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Tive a honra de ser chamado aqui, nesta comunidade, para dar uma palestra sobre
os Santos, sobre os Santos e suas imagens.
Muita gente, iludida por falsos pastores, faz uma enorme confusão acerca do
que realmente é um Santo. Houve até um caso, que chega a ser engraçado, de
um protestante que me escreveu dizendo que "uma nova imagem estava sendo
adorada", referindo-se à canonização de um Santo.
Podemos, porém, dizer que, de uma certa forma, os Santos são imagens. Não,
eles não são imagens esculpidas, eles não são pinturas, medalhas nem bonequinhos.
Eles são imagens de Deus. Como assim?
Quando Moisés encontrou-se com Deus, ele perguntou-Lhe: "Qual o Seu
Nome?". "Deus disse a Moisés: 'Eu Sou O Que Sou." (Ex 3,13-14). Deus é;
acima de tudo, Deus é. O que quer dizer isso? Isso quer dizer que tudo o
que nós somos - eu sou o Carlos, isto é uma mesa, uma cadeira, um
microfone... - só é por causa de Deus.
Se não fosse Deus, eu não seria. Não é como dizer que eu morreria; não, eu
nunca teria existido. Assim, a minha própria existência, o fato de eu ser
eu, o fato de eu simplesmente ser, de eu existir, depende da existência de
Deus. Se Deus parasse de prestar atenção por um segundo que fosse, se Deus
não nos mantivesse existindo, nada seria. Tudo desapareceria, tudo jamais teria
existido.
Meu filho de três anos de idade estava outro dia comigo na rua em que eu e
minha esposa morávamos antes de nos casarmos. Mostrei a ele: eu morava
aqui, e ela morava ali. Ele então perguntou: "e eu, morava onde?".
Disse-lhe que ele não morava em lugar nenhum; ele ainda não existia. Ele
então, sem entender, perguntou-me se ele havia morrido. Disse-lhe eu então
que ele não havia morrido; ele simplesmente ainda não existia, como não existia
uma semana antes a flor que nascera na véspera no vaso que sua mãe
plantou. Ele era apenas uma idéia, uma intenção de criar na mente divina.
Quando eu e sua mãe nos casamos, fizemos a nossa parte: o corpo dele. Deus
deu-lhe então uma alma fresquinha, recém-criada. Antes disso, ele não
existia.
Do mesmo modo, se não fosse por Deus, que é o Único que existe por Si só,
nenhum de nós existiria. Nossa existência é dependente da existência de
Deus, como um reflexo em um espelho é dependente da coisa que é refletida.
Deus, além de ser AQUELE QUE É, além de ser o Único que tem existência por
Si só, é também o Bem em Si. Todo Bem que existe é um reflexo do Bem em
Si, que é Deus. O mal não existe. O mal não tem existência, o mal não é.
Assim como não existe o frio, que é a ausência de calor, assim como não
existe a escuridão, que é a ausência de luz, não existe o mal, que nada mais
é que a ausência do Bem, que é Deus.
Todos nós temos um casal de antepassados comuns: Adão e Eva. Eles cometeram
um pecado gravíssimo, que chamamos de Pecado Original. O que é o Pecado
Original? Uma dica, desde já: não tem nada a ver com sexo, não tem nada a
ver com maçãs...
O Pecado Original foi um pecado de desobediência. Deus proibiu a Adão e a
Eva que comessem da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, ou seja,
proibiu que eles quisessem determinar por conta própria o que é Bom e o que
é Mau. Devido a este pecado, a morte entrou no mundo. A ausência de bem
enraizou-se em nós, criou fortes raízes no corpo de todos os descendentes de
Adão - nós - atingindo-lhes também a alma. É por causa do Pecado Original
que nós ficamos doentes, é por causa do Pecado Original que nós morremos,
é por causa do Pecado Original que - o que é mais importante, pois afeta o
nosso destino eterno - nós pecamos.
Por causa deste Pecado Original, a nossa vontade passou a não obedecer mais
à nossa Razão. A cabeça não manda na vontade. Antes do Pecado Original, a
vontade estava submissa à Razão; agora, ela desobedece. É por isso que
temos tentações, é por isso que por vezes é dificílimo fazer a coisa certa.
Se vem uma moça linda querendo fazer pouca-vergonha comigo, a minha razão
diz que não devo nem posso aceitar, mas a minha vontade não lhe obedece.
