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PROTESTANTISMO FUNDAMENTALISTA
Partes: Carlos Ramalhete (católico) X Mary Schultze (protestante fundamentalista)
Contribuição: A Hora de São Jerônimo - Debate
Questão 3: Diga-me: por que a Bíblia teria precisado de quase 1.600 anos para ser entendida corretamente, se ela é teoricamente para se ler e entender?
Resposta: A Bíblia não precisou de 1.600 anos para ser lida e entendida
corretamente. Essa pergunta tem sido usada pelos apologistas católicos para
confundir os crentes que não têm cultura bíblica e não pesquisam a verdadeira
história do Cristianismo.
Do século 1 até o século 4, a Bíblia foi lida e entendida corretamente
pelos cristãos primitivos. Do século 4 até o século 16, ela continuou sendo
lida e entendida corretamente pelos verdadeiros cristãos que viviam entre os
falsos cristãos da falsa Igreja de Constantino, o Grande, fundador do
Catolicismo e também o primeiro “Pontifex Maximus” da Igreja Católica, visto
como Pedro nunca foi papa. Seria bom que os católicos (e também os
evangélicos) pudessem ler o livro do Dr. Aníbal Reis, com esse título e,
também, os capítulos 7-8 do livro ”A Woman Rides the Beast” (A Mulher Montada
na Besta), de Dave Hunt, que tive o prazer de traduzir para a Editora Actual
(Chamada da Meia Noite), e que deve ser publicado até meados deste ano.
Enquanto a Igreja de Roma ia dominando o mundo inteiro através da
mentira religiosa e da violência, sempre existiu um pequenino rebanho (Lucas
12:32) escondido nas cavernas, montanhas e florestas, lendo e compreendendo a
Bíblia. Ao longo dos anos, os papas foram corrompendo as palavras de Jesus e
dos escritores sagrados através de acréscimos, subtrações e rodapés
tendenciosos, a começar das obras malignas de Orígenes e Jerônimo, dois dos
hereges conhecidos como “Pais da Igreja”, a partir do século 3.
Conta o Dr. William P. Grady, em seu livro “Final Authority”,
capítulo. 13 (p.191), que certo dia um padre jesuíta perguntou cinicamente a
John Wesley: “Onde estava a sua religião, antes da Reforma?" Wesley respondeu
calmamente: “No mesmo lugar onde estava a sua cara, antes que você a enterrasse
na lama”.
Revoltado com as mentiras pregadas pela sua ex-Igreja, Lutero, que
costumava chamar o papa de “Sua Profanidade”, gostava de dizer:
“Muitos me acham contundente demais contra o papado. Pelo contrário, eu até
lamento ser tão macio. Gostaria de poder fulminar o papa e o papado com uma
tempestade de raio... Amaldiçoarei e censurarei esses vilões até ir para o
túmulo, e jamais terei uma palavra gentil a favor deles... Sou incapaz de fazer
minhas orações sem amaldiçoar essa gente, ao mesmo tempo. Se estou pronto a
dizer ‘santificado seja o teu nome’ também devo acrescentar ‘amaldiçoado,
condenado e destruído seja o nome dos papistas’. Se estou pronto a dizer
‘venha o teu reino’, também devo acrescentar: ‘amaldiçoado, condenado e
destruído seja o papado”’. De fato, sempre repito isso todos os dias verbal e
mentalmente, sem interrupção. ... Nunca trabalho melhor do que quando estou
enfurecido. Quando estou com raiva, posso escrever e orar melhor, posso pregar
bem, pois assim todo o meu temperamento ferve e o meu entendimento fica mais
agudo.”
Esta é uma boa resposta para certos católicos que me fazem perguntas e mais
perguntas, achando que vou ficar intimidada e desistir da minha luta, que é
apresentar a verdade sobre a sua Igreja. Amo todos os católicos, até mesmo os
que me telefonam ou enviam mensagens agressivas, achando que odeio a Igreja
deles. Um dia eles descobrirão a verdade e então poderão compreender porque,
depois de viver durante 48 anos acorrentada às mentiras da Igreja de Roma, dei
um basta, quando me converti a Jesus Cristo, lendo a Bíblia, que os católicos
não lêem.
