A g n u s D e i

UM VICENTINO NOS ALTARES
Autor: d. David Picão (Bispo de Santos-SP)
Fonte: Informativo UniSantos nº 181

No dia 5 deste mês de março [de 2000], o Santo Padre João Paulo II, em Roma, em solene celebração, proclamou bem-aventurados trinta mártires do Brasil: pe. André de Soveral, pe. Ambrósio Francisco Ferro - ambos sacerdotes diocesanos - e seus vinte e oito companheiros, leigos.

Pe. André de Soveral nasceu em São Vicente-SP, ingressando a 6 de agosto de 1593 na Companhia de Jesus, na Bahia. Depois de 1607, passou para o clero diocesano, fixando-se no Rio Grande do Norte, então pertencente à diocese da Bahia.

Os beatificados foram vítimas do ódio à fé católica, provocado pela perseguição religiosa calvinista, à qual denominação pertenciam os holandeses que, a partir de 1633, ocuparam a Capitania do Rio Grande do Norte. Foi na época da denominada invasão holandesa no Brasil.

A Igreja no Rio Grande do Norte foi implantada pelo trabalho missionário dos jesuítas. As comunidades católicas foram afetadas ali pela presença de autoridades hostis à Igreja e pelo proselitismo dos pastores calvinistas.

Foram dois os momentos da perseguição até o martírio e dois os cenários desses históricos e graves acontecimentos: as localidades de Cunhaú e Uruaçu.

O primeiro massacre aconteceu no dia 16 de julho de 1645, em Cunhaú. Sendo um domingo, os fiéis foram à Capela de Nossa Senhora das Candeias, para cumprir o preceito dominical. Eram cerca de 69 pessoas. Presidia a cerimônia o pároco, pe. André de Soveral.

Iniciada a celebração da Missa, à hora da consagração da hóstia e do cálice, a um sinal de Jacó Rabe, emissário dos holandeses, foram fechadas todas as portas da Igreja, iniciando-se terrível carnificina, executada por soldados holandeses, índios tapuias e potiguares. Tomados de surpresa, os fiéis não se rebelaram, mas, exortados pelo pe. Soveral a bem morrer, "entre mortais ânsias se confessaram ao Sumo Sacerdote Jesus Cristo, Senhor nosso, pedindo-lhe cada qual, com grande contrição, perdão de suas culpas".

O padre, falando a língua dos indígenas, exortou-os a não tocá-lo e aos objetos do altar, sob pena de suas mãos ficarem tolhidas. Receosos, recuaram; não, porém, os potiguares, os quais não dando ouvidos às suas palavras, caíram sobre ele, "fazendo-o em pedaços".

O segundo massacre aconteceu no dia 3 de outubro, quando foram martirizadas cerca de 70 pessoas, além de um grupo de 12 pessoas mais influentes, entre as quais o pe. Ambrósio Francisco Ferro. Estes, depois dos acontecimentos sangrentos de Cunhaú, em julho, procuraram lugares mais seguros para sua proteção, na Fortaleza dos Reis Magos. Daí, porém, retirados, mais tarde, foram levados para um lugar às margens do rio Uruaçu. "Foram cenas de grande dramaticidade, quando 200 índios bem armados, comandados por um fanático chefe indígena convertido ao calvinismo, e mais uma tropa de soldados flamengos caíram sobre os assustados moradores do Rio Grande, matando a todos com requintes de perversidade e selvageria que os cronistas registraram em seus relatos: a uns cortaram os braços e as pernas; a outros degolaram; a outros arrancaram os olhos, as línguas, narizes e orelhas; aos já mortos, despedaçaram-nos em pequenas partes. A Mateus Moreira foi arrancado o coração pelas costas e este morreu exclamando: 'Louvado seja o Santíssimo Sacramento'" (Protomártires do Brasil, mons. Francisco de Assis Pereira, p. 6).

Embora naquela ocasião tenham morrido cerca de 150 pessoas como mártires da fé, no entanto, o processo de beatificação se cingiu a indicar apenas 30 dos quais se conseguiu ter a identificação precisa dos nomes e das manifestações incontestáveis que morriam como vítimas pela fé.

Eis a lista dos beatificados:

  • Pe. André de Soveral
  • Pe. Ambrósio Francisco Ferro
  • Mateus Moreira
  • Manuel Rodrigues de Moura e esposa
  • Estevão Machado de Miranda e duas filhas
  • Antonio Vilela Cid
  • Antonio Vilela, o moço, e sua filha
  • João Martins e 7 jovens companheiros
  • Uma filha de Francisco Dias, o moço.
  • João Lostau Navarro
  • José do Porto
  • Francisco de Bastos
  • Diogo Pereira
  • Vicente de Souza Pereira
  • Francisco Mendes Pereira
  • João da Silveira
  • Simão Correia
  • Antonio Baracho
27 brasileiros, 1 português (pe. Ambrósio), 1 espanhol (Vilela Cid) e 1 francês (Lostau Navarro).

Reverenciando devotamente esses nossos irmãos mártires, pedimos ao Pai do Céu, pela sua intercessão, a consolidação da nossa fé, a fidelidade a nossos compromissos de batizados, de consagrados, de ministros ordenados. Agradecemos ao Senhor este marco histórico da santidade vivido neste milênio da Era Cristã que estamos encerrando. Amém!