Eu preciso fazer um esforço consciente e grande para conseguir submeter a
vontade à Razão, e não cair em tentação.
Aí entra a Graça de Deus. Deus nos dá Sua graça para que possamos resistir às
tentações. A Graça é, fazendo uma comparação que deixa bastante a desejar,
como a gasolina que impulsiona o motor, como a eletricidade que o faz girar
e dar partida. Se não fosse a graça de Deus, eu nunca conseguiria, você
nunca conseguiria, nenhum de nós jamais conseguiria resistir a tentação
alguma. É só pela graça de Deus que podemos resistir às tentações; é só
pela Graça de Deus que podemos fazer a coisa certa e não a coisa errada,
que podemos fazer com que a razão vença a vontade.
É porém necessário que nós aceitemos esta Graça que Deus nos dá gratuitamente
("de graça"...). A Graça está sempre à disposição; Deus não manda a tentação
sem nos mandar também a graça. Muitíssimas pessoas, porém - na verdade a
maior parte das pessoas - não aceitam estas graças que Deus dá de agir
corretamente, de fazer o ato correto - estas são as chamadas "graças atuais",
graças de agir corretamente -, e caem na tentação. Caindo na tentação, elas
pecam, elas desobedecem a Deus. E então fica mais e mais fácil pecar. É
muito mais fácil para um ladrão, que rouba todos os dias, matar alguém que
para uma freirinha contemplativa, que passa os dias em oração sem jamais
cometer pecado grave. O pecado nos torna surdos para a graça de Deus, o
pecado faz com que a gente não se aperceba da graça de Deus que está à
nossa disposição. É por isso que devemos nos confessar freqüentemente, é por
isso que devemos sempre procurar usar o "cotonete espiritual" da oração, da
penitência e da caridade para limpar nossos "ouvidos da alma" para ouvir e
perceber a graça que Deus nos dá.
Pelo Batismo, nós nos tornamos filhos adotivos de Deus e recebemos d'Ele a
chamada Graça Santificante, a graça que não apenas nos ajuda a fazer a
coisa certa - como a graça atual - mas nos santifica realmente, nos torna
pessoas melhores. Pelo pecado mortal - ou seja, pelo pecado que é cometido
deliberadamente, que é cometido conscientemente, em matéria grave - que
cometemos após o Batismo, nós perdemos esta Graça Santificante. Pelo
Sacramento da Reconciliação - a Confissão - nós recebemos de volta esta
graça. Pela recepção do Santíssimo Sacramento - a Comunhão - nós aumentamos
esta Graça.
Se no momento de nossa morte nós tivermos a Graça Santificante, se nós
tivermos quando batermos as botas esta Vida - que é a Graça - que Deus nos
dá, nós estaremos salvos. Se, pelo contrário, morrermos em nossos pecados,
morrermos sem que tenhamos recebido de volta esta Graça Santificante, e
vamos cair sentados no tridente do Capeta e lá permanecer por toda a
eternidade. Trata-se de uma escolha que Deus permite que façamos: aceitar
Sua Graça e ir para o Céu, ou trocá-la pelo prazer do proibido, trocá-la
pelo pecado, pelo sexo, pelo dinheiro, e irmos para o Inferno.
O que são, portanto, os Santos? Os Santos são aqueles que aceitaram esta
Graça, e foram para o Céu. Esta graça santificante os fez cada vez mais
conformes a Deus, fez com que moldassem suas vontades, com o auxílio da
Graça de Deus, cada vez mais à vontade de Deus. É por isso que eu pude
dizer que os Santos são como imagens de Deus. Não são, evidentemente, nem
poderiam jamais ser, imagens completas de Deus. Eles são como reflexos de
um aspecto do Bem Supremo que é Deus. São Francisco, com o amor de Deus
pela pobreza; São Jerônimo, com o amor de Deus pela Verdade; São Tomás de
Aquino, com o amor de Deus pelo estudo; Santa Filomena, com o amor de Deus
pela castidade...
Cada um deles reflete um aspecto do Bem infinito que é Deus. É este o
significado da figura da rosácea que vemos em muitas igrejas antigas: o
centro, de onde saem raios para todos os lados, é Deus; os raios são Sua
Graça; os extremos, onde os raios tocam, são Seus Santos. Temos um Santo Rei
e guerreiro como São Luís em uma ponta da rosácea, e na ponta oposta temos
uma alma pequenina e bela como aquela que os americanos chamam de "little
flower", "florzinha": Santa Terezinha do Menino Jesus. Ambos refletem, de
uma certa maneira, o Bem Supremo que é Deus. Ambos são, cada qual a seu
modo, uma imagem de Deus.
