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O PAPA ALEXANDRE VI (1492-1503)
Autor: d. Estevão Bettencourt
Fonte: Revista "Pergunte e Responderemos"
Transmissão: José Augusto

O Papa Alexandre VI é figura pouco feliz no conjunto dos Papas, visto que levou conduta de vida devassa mesmo depois de eleito Pontífice. Se, de um lado, se deve reconhecer isto, doutro lado é preciso observar que não promulgou um só decreto que contrariasse à fé e aos bons costumes. O ouro de Deus passou intacto por mãos sujas; não foi contaminado - o que atesta a providencial assistência do Senhor Jesus à sua Igreja. - É de notar ainda que os historiadores têm acentuado exageradamente os pontos sombrios da conduta de Alexandre VI como também os de sua filha Lucrécia Borgia.

A sinceridade manda que se reconheçam as enormes falhas morais do Papa Alexandre VI (1492-1503), embora seja notório que os historiadores carregaram exageradamente as tintas do respectivo quadro. A fim de conceber uma noção objetiva e fiel do Papado de Alexandre VI, é oportuno, antes do mais, reconstituir o contexto histórico em que viveu tal Papa.

1. O Contexto Histórico

Tenha a palavra o historiador Carlos Castiglioni, Doutor da Biblioteca Ambrosiana, em sua obra Historia de ]os Papas', tomo II p. 1738: "Alexandre VI foi o produto natural da época em que viveu, e o expoente da sociedade que o elevou ao cume supremo. As cortes da época, em vez de encontrar motivos de escândalo na corte de Alexandre VI, viram nesta aspectos admiráveis. Infelizmente o escândalo e a indignação só podiam ter lugar naqueles personagens de escol que a corrupção pagã do Humanismo não havia depravado.

O paganismo triunfante naquele século subiu até os escalões mais elevados da sociedade; galgou os tronos e até mesmo a cátedra de São Pedro... No fim do século XV e no começo do século XVI as mentes humanos foram transtornadas por um perigoso sofisma: fizeram do bem e da beleza uma só coisa; em conseqüência aceitavam, sem a mínima restrição, tudo o que apresentasse uma bela forma estética ou artística. A religião, com suas faustosas cerimônias, foi reduzida a uma bela formalidade; os templos passaram a ser considerados monumentos de arte, carentes de sagrada inspiração. O delito e o vício já não causavam horror, porque se apresentavam cercados de cultura e de encanto. Na política, todo o direito repousava sobre a força. Todas as leis, divinas e humanas, eram sacrificadas ao êxito. O desprezo da vida tomou o caráter de cinismo, o adultério era uma aventura de família; as cortes dos príncipes estavam cheias de filhos bastardos e ilegítimos; podia mesmo acontecer que os bastardos e os ilegítimos suplantassem os filhos legítimos nas dinastias reinantes... Naquela época o Papado tomou o aspecto de um Principado civil".

Estas observações podem parecer exageradas. Todavia dão a ver o pano de fundo ao qual sobreveio a figura do Papa Alexandre VI. O chamado "Renascimento" levou os eruditos da época a descobrir os textos clássicos das literaturas grega e latina; muitas obras desentulhadas despertaram nos seus leitores o desejo de conduzir-se à moda dos homens e das mulheres da sociedade pré-cristã, isentos da austera orientação do Cristianismo; o ideal era viver segundo a natureza e seus impulsos espontâneos; renasceu assim a mentalidade pagã com seus costumes devassos, criando um clima de euforia, que pretendia exaltar o humano (donde Humanismo). Tal ambiente relativizava as categorias da Moral cristã.

2. Eleição e traços biográficos de Alexandre VI