A g n u s D e i
O QUE SIGNIFICA DIZER QUE O PAPA É INFALÍVEL?
Fonte: Defenders of the Rock
Tradução: Carlos Martins Nabeto
O ensino da Igreja Católica sobre a infalibilidade papal é muito discutido e,
infelizmente, pouco compreendido por aqueles que negam a existência de tal
privilégio. Trata-se, portanto, de um artigo de fé extremamente contestado,
o que é uma pena, por três motivos:
- Primeiro e certamente o principal: porque causa a divisão e o descrédito
no Corpo de Cristo. Esta ferida na unidade é trágica porque mina o Evangelho
em sua base. Se os próprios cristãos não concordam no que deveriam crer então
por que os não cristãos devem se converter ao Cristianismo?
- Segundo: porque não deveria ser assim, já que esse privilégio, quando
devidamente compreendido, não é irracional nem antibíblico. De fato, analisado
sob a ótica da fé, está de acordo com o conceito mais básico da divina
revelação.
- Terceiro: porque demonstra uma falta de confiança no Senhor Jesus Cristo,
negando Seu poder de preservar a pureza da fé que Ele nos confiou por um alto
preço.
É artigo básico da fé ortodoxa que a Igreja, como Corpo de Cristo, é guiada
por sua Cabeça através do poder do Espírito Santo. Nas comunidades ortodoxas
orientais, a natureza infalível das decisões de um Concílio Ecumênico são
plenamente reconhecidas. Em todas as comunidades cristãs, a natureza infalível
da Bíblia é plenamente reconhecida. E em todas as comunidades religiosas em
geral, a natureza infalível de Deus é uma conclusão básica. Logo, como
cristãos, não deveríamos ficar surpresos que o líder da Igreja sobre a terra
seja guiado pelo Espírito Santo nas matérias de fé.
Como cristãos, cremos que Deus falou diretamente para nós na pessoa de Jesus
Cristo. Podemos, assim, com base nesse conceito, dizer que tudo o que Ele disse
era infalível, ou seja, isento de qualquer erro. Se nós acreditamos que Deus
pôde falar com os escritores da Bíblia através do Espírito Santo, guiando-os
a relatarem daquela certa maneira, então podemos concluir que a Bíblia é
infalível. Entretanto, é exatamente aqui que encontraremos um problema: como
poderiam meros seres humanos - com todas as suas fraquezas e preconceitos,
com sua opinião formada e ignorância - esperar ter uma compreensão infalível
daquilo que Deus disse? Simplesmente não seria possível e a História prova
este argumento pois existem tantas interpretações da Palavra de Deus quantas
pessoas para interpretá-las. Jesus sabia disso porque conhecia todas as
coisas. Quando Jesus pregava, queria que suas palavras fossem guardadas
fielmente; as Escrituras, então, nos dizem que Ele prometeu guiar Sua Igreja
no ensino da Verdade revelada:
- Mateus 16,18-19: "E também eu te digo que tu és Pedro, e sobre
esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus; tudo o que ligares na
terra, será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra, será desligado
nos céus".
- 1Timóteo 3,15: "Para que, se eu tardar, saibas como convém
andar na casa de Deus, que a Igreja do Deus vivo, a coluna e fundamento da
verdade".
- João 16,12-13: "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o
podeis suportar agora. Mas, quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará
em toda a Verdade. Não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido,
e vos anuniará o que há de vir".
A crença baseada na Bíblia e no ensino direto dos Apóstolos sempre foi a de
que o Espírito Santo guia a Igreja na definição da fé para os seus fiéis. As
doutrinas básicas do Cristianismo foram proclamadas nos grandes Concílios
Ecumênicos e sempre se acreditou que foram ratificadas pelo poder do Espírito
Santo. O próprio cânon da Bíblia foi definido por alguns desses Concílios e
forma a base da fé até hoje. O próprio Espírito Santo guiou estes Concílios
da Igreja para decidir quais livros deveriam ser considerados sagrados e
quais deveriam ser deixados de lado. A doutrina da infalibilidade papal é
simplesmente uma extensão do mesmo princípio fundamental e é uma prerrogativa
especial do sucessor de São Pedro, o primeiro papa. "E também eu te digo que tu és Pedro, e sobre
esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela" (Mt 16,18).