Eles nos mostram - a nós que ainda estamos aqui na Terra brigando para
fazer com que nossas vontades erradas, nossa tendência para o pecado, sejam
vencidas pela Graça - qual é o caminho. Eles nos mostram que é possível para
nós também sermos, como nos pede o Senhor, "Santos como o Pai é Santo".
Além disso, além deles serem para nós exemplos a seguir - pois eles, tal
como nós, são seres humanos que sofreram tentações; eles, tal como nós,
dependeram e dependem ainda de Deus e da Graça de Deus para existir; eles,
tal como nós esperamos conseguir, pela graça de Deus conseguiram vencer as
tentações e chegar ao Céu... Além disso tudo, eles são também algo
muitíssimo importante: eles são nossa família.
Se algum de vocês entrar em uma enrascada formidável, em uma roubada mãe,
daquelas de contar chorando trinta anos depois, a quem vai recorrer? Aos
amigos? Talvez. À família? Certamente. É com nossa família, nossa mãe,
nossos irmãos, que devemos sempre contar. Somos todos irmãos em Cristo.
Nós, os Santos, as Almas no Purgatório, somos todos nós irmãos em Cristo.
Como irmãos, temos todos também a mesmíssima Mãe: Aquela que na Cruz o
Senhor nos deu por Mãe: Sua Mãe Puríssima, a Santíssima Virgem Maria, de
quem diz a Escritura: "Todas as gerações chamarão de Bendita".
Imaginem a cena: Nosso Senhor Jesus Cristo, pendurado na Cruz, com pregos
dolorosos passando através de Suas Mãos e Seus Pés, com feridas crudelíssimas
causadas pelas chicotadas e pontapés que recebeu, com uma coroa de espinhos
a furar-Lhe o couro cabeludo, com chagas horríveis causadas pelo atrito da
pesada Cruz que carregou pelas ruas estreitas de Jerusalém, subindo,
sempre subindo, até o Monte Calvário... Ele, então, reúne Seu fôlego que já
Lhe faltava e, dirigindo-Se à Sua Mãe, disse-lhe: "Eis aí o teu filho";
depois, dirigindo-Se ao discípulo que Ele amava - São João -, disse-lhe: "Eis
aí a tua Mãe'. E, desta hora por diante, a levou o discípulo para sua casa" (Jo 19,26-27).
Será que por um segundo que fosse daria para acreditar que Ele usou este
momento para resolver questões de economia doméstica: "Olha, João, toma
conta da velhinha, tá?"? Será que alguém com a cabeça firmemente presa
nos ombros teria a idéia de jerico de acreditar, por um milionésimo de
segundo que fosse, que estas duas frases: "Eis aí o teu filho"; "Eis aí
a tua Mãe" não fossem importantíssimas, cruciais para todos nós? Seria
alguém imbecil a ponto de acreditar que Nosso Senhor, pendurado agonizante
na Cruz, diria palavras que não fossem importantes para toda a humanidade,
para todos os que viriam a seguir e O seguiriam? Não creio. Seria estupidez
demais.
Ela, portanto, a Virgem Santíssima, é nossa Mãe. Os outros Santos são
nossos irmãos. Eles, todos juntos, são nossa família. E, como família nossa
que são, eles nos amam e nos ajudam. Assim como José acolheu (Gn 45) seus
irmãos que queriam matá-lo e acabaram por vendê-lo como escravo (Gn 37),
nossa família, os Santos, nos acolhe sempre e nos procura conduzir de volta
para a Casa do Pai.
Esta belíssima Verdade tem um nome, e todo domingo afirmamos a nossa
crença nela: ela se chama a Comunhão dos Santos. Esta Comunhão dos Santos é
algo em que ingressamos pelo Batismo, é a união em Deus de todos os que
estão em Sua graça. Voltando à rosácea: do Centro, que é Deus, saem raios,
que são a Graça de Deus, para as extremidades, os Santos. Notem que de um
Santo para outro, o que une é Deus. É de Deus que vem a Graça que os une, e
é em Deus que eles estão unidos. Assim, eu sou irmão de cada um de vocês,
sou irmão de todos os Santos no Céu e de todas as Almas no Purgatório, mas
não sou irmão diretamente. Sou irmão em Deus, sou irmão em Cristo. É por
Nosso Senhor Jesus Cristo que temos este laço de irmandade a nos unir.
