A g n u s D e i

PARA QUE CASSINOS?
por: dom David Picão (bispo diocesano de Santos/SP)
transmissão: Altamir Diniz Targino

Volta e meia nossa imprensa traz comentários, "cartas do leitor", "estudos", procurando demonstrar vantagens para os indivíduos e as comunidades (municípios, estados, país) com a permissão dos cassinos no Brasil.

Já tivemos essa desgraça funcionando por aqui. Gostaria de saber quais foram os motivos que levaram nosso Governo, na época do Governo Dutra, a proibir os cassinos. Certamente, não será porque tudo ia bem...

Por ocasião da Assembléia do episcopado nacional em fins de abril do corrente (1998), os Bispos brasileiros enviaram uma carta aos membros do Senado sobre o Projeto "Leis dos Cassinos", a propósito, aliás, da aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça do próprio Senado, em março último.

A defesa desse projeto baseia-se nos "frutos" que a implantação de cassinos trará: riquezas e mais riquezas que o jogo propiciará aos jogadores, aumento do número de empregos, incentivo ao turismo principalmente do exterior...

A propósito, o Senador José Serra, atual Ministro da Saúde, publicou na "Folha de São Paulo" de 29 de março do corrente (1998) interessante e contundente estudo sobre o título "O jogo errado" que valeria a pena ser lido por todos os defensores do projeto de lei. Impossível reeditá-lo no espaço desta coluna.

Com a devida vênia, vamos pinçar daí algumas informações:

O Senador vai buscar dados significativos no exemplo norte-americano:

  • Cada viciado no jogo traz prejuízos para os cofres públicos. No Estado de Wisconsin, a divida média dos jogadores compulsivos é de 35 mil dólares.
  • Cada viciado custa entre dez e trinta mil dólares em tratamentos, internações e gastos com os sistemas judiciário e penitenciário. E a produtividade dessas pessoas e a perda de horas de trabalho? Cada um perde três mil dólares por ano.
  • Em 1995, afirma o artigo de Serra, o Estado despendeu cerca de 120 milhões de dólares por causa dos jogadores. 60% deles já pensaram em suicídio por causa do jogo, sendo que 20% deles efetivamente pensaram em se matar.
  • O citado artigo analisa a situação de outros Estados. Incrível constatar como os prejuízos são enormes em toda a parte. Em Nevada, onde está o conhecidíssimo Las Vegas, "há o dobro de casos de suicídio em comparação com o restante do país. Nesse Estado os índices de abuso e negligência com crianças são os maiores do país e em nenhum outro Estado americano há tantas mortes por quilômetro dirigido. Sendo o Estado onde existem mais cassinos, e há mais tempo, nos Estados Unidos, é impossível deixar de fazer a correlação entre esse fato e aquelas mazelas".
  • Um estudo feito em 1990 em Margland revela que o jogo trouxe um prejuízo de 1,5 bilhões no Estado pela falta de pagamento dos impostos!
  • A introdução dos cassinos fez crescer a criminalidade. "Segundo o Instituto Americano de Seguros nos Estados Unidos 40% dos crimes de "colarinho branco" têm raízes no jogo". Até o comércio local leva prejuízos: o dinheiro é torrado no cassino, onde também se explora comida e bebida em abundância. Por isso, casas comerciais fecham as portas...

O que dizer, então, sobre os prejuízos morais comprovados nas pessoas (idéia do ganho fácil, ambiente de prostituição, tráfico de droga...), nas crianças e jovens, nas famílias (o mau exemplo dos pais jogadores, as ausências do lar, o abandono dos filhos...?) A família, por tantos outros fatores condenáveis, já está como está... Queremos aumentar as fontes de desajustes, de dissoluções dos lares?

Não sei se não é o caso de denunciar, como cassinos disfarçados, também tantas loterias (bancadas, inclusive pelo Estado), bingos "oficializados" e "sorteios", aos montes, pela televisão. Com a agravante: levam muitos pobres a jogarem o que lhes fará falta à mesa... e aos filhos em crescimento...

Em que País vivemos?

É de se lembrar: "pelos frutos se conhece a árvore".

- Para que cassinos?

- Para aumentar as desgraças!

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