coisas ocultas, desvendar mistérios, aprender o que há de acontecer... ou resolver o que há de insolúvel.

      2. Os NMR oferecem outrossim aos nossos contemporâneos:

      • Calor humano em comunidades pequenas, coesas, nas quais cada indivíduo é atendido, valorizado - o que dá a impressao de proteção, segurança e recuperação às pessoas marginalizadas (como são os divorciados, os migrantes, os filhos fora do lar, a gente desempregada...);

      • Respostas simples e "sob medida" para problemas e situações complicadas;

      • Soluções "milagrosas", como curas, empregos, êxito na vida... as pessoas que tentaram os meios convencionais para atender às suas dificuldades, mas nada conseguiram, estão cansadas de lutar, desanimadas, prestes, por isto, a aceitar qualquer perspectiva nova de solução, ainda que mágica (ou talvez porque mágica). Tais pessoas estão pouco inclinadas a raciocinar ou a examinar criticamente o que lhes é proposto, porque a emotividade e o nervosismo superam o uso da razão;

      • Mensagem doutrinária proveniente de novas "revelações" do Alto, mesclada a fenômenos extraordinários (glossolalia, "profecias", transes...). O respectivo guru, pastor ou mestre é tido como "pessoa carismática", capaz de realizar prodígios. Não cultiva alta intelectualidade, mas exerce certo fascínio natural. Este fascínio confere-lhe grande autoridade; há precisamente pessoas que necessitam de ser comandadas imperiosamente, porque são indecisas, e não querem assumir a responsabilidade de seus atos;

      • Apavoramento diante de pretensas intervenções do demônio e possessão diabólica, das quais os dirigentes da seita dizem ter o poder de livrar as vítimas. A explicação de males e desgraças a partir de infestaçao do demônio é freqüente e impressiona os pacientes (estes muitas vezes são afetados por doenças nervosas crônicas e feias; já que a medicina não os pode curar, torna-se-lhes fácil crer que o exorcismo afastará o pretenso demônio provocador da praga)1;

      • Promessa de uma nova fase da história, que deverá seguir-se a uma próxima catástrofe mundial. A humanidade será renovada, o mundo será melhor. Essa "visão nova" (embora proposta sem fundamentação) atrai fortemente o público abatido pela perplexidade e a desorientação incutidas pela presente fase da história;

      • Culto impregnado de apelos às emoções e aos sentimentos, culto em que a espontaneidade de cada participante se pode exercer com liberdade. Culto no decorrer do qual milagres ou transformações são aguardados. Não se requer muito catecismo para entendê-lo ou tomar parte nele, pois nesses NMR ocorre certo anti-intelectualismo. A sugestão, consciente ou inconscientemente incutida nessa sessões de culto, desperta certa euforia, que leva as pessoas a superar vícios arraigados, como o alcoolismo e o uso de drogas;

      • Intenso proselitismo, alimentado pela convicção de que o mundo está sob a ação do Maligno e o fim dos tempos se aproxima ameaçador.

    2. Causas internas

      1. Antes do mais, registra-se a insuficiente instrução religiosa do povo católico - o que o torna indefeso diante do proselitismo dos NMR. Existe vivo senso religioso na população do Brasil, mas desvinculado do estudo ou do aprofundamento das verdades da fé. Isto é terreno fértil para o sincretismo, o ecleticismo e a própria apostasia religiosa.

      2. O número de clérigos e de agentes de pastoral bem preparados é insuficiente para formar o povo católico. A população do país vai crescendo, mas não cresce proporcionalmente o número de sacerdotes e catequistas.

      3. A excessiva preocupação com os problemas sócio-econômico-políticos na pregação tem afastado muita gente da Igreja Católica, levando os fiéis a procurar pequenos grupos que falem calorosamente (embora com pouca profundidade) de Deus Pai, de Jesus Cristo, do Espírito Santo e de seus dons...

      4. O culto católico é, às vezes, celebrado sem que se levem em conta as possibilidades de participação dos leigos. Estes se sentem passivos, "anônimos", perdidos na massa de uma grande assembléia. Este ponto é nevrálgico, pois é certo que o culto não pode perder o seu caráter hierático, reverente a Deus e, por isto, disciplinado e regrado; mas também é certo que é o culto prestado por toda a assembléia ou todo o povo de Deus presente, de modo que cada um se sinta envolvido por aquilo que é dito e feito na Liturgia sagrada.