Quando eu morrer - queira Deus que em Sua Graça! - não sairei da Comunhão
dos Santos. Pelo contrário; sem ter mais que me preocupar com tentações,
com vontades desordenadas, com, em suma, esta luta que aqui combatemos contra
o mal, que é a ausência de Bem, eu estarei completamente tranqüilo em Deus.
Isto não significa, porém, nem pode significar, que eu estarei separado do
resto de minha família em Cristo. O que une esta família é Deus. Estando
face-a-face com Deus, estamos ainda mais próximos de toda a nossa família divina,
estamos ainda mais próximos de todos aqueles com quem em Deus estamos
unidos.
Na Sagrada Escritura, vemos como os Santos no Céu se ocupam: eles rezam. É
bastante evidente, afinal. Eles estão diante de Deus, não têm mais nenhum problema
material... O que haveria de melhor a fazer que não rezar, estando nestas
condições tão ideais para isso?! Vemos no livro do Apocalipse 6,10 uma
multidão de Santos mártires clamando a Deus para que faça justiça na Terra.
Vemos em Apocalipse 8,3-4 que as orações dos Santos sobem a Deus como
fumaça de incenso. Vemos em Apocalipse 7,15 que os Santos servem a Deus
noite e dia no Seu templo, diante do Trono do Cordeiro...
São Paulo também, em sua Epístola aos Hebreus, nos mostra a preocupação com
que estes Santos acompanham a nossa vida aqui na Terra. Em todo o capítulo 11,
ele faz uma lista de Santos do Antigo Testamento (afinal de contas, estes
eram os Santos conhecidos pelos Hebreus a quem ele estava escrevendo; não
adiantaria nada escrever acerca de, por exemplo, São Dimas, o Bom Ladrão,
que morrera ao lado de Nosso Senhor e a quem Nosso Senhor prometeu que
estaria no Céu naquele mesmo dia, ou de Santo Estêvão, apedrejado pelos judeus
enquanto São Paulo, que ainda não se havia convertido, segurava as roupas
dos apedrejadores... os hebreus não sabiam deles, não sabiam que eles estavam
no Céu!). Em todo o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus, portanto, nós
vemos São Paulo enunciar Santo após Santo do Antigo Testamento.
Logo em seguida, no primeiro versículo do capítulo 12 (não podemos esquecer
que a divisão da Bíblia em capítulos é muitíssimo recente; São Paulo
escreveu direto, sem separar capítulo 11 de capítulo 12), em Hb 12,1, São
Paulo diz, acerca de todos aqueles que ele citara no atual capítulo 11, que
estamos "rodeados por uma nuvem de testemunhas". Isto quer dizer
que os nossos irmãos, os Santos, estão nos rodeando "como uma nuvem", ou
seja, por todos os lados, vendo tudo o que estamos fazendo e... pedindo a
Deus por nós, com suas orações "subindo como incenso" para Ele, diante de
Cujo trono eles estão, servindo-o sem cessar.
É isso que a família faz. É isso que um bom irmão faz, é isso que uma boa
Mãe faz: procura ajudar, na medida do possível, seus irmãos, seus filhos.
Ajudar "na medida do possível". E "a medida do possível" para eles é
enorme, pois como escreveu São Paulo, "Palavra fiel: Se morrermos com Ele
(com nosso Senhor Jesus Cristo), com Ele viveremos; se sofrermos, reinaremos
também com Ele" (2Tim 2,11-12). Os Santos, que morreram com Ele, que
sofreram com Ele, estão agora justamente reinando com Ele!
Algumas pessoas um pouco confusas vão então dizer que isso é contrário à
Bíblia, pois há um só Mediador que é Nosso Senhor Jesus Cristo, sem
perceber porém que estão falando abobrinhas. Por que digo isso? Porque se
nós tivermos a paciência de ler o trecho inteiro onde está esta afirmação
da mediação única de Nosso Senhor, ou seja, 1Tim 2,1-7, vemos que a
mediação única de Nosso Senhor não tem absolutamente nada a ver com as
orações dos Santos (exceto, claro, o fato deles serem Santos e estarem junto
de Deus por causa precisamente desta mediação; eles são Santos pela Graça
de Deus, pela Mediação de Nosso Senhor Jesus Cristo)!