"Os fracos conhecem a verdade,
mas só a sustentam na medida do seu interesse;
fora disso, abandonam-na.
Dever-se-á matar para impedir que haja maus?
Isso é fazer dois maus em lugar de um.
O silêncio é a maior perseguição.
Nunca os santos se calaram" (Blaise Pascal).
Fracos de espírito são os que se preocupam apenas com o seu bem estar. Quando
estão salvos dos perigos físicos e espirituais não se preocupam com os outros.
Ninguém deseja fazer companhia, no “purgatório”, ao seu irmão ou amigo. Falar a
verdade é difícil, a não ser que você desista do aplauso, do louvor de cada um.
Quem fala a verdade é odiado, como Jesus o foi. Quando Pilatos, na hora do
julgamento, indagou a Jesus, em Latim: “Quid est veritas?” (Que é a verdade?),
logo em seguida deu-lhe as costas, voltando-se para o populacho, simplesmente
porque não desejava conhecer a verdade. Se tomarmos todas as letras dessa
pergunta, poderemos compor a resposta: “Est vir qui adest” (É aquele que está
na tua frente). Realmente, a Verdade que liberta de toda mentira religiosa, de
toda corrupção política, de toda miséria física e moral, ali estava, bem à
frente de Pilatos, só que ele não poderia enxergá-la porque estava cego pela
ambição do poder, como todos os discípulos do “deus deste mundo” (2 Coríntios
4:4). Era muito mais fácil para ele condenar um profeta, derramando o seu
sangue inocente, do que abdicar dos favores que o cargo de governador romano
lhe conferia. Ele sabia que Jesus era inocente, mas esta verdade não lhe
interessava porque não cabia dentro da medida do seu interesse.
Matar Jesus para impedir que ele mostrasse a verdade? Para fazer com que Aquele
Santo se calasse? Ora, a Verdade não pode ser calada. Ela baixou ao túmulo, lá
ficou três dias, depois ressuscitou para que a justiça fosse consumada e todos
os homens pudessem usufruir da graça da Redenção através do sangue do
Cordeiro. Contudo, são poucos os que crêem e por isso continuarão presos nas
cadeias do pecado e por fim serão jogados no abismo eterno porque não aceitaram
essa Verdade como sua razão de viver.
O Cristianismo bíblico é uma religião que proíbe terminantemente qualquer tipo
de sacrifício humano. Prejudicar e matar são verbos que não existem no
dicionário dos cristãos, como agentes do mal. Para um cristão é melhor morrer
do que matar. Quem dá a sua vida espontaneamente por amor de Cristo e dos
irmãos ganha uma vida infinitamente melhor, mais rica, e eternamente mais bela,
assentando-se definitivamente com Cristo nos lugares celestiais.
Permitir que a mentira continue sendo pregada, quando conhecemos a verdade, é
pior do que permitir que se pratiquem crimes, que médicos matem pacientes, que
juízes roubem no orçamento da nação, enriquecendo-se à custa do povo, que mães
irresponsáveis assassinem seus filhos ainda no ventre, tudo, enfim, que vem de
encontro aos mandamentos de Deus, que diz: “Não matarás, não furtarás, etc.”.
Ele também diz: : “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João
8:32). Quando conhecemos a Bíblia, sentimo-nos libertos da mentira religiosa e
não desejamos servir homens corruptos e pecadores, que se dizem infalíveis.
Está aí todo o ódio que a Igreja de Constantino tem votado à Bíblia,
procurando minimizar o seu valor, tentando enredar e até intimidar os seus
leitores, crentes em Jesus.
Só há uma maneira de se conhecer a verdade é através da própria Verdade. Uma
Igreja que ocultou e até destruiu a Verdade do século 4 até o 16 a fim de se
apossar do mundo inteiro, com a desculpa de “converter”, não pode ser a Igreja
do Senhor Jesus Cristo. Jesus sempre condenou a violência e a hipocrisia. A
Igreja de Roma tem-se comportado em relação à Bíblia como se fosse ela e não a
Palavra de Deus, a fonte da verdade. Ela se comporta como um médico que, mesmo
sem ter certeza do diagnóstico dado ao paciente, rejeita o diagnóstico de um
colega seu, muito mais eficiente do que ele próprio. A Igreja de Roma, desde o
Concílio Vaticano II, tem falado muito de justiça, direitos humanos,
ecumenismo, castidade, verdade, pobreza...