      5. O ecumenismo ou diálogo entre irmãos separados nem sempre tem sido adequadamente cultivado. Não raro se tem caído no relativismo religioso ou em concessões indevidas, que traem a fé católica. Na verdade, é sempre mais fácil ceder ao protestantismo ou a uma nova corrente religiosa do que ser fiel ao Catolicismo, pois este é mais exigente, ao passo que as novas propostas religiosas são dadas ao subjetivismo, ao sentimento, ao livre exame da Bíblia e dos valores religiosos.

  2. PROSPECTIVAS

    Perguntamos agora: quais as conseqüências e os possíveis prognósticos que o quadro descrito nos aponta?

    1. Diálogo?

      O diálogo ou a troca de idéias com os membros dos novos grupos religiosos é, muitas vezes, impraticável, pois eles o recusam. E isto por dois motivos:

      1. Em geral, nutrem preconceitos ou mesmo ódio em relação à Igreja Católica, que eles caluniam e agridem não raro sem saber justificar o que estão dizendo;

      2. Receiam não estar à altura de um debate religioso ou teológico, visto que pouco se dão ao aprofundamento doutrinário. Os respectivos pastores ou ministros recebem formação sumária; muito enfatizam as emoções com detrimento da lógica. Por conseguinte, há pouca ou nula esperança de que, por vias racionais, se consiga conter o avanço dos NMR.

      Resta, pois, praticar a norma deixada por S. Agostinho: "Odi errores, ama errantes" (=Detesta o erro, ama aqueles que estão no erro). Esse amor aos irmãos concretizar-se-á na oração por eles e no testemunho de vida autenticamente cristã da parte dos católicos. Onde a emoção prima sobre o raciocínio, o brilho de um comportamento coerente e corajosamente fiel a Cristo e sua Igreja há de impressionar.

    2. Aspectos frágeis

      As estatísticas, de modo geral, apontam crescimento constante dos NMR, com prognósticos sombrios para o futuro do Catolicismo na América Latina ("o continente da esperança", como dizem). Realmente há motivos de sérias preocupações a propósito. Todavia não se podem esquecer os aspectos frágeis do fenômeno, aspectos que provavelmente servirão de dique ao avanço das seitas. Eis o que se pode registrar:

      1. Fanatismo mais ou menos cego

        É certo que vários dos NMR são impulsionados por atitudes patológicas: assim, uma excitaçao fanática, cega... doentia,... excitação provocada e alimentada por meios ambíguos, práticas rituais e sermões que chegam às raias da morbidez. Não são raros os casos de crimes cometidos no âmbito dos NMR em nome das respectivas crenças. Em parte, tais fatos se compreendem a partir da premissa de que muitas das pessoas que vão procurar os NMR são pessoas cansadas, desanimadas, decepcionadas pelos meios de solução convencionais ou racionais; a crise mental é exacerbada pelas proposições, não raro, aterradoras dos dirigentes das seitas.

        Há também quem julgue que o processo de iniciação em alguns dos NMR equivale a uma "lavagem de crânio": a pessoa é programada para se comportar e falar de tal ou tal maneira, de modo que deverá ser deprogramada caso venha a deixar o respectivo grupo. Se não chega a tanto, a iniciação tende a submeter cada vez mais a pessoa à autoridade do mestre ou pastor "esclarecido", sem deixar margem a senso crítico e a objeçoes. Diga-se, aliás, mais uma vez: muitos dos que aderem a um NMR querem precisamente ser dirigidos por uma autoridade absoluta, tida como "carismática", porque são inseguros e frustrados pela inclemência da vida.

        Tal estado de coisas é perigoso tanto para os indivíduos como para a sociedade. Por isto também correm processos perante tribunais civis contra a conduta de determinados grupos religiosos. Alguns Governos da Europa e o próprio Parlamento Europeu resolveram tomar medidas coibitivas; segue-se uma notícia colhida no periódico "La Documentation Catholique" nº 1878, de 15/06/1984, p. 764:

          "O Parlamento Europeu, aos 22 de maio de 1984, adotou um 'Código de Conduta Comunitária' frente às seitas na Comunidade Econômica Européia (CEE); após longos debates, 98 votos foram favoráveis ao texto, 28 contrários, ao passo que 26 votantes se abstiveram.

          A assembléia modificou levemente o Parecer apresentado sobre o assunto pelo parlamentar conservador britânico Richard Cottrell.

