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Prezado dr. DeVries,
Li sua página na Internet e senti a necessidade de respondê-la. Eu era um
Protestante evangélico (Batista) e converti-me ao Catolicismo; assim, dentro
do espírito da caridade cristã, venho dizer-lhe que o senhor não possui
real compreensão da Igreja Católica ou das doutrinas que esta ensina. Nenhuma
das sete diferenças apontadas pelo senhor entre o Catolicismo e os "Cristãos
da Bíblia" reflete os reais ensinamentos da Igreja Católica. O que o senhor
atacou não é a Igreja Católica como ela realmente é, mas uma caricatura dela.
Provarei isso citando as relevantes seções do Catecismo da Igreja Católica
(CIC), que é um escrito de autoridade.
1. OS CATÓLICOS PREGAM UM EVANGELHO FALSO
O senhor escreveu que a Bíblia ensina que fomos salvos pela graça através da
fé e não pelas obras, mas que o Catolicismo nega isso. Isso é falso. Conforme
a Igreja Católica, "a justificação nos foi merecida pela paixão de Cristo,
que se ofereceu na cruz como hóstia viva, santa e agradável a Deus, e cujo
sangue se tornou instrumento de propiciação pelos pecados de toda a humanidade...
Nossa justificação vem da graça de Deus... Esta vocação para a vida eterna é
sobrenatural. Depende integralmente da iniciativa gratuita de Deus, pois
apenas ele pode se revelar e dar-se a si mesmo... Ninguém pode merecer a
graça primeira, na origem da conversão, do perdão e da justificação"
(CIC 1992, 1998, 2010). O Concílio de Trento, reunido em resposta a Reforma
Protestante, declarou o mesmo: "também se diz que somos salvos pela graça pois nenhuma
das coisas que precedem à salvação, seja a fé ou sejam as obras, merece a graça da salvação
porque se é graça, não provém das obras, ou como diz o Apóstolo, a graça não seria graça"
(Decreto sobre a Justificação, de 13.01.1547, [cap. VIII]).
2. OS CATÓLICOS CRÊEM NA SALVAÇÃO ANTERIOR AO ARREPENDIMENTO
O senhor declara que a Bíblia está em "firme oposição à doutrina da regeneração
pelo Batismo". Como, então, o senhor explica o fato de que esta doutrina é
ensinada não apenas pela Igreja Católica, mas também pelas Igrejas Ortodoxas
Orientais e também pela maioria das [Igrejas] Protestantes? Se a sua doutrina
é conforme o Evangelho, como o senhor explica o fato de que ninguém acreditava
nela antes da Reforma? Acaso o senhor já leu os escritos dos primeiros cristãos?
Seus escritos, mais que quaisquer outros, convenceram-me que a Igreja primitiva
era Católica, e não Protestante. Entre outras coisas, eles são bem enfáticos
na crença de "um só Batismo para a remissão dos pecados" (Credo de Nicéia).
Porém, esta doutrina não é tão má quanto o senhor pensa. No caso de adultos,
o arrependimento é sempre necessário para que o seu Batismo seja lícito. E se
algum pecador não-arrependido for ilicitamente batizado, a Igreja Católica ensina
que ele não receberá os frutos do Batismo (regeneração e remissão dos pecados).
Não há remissão [dos pecados] sem arrependimento, nem mesmo na Igreja Católica.
"Não existe ninguém, por mau ou culpado que seja, que não deva esperar com
segurança o seu perdão, desde que o seu arrependimento seja sincero" (CIC 982).
Posso perguntar o que o senhor pensa que acontece com as crianças que morrem
antes de atingirem a idade da razão? Em minha igreja Batista era comum dizer
que todas essas crianças seriam salvas porque Jesus disse que o Reino dos Céus
a elas pertencia (cf. Mat. 19,14). Portanto, embora digamos que a fé e o
arrependimento são necessários para os adultos, sentimos que Deus faz abre uma
exceção no caso das crianças. A Igreja Católica (e quase todas as demais igrejas
também) admitem essa mesma exceção; logo, não consigo compreender a base de
sua objeção para essa prática. Lembre-se também que a Igreja Católica, bem
como as Igrejas Ortodoxas Orientais e muitas Igrejas Protestantes, crêem
que é possível perder a salvação [depois do Batismo]. Desta forma, se uma
criança batizada cresce, se transforma num pecador e não se arrepende [dos
seus pecados], certamente não será salvo. Deus não pode ser ridicularizado,
nem pode ser "manipulado" para conceder a salvação para um pecador
não-arrependido.