Como pode falar de justiça uma organização política e econômica, que tem se
valido da religião há 16 séculos - para praticar a injustiça, afirmando ser a
Igreja dAquele que jamais compactuou com a injustiça?
Como pode falar de direitos humanos uma organização política e econômica, que
tem assassinado milhões de pessoas, em nome de Cristo, o mais santo e amoroso
de todos os homens que já existiram, simplesmente porque é Deus feito homem por
amor dos homens?
Como pode falar de ecumenismo uma igreja que diz claramente através de seus
papas que todos devem voltar ao seio da Igreja? Isso é ecumenismo ou
totalitarismo disfarçado?
Como pode exigir o celibato dos padres, se isso vem totalmente de encontro à
Palavra de Deus (ler 1 Timóteo 3:1-7) e da natureza humana? Por causa de tal
exigência absurda é que tantos padres entregam-se ao homossexualismo ou à
constituição de famílias clandestinas. Contra o Papa Benedito IX (1032-1045),
que até havia inaugurado um bordel dentro do Vaticano e teve milhares de
amantes, jamais houve qualquer reação da hierarquia, até o dia em que,
apaixonado por uma linda jovem, ele resolveu casar-se... Aí, então, foi
obrigado a renunciar ao ofício...
Como pode se autodenominar a única Igreja verdadeira, uma Igreja que sempre fez
questão de mentir? Como na história da falsa “Doação de Constantino”, dos
falsos “Decretos de Isidoro”, e de tantas encíclicas e dogmas absurdos, que
atentam contra a lógica humana, proibindo os católicos de pensar como adultos?
Para a Igreja de Roma, Jesus ainda é um bebezinho mamando nos seios de Maria,
enquanto os membros da Igreja são bebezinhos espirituais, que jamais chegarão à
maturidade, simplesmente porque não conhecem a verdade, deixando-se enganar por
falta de inteligência ou comodismo.
Como pode falar de pobreza uma Igreja que possui mais de 1/3 de toda a fortuna
do Hemisfério Ocidental, sendo acionista majoritária do Bank of America (o mais
forte do mundo), e de quase todos os bancos internacionais; de quase todas as
multinacionais de petróleo, ferro, aço, comunicação, empreendimentos
imobiliários etc. (Quem duvidar destas afirmações deve ler os livros “The
Vatican Billions”, “The Vatican-Moscow-Washington Alliance”, “The Vatican in
the World Politics”, 3 dos vinte livros de Avro Manhattan sobre o Vaticano,
todos no Index da Igreja de Roma).
A Bíblia não precisou de 16 séculos para ser lida e entendida pelos verdadeiros
cristãos. O caso é que os verdadeiros cristãos viviam escondidos por causa das
perseguições que lhes eram movidas pela “única igreja verdadeira”. Um dos papas
que mais se destacaram nesse “caridoso” serviço em favor da Igreja foi
Inocêncio III (1198-1216), que liquidou milhares de Valdenses, dizendo ter
sido esse o principal objetivo do seu papado. Também o Papa Gregório XIII
(1572-1585), que recebeu a notícia do assassinato de milhares de huguenotes,
em clima de festa, com celebração de "Te Deum" e moedas cunhadas sobre o
evento, naquela fatídica “Noite de S. Bartolomeu” (1572).
Qualquer pessoa de boa vontade que pôde ler a Bíblia entre os séculos 4 e 16
conseguiu entendê-la perfeitamente, sem interpretação da Igreja, enquanto esta
se dedicava ao extermínio dos “hereges” que a liam e entendiam...