          Entre outras coisas, foi trocado o respectivo título a fim de denegar todo caráter autenticamente religioso às seitas. Já não se fala de 'Novos Movimentos Religiosos', mas de 'Novas Organizações que atuam sob a Cobertura da Liberdade Religiosa'. Esta troca de título tinha por objetivo tranquilizar as comunidades protestantes receosas de que se viesse a combater a liberdade de consciência.

          O Parlamento convida o Conselho dos Ministros do Interior e da Justiça da Comunidade a efetuar um 'intercâmbio de informações' sobre as seitas e as suas 'ramificações internacionais', a resolver 'eventuais problemas' por elas causados, na base dos princípios seguintes:

          • Jovens de menor idade não poderão ser obrigados a pronunciar 'votos definitivos';

          • Qualquer compromisso 'financeiro ou pessoal' só poderá ser assumido após 'um período de reflexão suficiente';

          • Após a adesao, a família e os amigos deverão poder entrar em contato com o novo membro; a estes se transmitirão os chamados telefônicos;

          • Todo cidadão gozará do direito de 'deixar livremente qualquer organização' e de consultar livremente um médico ou uma pessoa independente;

          • Não será lícito impor a quem quer que seja, 'a mendicância ou a prostituição', a título de angariar fundos.

          Mais: a comissão deverá fazer um elenco de dados relativos às perquisições judiciárias eventualmente em curso contra as seitas.

          Do seu lado, a Federação Protestante de França escreveu em fevereiro de 1984 aos Deputados Europeus, solicitando-lhes que votassem contra o projeto Cottrell. Em abril do mesmo ano, o Conselho Britânico das Igrejas escreveu-lhes no mesmo sentido. A aversão dos protestantes assim se explica: a liberdade religiosa é indivisível: torna-se difícil traçar clara linha divisória entre seita e Igreja; o aparato legislativo na Europa é suficiente para reprimir os delitos".

        Neste texto destacamos:

        • A troca do título "Novos Movimentos Religiosos" por "Novas Organizações que atuam sob a Cobertura da Liberdade Religiosa". Esta mudança visa a denegar todo significado autenticamente religioso às seitas; estas deturpam ou manipulam, muitas vezes, os valores religiosos;

        • A recusa dos protestantes, que talvez se deva ao fato de que várias das novas organizações são oriundas do protestantismo e se dizem filiadas a este.

        Pode-se crer que, na medida em que o público tomar consciência dos abusos ocorrentes nas novas organizaçoes, o número de candidatos às mesmas irá diminuindo.

      2. Desrespeito à Verdade

        Outro aspecto vulnerável das Novas Organizações (NO) é o seu caráter mais emotivo do que racional. A emoção não pode sustentar longas caminhadas, pois cedo ou tarde o homem sadio sente necessidade de dar contas a si mesmo das suas opções e da sua escala de valores. Ademais verifica-se que as NO interpretam as Escrituras a seu talante, não raro desfigurando-as - o que lhes tira toda legitimidade intelectual. Isto explica por que, entre os membros das NO, não se encontra algum intelectual de valor. Tal fato deve, aos poucos, ir limitando a propagação das NO, pois todo movimento histórico se difunde na base e na proporção da verdade que ele contém e apregoa. Cedo ou tarde toda mistificação vem à tona e provoca o repúdio da sociedade.

      3. Vida Curta

        Chama-nos a atenção o grande número e a crescente proliferação das seitas. A história, porém, ensina que as seitas nao têm vida longa. Aparecem e desaparecem, ao longo dos tempos, como insetos muito prolíferos que duram apenas alguns dias ou algumas horas.

        Também efêmera é a passagem de muitas pessoas pelas NO; entram nesses grupos e deles saem com relativa facilidade; acontece, porém, que, ao entrarem, suscitam comentários e impressionam parentes e amigos, ao passo que, ao saírem, ninguém diz coisa alguma, porque não raro se desligam aos poucos. Isto faz crer que há um aumento numérico contínuo em favor das seitas; estas parecem estar dominando o cenário.

        Eis alguns fatores que atenuam a "pujança" dos Novos Movimentos e levam a prever um enfraquecimento de sua vitalidade. Como quer que seja, a confiança e o zelo apostólico dos católicos nao se baseiam nos aspectos vulneráveis das seitas, mas, sim, na palavra do Senhor Jesus, que prometeu estar com os discípulos todos os dias até o fim dos tempos (cf. Mt 28,18-20).