3. OS CATÓLICOS DEPRECIAM NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
O senhor parece estar dizendo aqui que, em razão de existir "um só Deus e
mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus", ninguém mais poderia
servir como mediador entre Deus e o homem, nem mesmo em sentido secundário.
Assim sendo, permita-me formular esta questão: o senhor intercede a Deus em
benefício de seus irmãos e irmãs? O senhor pede a estes para que intercedam
pelo senhor? Em caso positivo, não estaria o senhor agindo como mediador
entre eles e Deus? E não estariam eles agindo como mediadores entre o senhor
e Deus? Obviamente que sim! A oração intercessória, na qual um cristão se põe
perante Deus em benefício de outro(s), é a melhor definição de "mediador".
Verifique bem os versículos imediatamente precedentes àquele que o senhor
citou: "Exorto, pois, antes de tudo, que se façam súplicas, intercessões
e ações de graças por todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem
autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e sossegada, em toda piedade e
honestidade. Pois isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, o qual
deseja que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade"
(1Tim. 2,1-4). Deus ordena que todos nós, cristãos, sejamos mediadores. Por quê?
Porque "há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus
homem" (1Tim. 2,5). Jesus é o único mediador da Nova Aliaça; assim, nossa
mediação em benefício dos nossos irmãos e irmãs depende inteiramente da dele.
Ao dizer que "toda vez que a Missa é realizada, eles (=os católicos)
cerimonialmente recrucificam nosso Salvador", o senhor cai num erro
comum, mas elementar: este não é o ensinamento da Igreja Católica. Ao contrário,
a Igreja ensina que "Cristo, nosso Deus e Senhor, ofereceu-se a si mesmo a
Deus Pai uma vez por todas, morrendo como intercessor sobre o altar da cruz,
a fim de realizar por eles (os homens) uma redenção eterna. Todavia, como a
sua morte não devia pôr fim ao seu sacerdócio [Heb. 7,24.27], na Última Ceia,
'na noite em que foi entregue' [1Cor 11,13], quis deixar à Igreja, sua esposa
muito amada, um sacrifício visível (como o reclama a natureza humana) em que
seria re-presentado (feito presente) o sacrifício cruento que ia realizar-se
uma vez por todas uma única vez na cruz, sacrifício este cuja memória haveria
de perpetuar-se até ao fim dos séculos [1Cor 11,23]" (CIC 1366). Portanto,
Cristo não é cerimonialmente recrucificado na Missa; Ele foi crucificado uma
vez por todas no Calvário.
Também a sua charge de que realizamos um "canibalismo religioso" se volta
contra o senhor, já que me encoraja a recordá-lo que no segundo século os
pagãos fizeram essa mesma acusação contra a Igreja primitiva. Tertuliano e
Minúcio Félix dedicaram muitas de suas obras para refutar essa charge do
"canibalismo". Isto demonstra que a Igreja primitiva, possuindo a memória
viva dos Apóstolos, também acreditava na transubstanciação, como poderia o
senhor saber se lesse essas obras. Darei ao senhor um exemplo, livre de qualquer
charge: assim escreveu Inácio de Antioquia: "Observem aqueles que têm
opiniões heterodoxas sobre a graça de Jesus Cristo que veio até nós e notem
como suas opiniões são contrárias à mentalidade de Deus... Eles se abstêm
da Eucaristia e da oração porque não confessam que a Eucaristia é a carne de
Nosso Salvador Jesus Cristo, carne esta que sofreu pelos nossos pecados e que,
pela bondade do Pai, foi novamente erguida. Eles, que negam o dom de Deus,
estão perecendo em suas próprias disputas" (Epístola aos Romanos; 110
dC). Inácio foi discípulo pessoal de João, o "discípulo que Jesus amava".