Jesus avisou que “sereis odiados de todos por causa do meu nome” (Mateus 10:22)
e é o que tem acontecido a “todos quantos querem viver piedosamente em Cristo
Jesus” (2 Timóteo 3:12) Infelizmente, o mundanismo tem penetrado na Igreja
Protestante e ela tem se afastado das verdadeiras doutrinas da Bíblia, em favor
de doutrinas espúrias, que a levam cada vez mais para perto do Catolicismo
Romano. Os Jesuítas levaram quase 400 anos para “neutralizar a Reforma” e
conseguiram o seu intento. Hoje os verdadeiros cristãos voltam a constituir
apenas “um pequenino rebanho”, que em breve começará a ser perseguido,
novamente, quando Roma der as cartas. Eles patrocinaram a falsificação das
Bíblias verdadeiras, como a King James e a Bíblia de Lutero, a fim de conseguir
que elas se tornassem cada vez mais semelhantes às bíblias alexandrinas do
Catolicismo. A tarefa foi sendo paulatinamente executada e a vitória já está
despontando no horizonte do “Cristianismo” mundial. Contudo, graças a Deus que
ainda existem alguns “sete mil que não dobraram joelhos diante de Baal” (1 Reis
19:18 e Romanos 11:4).
Mary Schultze
Antes de mais nada, peço infinitas desculpas a minha contendora e aos ouvintes
do debate por ter demorado tanto para responder.
Estando com meu tempo bastante tomado, eu não quis enviar uma resposta que não
fosse fruto de um trabalho criterioso e cuidadoso. Assim, só agora, quando tive
um tempinho, abri a mensagem da Sra. Schultze. Confesso que fiquei decepcionado. Eu
poderia ter respondido antes, visto que o grosso da mensagem (mais de 90%, eu diria)
consiste em afirmações gratuitas que não têm absolutamente nada a ver com a
pergunta que ela teoricamente estaria a responder.
A pergunta é a seguinte:
Nas três vitriólicas páginas enviadas pela Sr. Schultze, há apenas um argumento
que diz respeito à pergunta (das afirmações gratuitas tratarei em seguida):
Segundo ela, a pergunta não procede, pois "A Bíblia não precisou de 1.600 anos
para ser lida e entendida corretamente. Essa pergunta tem sido usada pelos
apologistas católicos para confundir os crentes que não têm cultura bíblica e
não pesquisam a verdadeira história do Cristianismo.
Do século 1 até o século 4, a Bíblia foi lida e entendida corretamente pelos
cristãos primitivos. Do século 4 até o século 16, ela continuou sendo lida e
entendida corretamente pelos verdadeiros cristãos que viviam entre os falsos
cristãos", ou seja, os católicos.
Ao que respondo que:
Há vários problemas, e problemas graves, na versão histórica imaginada pela
Sra. Schultze.
A importância dos Sacramentos, a necessidade de preservação da Tradição Oral
apostólica, a veneração aos santos, a necessidade de obediência à Igreja...
tudo isso, porém, encontra farto e completo testemunho dos cristãos dos
primeiros séculos.
Eu, aliás, pessoalmente, tenho enorme prazer ao ler os escritos destes
cristãos, que têm exatamente a mesma fé católica que professo.
Só para começar, seria necessário que:
Além disso, cabe ainda a questão da compreensão correta: Lutero acreditava em
coisas bastante diferentes das que eram cridas por Calvino, e certamente a Sra.
Schultze acredita em ainda um terceiro conjunto de crenças, em contradição com
aqueles.
A Sra. Schultze afirma que "Qualquer pessoa de boa vontade que pôde ler a
Bíblia entre os séculos 4 e 16 conseguiu entendê-la perfeitamente, sem
interpretação da Igreja, enquanto esta se dedicava ao extermínio dos “hereges”
que a liam e entendiam...". Fabuloso. Então, ao que tudo indica, ou deveria
haver algo especial no ar daquela época, ou são extremamente raras as "pessoas
de boa vontade" atuais.
Afinal, há algumas dezenas de milhares de seitas protestantes com
interpretações mutuamente exclusivas da bíblia.
Eu diria que a imensa maioria dos membros destas seitas é composta por pessoas
de boa vontade. Mesmo assim elas não chegam a um acordo em questões
extremamente básicas (como a necessidade do Batismo, etc.). A própria Sra.