São Paulo começa o capítulo com as seguintes palavras: "Recomendo-te,
pois, antes de tudo, que se façam súplicas, orações, petições, ações de
graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que estão constituídos
em dignidade, para que levemos uma vida sossegada e tranqüila, em toda a
piedade e honestidade. Porque isto é agradável diante de Deus nosso
Salvador, o Qual quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da
Verdade". Ou seja, São Paulo manda rezar pelos irmãos, interceder por
outros.
E é isto que fazem os Santos no Céu. Os Santos no Céu não têm poder próprio
algum. Eles não têm como fazer um milagre por conta própria, apenas pedi-lo
a Deus - ao lado de Quem estão - em oração. Esta é uma mediação de oração,
que, diz São Paulo, "é agradável diante de Deus nosso Salvador, o Qual
quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade".
E que Verdade é esta? Continua então São Paulo: "Porque há um só Deus, e
há um só Mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem, o Qual
Se deu a Si mesmo para redenção de todos". Fica claro, então, que a
mediação única de Nosso Senhor não significa que não é possível orar pelos
irmãos; a mediação única d'Ele significa que foi o Sacrifício d'Ele, o
Sacrifício de Cristo na Cruz, que torna possível a nossa redenção. Não
adiantaria nada matar na Cruz outra pessoa; seria apenas um homem.
Nosso Senhor, porém, é Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem, e Seu Sacrifício é
único e suficiente para a Salvação. Esta é a mediação única d'Ele: a
Mediação do Sacrifício Redentor. A mediação de oração, ou seja, pedir a
Deus pelos irmãos em Cristo, como o fazem os Santos, não é uma afronta à
mediação única de Cristo, pelo contrário, é, como nos diz São Paulo,
recomendada e "agradável diante de Deus".
Afinal, os Santos estão no Céu pelos méritos infintos de Nosso Senhor Jesus
Cristo na Cruz; eles foram salvos, como esperamos nós também sê-lo, pela
mediação única de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pedir a oração de um Santo é
reconhecer a obra de salvação feita por Deus pela mediação única de Cristo,
é reconhecer que sem Nosso Senhor Jesus Cristo, sem Seu sacrifício, não
haveria Santos, não haveria salvação possível. É mais que evidente que os
Santos não são "concorrentes" de Deus. Pelo contrário! Eles são aqueles que
estão, como vimos em Apocalipse 7,15, dia e noite a servi-l'O diante de
Seu trono. Eles são membros de nossa família em Cristo, que pela graça de
Cristo estão junto a Cristo e a Cristo pedem por seus irmãos em Cristo.
A questão, então, para os hereges que negam a mediação de oração dos
Santos, é outra: será que a morte vence o Cristão? Será que a morte separa
o cristão daqueles que são seus irmãos em Cristo e precisam de suas orações?
A resposta é clara: Não, a morte não vence o Cristão. São Paulo escreve
(2Tim 1,10) que Nosso Salvador Jesus Cristo "destruiu a morte, e pôs a
claro a Vida e a imortalidade". A morte não vence o Cristão, pelo
contrário. A morte para o cristão é lucro, já escreveu São Paulo. "Para
mim o viver é (para) Cristo, e o morrer é um lucro. (...) tenho desejo de ser
desatado (da carne) e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor" (Fil 1,21-23).
Sem dúvida, a condição daqueles que reinam com Cristo, estão com Cristo,
que venceu a morte, e pedem a Deus por nós é mesmo "incomparavelmente
melhor"...
No Antigo Testamento, Deus deu aos judeus seus Dez Mandamentos. O primeiro
deles dizia: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei do Egito, da casa
da servidão. Não terás outros deuses diante de Mim. Não farás para ti
imagem de escultura, nem figura alguma do que há em cima no céu, e do que
há embaixo na terra, nem do que há nas águas debaixo da terra. Não
adorarás tais coisas, nem lhes prestarás culto" (Ex 20,2-5). Este é o
Primeiro Mandamento, que pode ser resumido em "Amar a Deus sobre todas
as coisas".