Antes de explicarmos a natureza desta prerrogativa, convém primeiro saber o
que ela certamente não é:
- Ela não significa que o papa não pode pecar; trata-se de uma
opinião errada sobre este privilégio.
- Não significa que toda e qualquer palavra pronunciada pelo papa é
infalível; trata-se também de uma idéia errada.
- Não significa que toda opinião do papa deva ser tida como opinião de
Deus; certamente esta é uma das visões mais comuns e erradas do significado
da infalibilidade papal.
- Por fim, também não significa que o papa sabe tudo sobre todas as coisas.
Talvez a melhor maneira de falar sobre isto possa ser assim exemplificado:
suponha que você irá aplicar uma prova ao Santo Padre versando sobre a
matéria de Trigonometria (que é um ramo da matemática). Então você lhe faz
as 100 questões mais difíceis do mundo, que somente os melhores matemáticos
pudessem responder. Qual o número mínimo de questões que o Papa deveria
responder corretamente??
Muitas pessoas, que não conhecem a natureza dessa infalibilidade pregada
pela Igreja, certamente responderiam: "Ele deverá responder corretamente
TODAS as questões..." ERRADO! Ele pode errar todas as 100 questões, pois a
infalibilidade papal não transforma o Papa em um "sabe-tudo". Se o fizesse,
o Papa poderia resolver todos os problemas do mundo, como a guerra e a fome;
teríamos, então, a resposta final para o ecumenismo, entre outras coisas...
Entretanto, em questões de fé e moral, o Magistério da Igreja e do Papa são
incapazes de ensinar o erro. Quando estes magistérios nos relatam as verdades
concernentes à fé, podemos estar certos de que é Deus que deseja que estas
verdades sejam conhecidas. O Espírito Santo guiará o Papa a pronunciar a
verdade infalível sobre a Fé.
A doutrina da infalibilidade papal é melhor esclarecida pelo Concílio Vaticano II:
"[O Papa é infalível] em virtude de sua função, quando, como pastor supremo e mestre de
todos os fiéis, a quem cabe confirmar seus irmãos na fé (Lc 22,32), proclama
por um ato definitivo qualquer doutrina de fé ou moral. Então suas definições,
por si próprias e não pelo consenso da Igreja, serão tidas como justamente irreformáveis,
pois foram pronunciadas com a assistência do Espírito Santo, assistência esta
que lhe foi prometida na pessoa do bem-aventurado Pedro".
Isto simplesmente significa que, quando o papa define um ensino sobre fé ou
moral, e o faz para ser compreendido e pregado por toda a Igreja, foi o próprio
Espírito Santo quem o guiou, pois Ele o guiará "em toda a Verdade" (Jo 16,13).
Esse dogma foi historicamente promulgado pelo Concílio do Vaticano I, realizado
em 18 de julho de 1870, e lê-se da seguinte forma:
"O Romano Pontífice, quando se pronuncia "ex cathedra" - ou seja, quando
exerce o ofício de pastor e mestre de todos os cristãos - e define uma doutrina
sobre fé ou moral com sua suprema autoridade apostólica, para que seja
pregada em toda a Igreja universal ("doctrinam de fide vel moribus ab
universa Ecclesia tenendam definit"), pela assistência divina prometida
a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela mesma infalibilidade que o divino
Redentor desejou que Sua Igreja tivesse para definir doutrinas que versam sobre
a fé e a moral. Portanto, tais definições do Romano Pontífice são irreformáveis
por si mesmas e não pelo consenso da Igreja".
Se cremos na Verdade revelada por Deus nas Sagradas Escrituras e humildemente
confiamos na Divina Providência, que nos concede uma fé viva, não cairemos
nas ciladas do demônio nem nas inconstâncias dos homens; pelo contrário,
nos alegraremos sobre a Pedra que Jesus estabeleceu para nós, um fundamento
seguro sobre o qual poderemos erguer as nossas vidas, de maneira que, quando
a correnteza do dilúvio de erros chegar, ainda assim a casa da fé permanecerá
íntegra e segura!