Ele aprendeu sobre a Eucaristia diretamente da boca do homem que disse que
Jesus afirmara "a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é
verdadeiramente bebida" (Jo. 6,55). O senhor realmente acha que João (e
os demais apóstolos) eram mestres incompetentes de maneira a não serem
capazes de explicar algo tão simples quanto uma Ceia memorial simbólica?
Talvez sim, porque a interpretação simbólica que o senhor advoga nunca foi
ensinada a não ser mais de mil anos depois de Cristo (já que foi Berengério
de Tours, falecido em 1088 dC, o primeiro cristão conhecido a defender tal
entendimento).
4. OS CATÓLICOS IGUALAM O PAPA A DEUS
Esta afirmação certamente causaria grande surpresa ao Papa! A Igreja Católica
ensina que ninguém é igual a Deus. Ao contrário, a Igreja ensina que "a fé
cristã é diferente da fé em uma pessoa humana. É justo e bom entregar-se
totalmente a Deus e crer absolutamente o que Ele diz. Seria vão e falso
colocar tal fé em uma criatura" (CIC 150). Para declarar que o Papa não tem
pecados, temo que o senhor tenha confundido "infalibilidade" (ausência de erro)
com "impecabilidade" (ausência de pecado). O Papa é um pecador salvo pela
graça, como o senhor e eu também somos. Certamente ele não é uma pessoa sem
pecados, e a Igreja também não afirma isso. Com efeito, existiu um pequeno
número de Papas (durante a Renascença) que estava tão ocupada com luxúria
que mal tinham tempo a dedicar para a Igreja! Atualmente somos abençoados
por ter um Papa muito bom e de moral irrepreensível, mas a teologia católica
não garante que todo aquele que vem a ser eleito Papa também o seja.
Por outro lado, o conceito de infalibilidade não significa que tudo aquilo
que o Papa diz seja Palavra de Deus. A maioria dos pronunciamentos dos Papas
são tão falíveis quanto os seus e os meus. Contudo, a Igreja crê que quando
o Papa, em sua capacidade oficial, faz uma declaração a respeito de fé ou
moral, obrigando toda a Igreja, o Espírito Santo o previne de ensinar qualquer
erro. Tais declarações, porém, são extremamente raras; a maioria dos Papas
jamais fez esse tipo de declaração. Além disso, o Papa está atado ao ensino
dos 2000 anos anteriores da Igreja (o que inclui o que está escrito na Bíblia);
ele não pode ir em sentido contrário. Nenhum papa jamais contradisse a Palavra
de Deus escrita. Jamais.
5. OS CATÓLICOS ADORAM ÍDOLOS
Isto é ridículo. Os católicos adoram o Deus Uno e Trino (Pai e Filho e Espírito Santo)
e somente Ele. O senhor parece não conhecer a diferença entre "adoração" e
"veneração". Os católicos veneram (guardam respeito) as imagens de Jesus,
por exemplo, exatamente da mesma forma quanto uma pessoa patriota venera
(guarda respeito) a bandeira de seu país. A bandeira é tão somente um pedaço
de pano colorido, mas nós a veneramos por aquilo que ela representa. Do
mesmo modo, uma imagem de Jesus é apenas gesso e tinta, mas nós a veneramos
por causa Daquele a quem ela representa. Um católico não "adora" mais a
imagem de Jesus do que um cidadão "adora" a bandeira de seu país.
6. A IGREJA CATÓLICA ESCRAVIZA E É HOMICIDA
O senhor disse: "A Igreja Católica sempre desencorajou seus membros de
ler a Bíblia". De onde o senhor tirou essa idéia? Ao contrário, a Igreja
Católica sempre encorajou a leitura da Bíblia:
O senhor ainda escreveu: "Durante a Idade das Trevas, a Igreja Católica derramou o
sangue de aproximadamente 68 milhões de Batistas, na tentativa de evitar que
a Bíblia fosse posta nas mãos das pessoas comuns". De onde o senhor
retira tais fatos? Primeiro, não havia Batistas na Idade das Trevas, já que
a denominação Batista não existia antes de sua fundação em Amsterdã, em 1607.