        Impõe-se agora a questão:

  3. QUE FAZER?

    Sem dúvida, a situação descrita é um desafio para a Igreja, que se sente obrigada a rever sua ação pastoral. Tais são os pontos que parecem mais urgentes:

    1. Catequese

      Diz o Papa Paulo VI:

        "Nós ouvimos, no final da grande Assembléia de outubro de 1974, estas luminosas palavras: 'Queremos confirmar, uma vez mais ainda, que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja; tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgentes. Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na Santa Missa, que é o memorial da sua Morte e gloriosa Ressurreição" (Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi nº 74).

      Essa tarefa palmar da Igreja se torna mais urgente e exigente em nossos dias, quando se verifica tão débil conhecimento das verdades da fé entre os próprios fiéis católicos. A instrução religiosa deve atingir todas as idades desde a infância até a maturidade; há de propor não somente uma clara explanação dos artigos da fé, mas também a resposta às objeções que não-católicos fazem aos católicos. A Apologética, um tanto preterida nos últimos anos, impõe-se como tarefa importante, pois muitos católicos não sabem o que dizer quando são acusados de adorar imagens, de idolatrar Maria SS., de alterar o texto bíblico, etc. Esta nova catequese deve servir-se copiosamente do texto bíblico, como aliás deseja o Concílio do Vaticano II:

        "A catequese há de haurir sempre o seu conteúdo na fonte viva da Palavra de Deus, transmitida na Tradição e na Escritura, porque a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito inviolável da Palavra de Deus, confiado à lgreja, como o recordou o Concílio do Vaticano II, desejando que o ministério da palavra, que compreende a pregação pastoral, a catequese, e toda espécie de instrução cristã... com proveito se alimente e santamente se revigore com a mesma palavra da Escritura" (João Paulo II, A Catequese Hoje, nº 27, citando a Constituição Dei Verbum n°s. 10 e 24, do Concílio do Vaticano II).

      É também para desejar que a Igreja penetre mais e mais nos meios de comunicação social; cf. PR 364/1992, pp. 398-409.

    2. Coerência de comportamento

      "As palavras voam, os exemplos arrastam", diz-se popularmente. Nesta época de anti-intelectualismo religioso, toma-se particularmente persuasivo (ou dissuasivo) o tipo de vida que os católicos levam. Requer-se fidelidade a Cristo, como Ele se apresenta na Igreja por Ele fundada (cf. Mt 16, 16-19) e governada pelo sucessor de Pedro; a adesão ao magistério e às orientações do Papa é de valor capital para ilustrar a coesão e a unidade da Igreja. Em nossos dias, fala-se da "privatização da religião", inclusive entre católicos; há aqueles que crêem em Cristo, mas não freqüentam a Igreja, nem participam da sua vida, por motivos individualistas e subjetivos, que são mortíferos para a vida espiritual do cristão.

    3. "Não" ao Secularismo

      O Catolicismo se debilita pela infiltração de concepções secularistas, que tendem a reduzi-lo a um Sistema de atendimento ao homem com o apagamento do nome de Deus. O transcendental estaria incluído no imanente (paradoxo!) e não precisaria de ser explicitado. É claro que tal mentalidade é apta a desfigurar o Catolicismo e tirar-lhe a identidade. Os valores religiosos, a cosmovisão de fé, as expressões do Cristianismo hão de ser constantemente sustentadas pelos fiéis, sob perigo de trair o Cristo e o Evangelho. Numa sociedade pluralista como a nossa, o transcendental pode e deve ser nitidamente proclamado.

    4. As Paróquias

      As paróquias são as células-chaves necessárias da Igreja. Verifica-se, porém, que, com o aumento demográfico, a escassez do clero e o insuficiente comprometimento dos leigos, o estilo da paróquia tradicional já não é bastante para atender aos fiéis, em muitos lugares. A revitalização da paróquia se torna indispensável. É para desejar que se torne uma comunidade de comunidades, contendo dentro de si núcleos menores, nos quais as pessoas se sintam acolhidas fraternalmente, rezem juntas, participem da Eucaristia sempre que possível, e vivam a fraternidade cristã. Os NMR dão grande importância à vida comunitária e fraterna; é isto que atrai muitos fiéis, que não encontram a ocasião de participar de uma vida mais fraterna nas paróquias tradicionais.