Schultze afirma que "hoje os verdadeiros cristãos voltam a constituir 'um
pequenino rebanho'", fazendo assim de uma interpretação bíblica assemelhada à
sua a marca do "verdadeiro cristão", em detrimento de todos os outros (já que
realmente são forçosamente poucos os que têm interpretação assemelhada à dela
no meio do cipoal de seitas que hoje assola o mundo).
Ora, não creio que todos os protestantes que não concordam com a Sra. Schultze
sejam pessoas de má vontade. Muitas pessoas de inegável boa vontade hoje lêem a
Bíblia, não entendem nada e saem por aí falando abobrinhas. Já entre o século
IV e o XVI, segundo a Sra. Schultze, eles leriam e entenderiam "perfeitamente",
ou seja, concordariam com a interpretação dela. Seria o ar daqueles tempos, sem
poluição ambiental? :)
Ou seria simplesmente uma ilusão da Sra. Schultze - como aliás seus
"verdadeiros cristãos escondidos na floresta", seus protestantes do século II,
etc. - para tentar justificar o injustificável?
Creio que esta afirmação causaria espécie a qualquer cristão da época; afinal,
não apenas Constantino - que em várias instâncias cedeu ao arianismo, uma
heresia que faz estragos na época e era combatida pela Igreja - só se fez
batizar no leito de morte, como foi necessário aos Papas defender-se arduamente
de suas tentativas de solapar o poder papal. Constantino também foi diretamente
responsável por uma das "desculpas esfarrapadas" mais usadas pelos inimigos do
Papado, a alegação de que o Bispo de Constantinopla deveria ter uma situação
privilegiada por Constantinopla ser a nova sede do Império Romano.
Se esta afirmação não fose tão engraçada ("rodapés tendenciosos", convenhamos!)
mereceria um pedido de esclarecimento. Afinal, não há nenhuma cópia de nenhum
livro inspirado anterior a esta época. Assim, seria completamente impossível
discernir os supostos "acréscimos e subtrações". Estes, aliás, seriam
completamente impossíveis, na medida em que não haveria meios na época (como
dificilmente haveria meios hoje, aliás) de substituir todas as cópias
anteriores a eles por cópias com os supostos "acréscimos e subtrações", e
certamente haveria protestos contra estes.
A partir da resposta grosseira de John Wesley (cujas idéias religiosas, aliás,
creio não serem partilhadas pela Sra. Schultze) podemos dizer que das duas uma:
ou a cara do jesuíta não existia antes de ele enterrá-la na lama, ou Wesley
fugiu à pergunta. A religião de Wesley foi inventada pelo próprio, a partir da
religião que Lutero inventara...
Isto não é verdade. O que nós católicos não fazemos é achar que a nossa limitada
compreensão de traduções da Sagrada Escritura seja o árbitro definitivo da fé e
da prática. Ler a Bíblia (ou ouvir a leitura da Bíblia, como é recomendado na
própria Escritura) não significa entendê-la, nem é sinal de que uma suposta
conversão não seja na verdade apenas um revestimento de pseudo-cristianismo
sobre uma auto-idolatria ainda mais exacerbada...
Esta citação de Pascal (aliás católico, ainda que tenha se aproximado do
jansenismo - deve ser isso que faz com que a Sra. Schultze o aprecie; os
jansenistas detestavam os jesuítas, ainda que por razões bem diferentes das
dela) é verdadeira, e uma excelente explicação da razão pela qual tantas
pessoas entram para seitas protestantes. Sua fraqueza, que nega o amparo de
Nosso Senhor, faz com que só sustentem a verdade na medida de seu interesse. Se
seu interesse é cometer adultério, passam a pregar que o casamento é dissolúvel
(como o fez o "pastor" Caio Fábio após trocar sua mulher de 40 por duas de
20...); se o seu interesse é cometer outro pecado, passam a defender este outro
pecado como prática aceitável... e forçosamente vêem-se fora da Igreja, felizes
e contentes à espera do Inferno em alguma seita protestante que aceite os
pecados que lhes interessam.