Qual o objetivo deste mandamento? Impedir que os judeus achassem que existem
vários deuses. O Deus único, naquele tempo, não tinha ainda corpo. Nosso
Senhor ainda não Se havia encarnado no seio da Virgem Maria. Era, portanto,
impossível representá-l'O, sob qualquer forma que fosse. Ele não tinha forma.
Os pagãos adoravam milhares de deuses diferentes: homens com cabeça de
gato, leões com asas de águia e outros seres delirantes. Estes ídolos,
estes demônios, eram por eles representados em estátuas.
Deus, porém, não tinha um corpo que pudesse ser representado. Ele estava
educando o Povo Eleito para que eles não colocassem o culto a Deus em pé
de igualdade com cultos a ídolos. Ele estava mostrando que Deus é único,
Criador dos Céus e da Terra, não uma "entidade" a competir com os exus e
orixás das idolatrias da época.
O problema, portanto, não era a confecção de imagens, mas a adoração de
falsos deuses, o colocar falsos deuses como se fossem deuses de verdade.
O próprio Senhor Deus mandou que fossem feitas várias imagens: Em Ex 25,18-20,
Deus manda fazer imagens de querubins para enfeitar a Arca da Aliança; em
Nm 21,8-9, Ele manda Moisés fazer uma imagem de serpente de bronze, que
curava os que haviam sido picados por cobras.
Quando, porém, os israelitas começaram a confundir as coisas e achar que a
serpente de bronze era um deusinho a ser adorado, o rei Ezequias mandou
derrubá-la para acabar com aquela pouca-vergonha (2Rs 18,4). Do mesmo
modo, Deus também mandou fazer imagens variadíssimas para enfeitar o
Templo, como vemos em 1Rs 6,23-35 e 1Rs 7,15-29: querubins, touros,
palmeiras, juníperos, flores de lis... Deus até mesmo colocou no caminho
de Salomão um artesão de imagens "cheio de sabedoria, de inteligência e
de ciência para fazer todo o gênero de obras de bronze" (1Rs 7,14)!
Entramos então na questão: já que o que a Lei dada aos judeus por Deus os
proibia de fazer imagens de falsos deuses para adoração, mas Deus não
proibia - muito pelo contrário, mandou várias vezes que fossem feitas -
imagens de criaturas de Deus para melhor servi-l'O, haveria por acaso
algum problema em fazer imagens das obras-primas de Deus, que são a
Santíssima Virgem Maria e os outros Santos?
Claro que não. Isto ocorre por vários motivos:
Já os hereges que nos acusam de adorar os Santos, 'tadinhos, fazem esta
confusão por uma razão triste: eles não adoram a Deus. Eles apenas veneram
a Deus: pedem, louvam, agradecem. Nada mais que meus filhos fazem comigo
ou eu faço com minha avó. Ao ver, assim, um católico prestando a devida
veneração a um Santo, eles, que veneram Deus e adoram apenas seus próprios
umbigos, dizem: "Olha lá! Ele 'tá adorando o santo! É idólatra!"...
Esta triste confusão, obra do demônio e do amor ao dinheiro, infelizmente arrasta
muita gente para o Inferno.
Temos, como católicos, o dever de caridade de procurar ajudar a todos estes
pobres coitados caídos em heresia, para que eles abandonem suas falsas
crenças, reconciliem-se com a Igreja que Nosso Senhor Jesus Cristo fundou
e confiou a São Pedro, fora da qual não há Salvação, e assim escapem do
Inferno.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
A acusação de adoração aos Santos, feitas por muitos hereges, é uma triste
consequência de um fato trágico: eles não adoram a Deus. Nós, sabemo-lo
todos, veneramos os Santos. O que é venerar? É fazer aquilo que todo filho
faz em relação a seu pai e sua mãe: ele pede, ele louva, ele agradece. Nós,
porém, adoramos a Deus. O que é adorar? É fazer o que nós fazemos em
relação a Deus e os macumbeiros fazem em relação a seus ídolos: oferecer sacrifício.
Na Santa Missa, o Sacrifício de Cristo é tornado novamente presente diante
de todos nós. O macumbeiro mata uma galinha preta para o seu ídolo. O
sacrifício de Cristo, oferecido a Deus de forma incruenta na Santa Missa, é
evidentemente muito superior ao sacrifício de uma galinha preta a
demônios. Ambos, porém, são sacrifícios, e oferecer sacrifícios é adorar.
Por isso podemos dizer que os macumbeiros adoram seus ídolos.