    5. A Liturgia

      O anseio de participar tende a se exercer muito especialmente nas celebraçôes litúrgicas. Daí a conveniência de uma revisão do nosso modo de celebrar; seja tão aberto aos fiéis leigos quanto o permitem as rubricas (não mais, porém, do que isto). É oportuno que os fiéis católicos sejam instruídos a respeito do significado dos gestos e símbolos da Eucaristia, do Batismo, dos Sacramentos e sacramentais em geral. Orem em comum, celebrando, na medida do possível, a Liturgia das Horas, muito rica em textos bíblicos, cantos e silêncio contemplativo.

      São estas algumas sugestões que podem contribuir para responder ao premente desafio das seitas. Em cada região tomarão suas características próprias.

      Concluiremos acrescentando:

  4. A PALAVRA DO PAPA

    A Santa Sé e os Bispos de países afetados pelas seitas (também os de outros continentes o são) têm-se dedicado à consideração do assunto, valendo-se do subsídio de peritos diversos.

    O Papa João Paulo II tem-se mostrado particularmente interessado pelos fatos, tendo em vista especialmente o continente latino-americano.

    Assim a um grupo de Bispos do Peru em visita ad limina, no ano de 1988, dizia:

      "Verifico que, nos diversos países da América Latina, o problema nº 1 é, sempre mais, o problema das seitas...

      Este assunto deve constituir um motivo suplementar de zelo pastoral, que nos leve a organizar e pôr em prática uma ação evangelizadora, para a qual precisamos de agentes de Pastoral devidamente formados e impregnados de grande espírito apostólico".

    O Santo Padre insiste na necessidade de uma catequese renovada e mais penetrante, a fim de consolidar a fé dos fiéis católicos, tão exposta às invectivas de pregadores de fora:

    A Catequese deverá ser "um objeto prioritário nos planos orgânicos da Pastoral voltada para o futuro" (aos Bispos de El Salvador em 1984).

    Aos Bispos do México em 1982 dizia o Pontífice:

      "A formação cristã mediante a catequese levará a uma participação mais ativa na vida litúrgica e sacramental da Igreja. Assim o povo simples encontrará na Liturgia e na piedade popular motivações para dar contas de sua fé. Desta maneira a atividade proselitista das seitas poderá encontrar um freio que contenha as ambigüidades e as confusões que elas disseminam" (Discurso em Veracruz).

    O Papa lançou outrossim um apelo ao povo mexicano, valendo-se do amor desse povo à Virgem de Guadalupe, e levando em consideração especial aqueles que se deixaram atrair pelas seitas:

      "Quisera encontrar-vos um por um para dizer-vos: 'Voltai ao seio da Igrejá, nossa Mãe! A Virgem de Guadalupe... não vos pode enganar. Ela sempre esteve ao vosso lado, em todas as cfrcunstâncias da vossa vida; e ela vos escutou em todas as vossas necessidades. Talvez, como aconteceu a Juan Diego, preocupações espirituais e materiais vos tenham levado a furtar-vos a um encontro com a Santíssima Virgem e a vos afastar dela. Talvez tenhais julgado também que, para atingir o bem-estar econômico, era preciso deixar de lado a fé católica. A estes motivos poder-se-iam acrescentar outros muitos, como o de vos sentirdes mais acolhidos num pequeno grupo de pessoas que se conhecem mutuamente e que se aludam umas às outras. Por isto eu vos convido calorosamente a considerar isso tudo diante da Virgem de Guadalupe. E a sentir que, como ela fez em favor de Juan Diego, ela vos ajudará em todas as vossas solicitudes e angústias, dizendo-vos hoje mais uma vez: 'Não estou aqui eu, tua Mãe?'. Por conseguinte, voltai sem medo! A Igreia vos espera de braços abertos, para que encontreis de novo o Cristo. Nada alegraria tanto o coração do Papa, durante esta viagem pastoral ao México, do que o retorno, à Igreia, de todos os que se afastaram".

    Não faltam, pois, incentivos a uma tomada de posição coerente diante do fenômeno dos NMR. Possam os "sinais do tempo" calar fundo no ânimo da hierarquia e do laicato católicos, provocando a esperada resposta!


1Ao dizer isto, não tencionamos negar nem a existência nem a ação do demônio no mundo. Apenas nos referimos à falsa tendência de explicar todas as desgraças como efeitos da ação ou infestação direta do Malígno.