Como pode, então, o senhor alegar que a Igreja Católica assassinou 68 milhões (?!)
de supostos Batistas? Que evidências teria o senhor para suportar tão
selvagem acusação? O senhor acusou a Igreja Católica de genocídio e crimes
contra a humanidade! Espero que, por amor a si mesmo, consiga o senhor provar
tamanha calúnia, pois Deus certamente pedirá satisfações a respeito.
7. O CATOLICISMO NEGA A INSPIRAÇÃO E A AUTORIDADE DA BÍBLIA
Que dureza, hein! Eis o que a Igreja Católica realmente ensina sobre a "inspiração
e autoridade da Escritura: "Os livros inspirados ensinam a verdade.
'Portanto, já que tudo o que os autores inspirados ou os hagiógrafos afirmam,
deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, deve-se professar que os
livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que
Deus em vista da nossa salvação quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras'"
(CIC 107).
O senhor escreveu: "Em 300 dC, nossos antepassados Batistas decidiram
viver nas cavernas ao invés de submeter suas igrejas a Roma". Com todo o
respeito, senhor, sua compreensão de História da Igreja é pura fantasia.
O primeiro Batista não viu a luz do dia até 1307 anos depois de 300 dC!
Estou seguro de que o senhor não é capaz de mostrar a continuação histórica
de sua denominação até os tempos de Cristo, simplesmente pelo fato de que
não tem como fazê-lo. A igreja Batista só existia antes de 1607 na sua
imaginação. Quem são estes supostos Batistas dos tempos primitivos? Quais eram
os seus nomes? Onde estão os seus escritos? Por favor, não me diga que a
Igreja Católica destruiu seus escritos e suprimiu toda memória deles (se
isto fosse verdade, como o senhor ficou sabendo disso?). Os escritos dos
antigos hereges (Arianos, Monofisitas, Nestorianos, Docetistas etc.) chegaram
até nossos dias. Poderia o senhor afirmar que a Igreja Católica sumiu
apenas com os escritos desses míticos Batistas primitivos e permitiu que
os escritos de todos os outros hereges sobrevivessem até nós? Talvez seja este o
pensamento desejado, mas é pura fantasia.
Finalmente, o senhor escreve: "Eu poderia escrever um livro inteiro explicando
que o Catolicismo não é cristão". Eu aposto como o senhor realmente pode, mas tão
somente porque os seus "fatos" não têm base na realidade. O que o senhor faz
é criar um espantalho, uma caricatura da Igreja Católica, preenchido com
doutrinas ridículas que a Igreja realmente não ensina. É lógico que esse seu
espantalho não pode ser considerado cristão, da mesma forma como também não
é o Catolicismo. Eu o convido, senhor, a aprender o que a Igreja Católica
diz de suas próprias doutrinas e, então, tente o senhor provar que estas
doutrinas não são realmente cristãs. Eu mesmo tentei fazê-lo e não consegui;
essa é a razão porque abandonei o Protestantismo. Descobri que não apenas as
doutrinas católicas estavam em harmonia com a Bíblia, como também essas
doutrinas eram as mesmas da primitiva Igreja, como está evidenciado
nos escritos das pessoas que pertenciam à Igreja primitiva.
Suponho que o senhor, de boa-fé, está tentando conduzir as pessoas
àquilo que o senhor acha que é verdade; que Deus o abençoe para isso.
Quanto a mim, fico pedindo a Deus para que Ele o conduza à Verdade plena do
Cristianismo bíblico, a qual só pode ser encontrada na Igreja Católica. Que
Deus o abençoe!
Finalmente, o Catecismo da Igreja Católica declara: "A Igreja 'exorta com
veemência e de modo peculiar todos os fiéis cristãos... a que, pela freqüente
leitura das divinas Escrituras, aprendam «a eminente ciência de Jesus Cristo»
[Fil. 3,8]. «Porquanto ignorar as Escrituras é ignorar Cristo»' [S.
Jerônimo]" (CIC 133).
*Resposta ao Site "Estamos Sendo Conduzidos a Roma?"
do dr. Ed DeVries.