»» Artigos Diversos

SÃO PEDRO E SÃO PAULO
Autor: pe. Ângelo José Busnardo
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Obs.: Homilia de 02/07/2000

No Antigo Testamento, Deus escolheu um povo e fez aliança com ele. O povo de Deus foi governado por juízes-sacerdotes e posteriormente por reis. A função principal dos juizes e reis era manter o povo fiel à aliança. A fidelidade à aliança, no Antigo Testamento, não conseguia salvar alguém, mas conseguia impedir a condenação. A salvação viria posteriormente com a encarnação, paixão, morte e ressurreição de Jesus. Contudo, quem se manteve fiel à aliança no Antigo Testamento, após a morte, ficou aguardando, na mansão dos mortos, a morte de Jesus na cruz para poder entrar no céu.

Com a morte e ressurreição de Jesus a salvação foi colocada à disposição de todos. Jesus instituiu os sacramentos que são os meios revelados de salvação. É através dos sacramentos que a redenção de Jesus se torna eficaz em cada pessoa individualmente. Os sacramentos foram confiados à Igreja. A direção da Igreja foi confiada a Pedro: Em resposta, Jesus disse: "Feliz és tu, Simão filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue quem te revelou isso, mas o Pai que está nos céus. E eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja e as portas do inferno nunca levarão vantagem sobre ela" (Mt.16,17-18). Jesus não vendeu a Igreja a Pedro e nem deu algum tipo de franquia para Pedro ou algum outro abrir sua própria igreja. Jesus fundou uma só Igreja e somente aquela que foi confiada a Pedro é a verdadeira Igreja de Jesus. Os sacramentos foram instituídos por Jesus somente dentro da sua Igreja e, portanto, somente a verdadeira Igreja de Jesus pode distribuir sacramentos válidos.

Jesus teve aproximadamente cento vinte discípulos: "Naqueles dias, levantou-se Pedro no meio dos irmãos – estava reunida uma multidão de umas cento e vinte pessoas – e disse..." (At 1,15). Entre os discípulos, Jesus escolheu doze apóstolos. Entre os doze apóstolos, Jesus escolheu Pedro para presidir a Igreja. A Igreja é fundada sobre a pessoa de Pedro: "E eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja e as portas do inferno nunca levarão vantagem sobre ela" (Mt.16,18). Jesus sabia ler e escrever e, se quisesse, podia ter redigido sua doutrina de forma perfeita, entregando uma cópia do texto escrito por Ele para cada um dos discípulos e discípulas, junto com um contrato de franquia, e autorizá-los a cada abrir a sua igreja, prometendo salvar a todos aqueles que se filiassem a uma das inúmeras igrejas que surgissem, contanto que se mantivessem fiéis à doutrina contida no livro por Ele escrito. Mas não foi isto que Jesus fez. Jesus fundou uma só Igreja e a entregou à autoridade de um só homem. Não importa se todos concordam ou não com isto. Quem quiser ser fiel a Deus, tem que aceitar a decisão de Jesus.

A vida, neste mundo, é curta para todos. Pedro também não durou muito. Menos de quarenta anos após a morte de Jesus, ele foi ao encontro do Mestre no céu (ano 64-67). Mas Jesus deu à sua Igreja a garantia que ela subsistiria até ao fim dos tempos: "as portas do inferno nunca levarão vantagem sobre ela" (Mt 16,18b). Por isto, dado que a Igreja tem garantia divina de subsistência até ao fim dos tempos e Pedro morreu antes do fim dos tempos, é necessário que, ao morrer o primeiro papa, outro tome o seu lugar. Assim, chegamos até o papa atual e, até ao fim dos tempos, sempre haverá alguém presidindo a Igreja fundada por Jesus Cristo.

A garantia de subsistência da Igreja fundada por Jesus até ao fim dos tempos, não está ligada à santidade da pessoa do papa. Mesmo que, eventualmente, surja algum papa cuja vida pessoal deixe a desejar, a garantia de subsistência da Igreja permanece. O próprio Pedro foi criticado por São Paulo por causa de uma atitude incoerente: "Mas quando Cefas veio para Antioquia, opus-me a ele abertamente porque era digno de censura. Pois, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os pagãos. Mas quando eles chegaram, se retraía e se afastava, com medo dos circuncidados. E os demais judeus o acompanharam na mesma inconseqüência, tanto que até Barnabé se deixou arrastar por eles. Mas, quando vi que não procediam com retidão segundo a verdade do Evangelho, disse a Cefas na presença de todos: “Se tu, sendo judeu, vives como pagão e não como judeu, por que obrigas os pagãos a adotar os costumes judaicos?”" (Gl 2,11-14). Paulo censurou Pedro, mas não contestou a sua autoridade como chefe da Igreja.

Ao escolher uma pessoa, Deus lhe infunde o Espírito Santo, para que exerça sua missão corretamente. A assistência do Espírito Santo não o liberta de eventuais perseguições e imprevistos. Pedro morreu mártir e não foi o único papa a dar glória a Deus através do martírio. João Paulo II também passou por um sofrimento equiparável ao martírio no atentado de 1981. O atentado foi planejado exatamente para atingir aquele que preside a Igreja. Se a Igreja de Jesus estivesse sendo presidida por outro homem, este teria sido a vítima do atentado. Assim será até ao fim dos tempos. Deus escolherá homens para dirigir a sua Igreja. Estes homens deverão santificar-se conduzindo o rebanho de Jesus com fidelidade, apesar de seus defeitos pessoais, e entre incompreensões e perseguições. Quem quiser salvar-se deverá procurar os meios de salvação - os sacramentos - confiados por Jesus à sua Igreja, independentemente de concordar ou não com o papa que a dirige.