"Sentimo-nos", é esta a palavra-chave. Ao "conhecer a Bíblia" à maneira
protestante (que na verdade admitiria várias leituras, desde o "conhecer de
vista", sem compreender o significado, até o "conhecer biblicamente",
violentando a Palavra de Deus para benefício próprio ...), a pessoa "se sente"
libertada e não deseja mais "servir homens corruptos e pecadores, que se dizem
infalíveis". Ela arranjou coisa "melhor": passa a servir a si mesmo, ao abismo
negro do orgulho, considerando-se infalível, muitíssimo mais infalível que um
Papa. Afinal, o Papa é infalível apenas ao definir solenemente para toda a
Igreja, falando como Papa, que uma determinada proposição é parte do Depósito
da Fé ou contrária a ele.
O protestante, porém, se julga infalível em sua compreensão bíblica, uma
infalibilidade portanto infinitamente superior. Não seria ele um homem corrupto
e pecador? Certamente. A diferença, porém, é que agora ele serve a si mesmo;
ele, tomando o lema de Satanás, afirma: "non serviam!", não servirei a outro
que não eu...
Não creio que a Igreja a que Constantino, no leito de morte, aderiu tenha jamais
minimizado o valor da Bíblia. Pelo contrário, aliás. O que tem mais valor? Um
vinho excelente, que alimenta e aquece a alma, ou um pacote de bombril, que tem
"mil e uma utilidades" e é usado para qualquer coisa? O que tem mais valor, uma
ferramente precisa que é usada de maneira correta em uma boa oficina ou o
pedaço de ferro que um mecânico de beira de estrada faz ora de martelo, ora de
chave de fenda?
A Igreja dá à Sagrada Escritura todo o seu valor. Os protestantes, ao fazerem
da Sagrada Escritura um mero instrumento para a idolatria de suas opiniões
pessoais, distorcendo-a e reinterpretando-a como bem entenderem para que ela
pareça apoiar suas idéias, fazem dela não mais que um pedaço de ferro nas mãos
de um mau mecânico ou um bombril nas mãos de uma faxineira.
Quanto a "enredar e até intimidar os seus leitores", creio ser uma descrição
bastante acurada do modus operandi do dono do pasquim em que escreve a Sra.
Schultze. pEdir MaisCedo é perito em "enredar e intimidar" os pobres coitados
que arrasta para sua seita de perdição para deles arrancar até o último centavo
enquanto os encaminha para o Inferno...
Que "verdade" é esta que a Igreja teria "ocultado" e "até destruído"? As
supostas seitas protestantes escondidas no meio do mato, fruto da alvissareira
imaginação da Sra. Schultze? Ou as heresias que a Igreja realmente combateu,
como o catarismo (que pregava haver dois deuses, um bom e outro mau, e afirmava
que o matrimônio é obra do demônio), o arianismo (que negava que Deus Pai e
Deus Filho fossem igualmente Deus, à moda dos "Testemunhas de Jeová"), etc.?
A Igreja sempre pregou - não apenas neste período de tempo, mas nos quase vinte
séculos de sua existência - a Verdade, nunca ocultando nada dela e nunca
hesitando em lutar contra a mentira.
A hipocrisia, sim. A violência, não. Ou não seria violência o que Ele fez ao
fustigar os vendilhões do Templo? Ou seria um dos míticos "acréscimos" à
Sagrada Escritura a ordem d'Ele aos discípulos de comprar espadas?
Esta noção de que a violência seria um mal em si é coisa dos últimos cinquenta
anos. O próprio Lutero, que a Sra. Schultze parece admirar - apesar de ter uma
religião bastante diversa da dele, que acreditava por exemplo na Real Presença
de nosso Senhor no Santíssimo Sacramento - autorizou os príncipes a "matar como
cachorros" os camponeses famintos que se revoltavam. As "inquisições"
protestantes mataram enorme quantidade de católicos, de supostas bruxas e de
outros hereges que não entravam em acordo com os poderosos do momento acerca de
interpretações bíblicas.
Não. A Igreja sempre se comportou - não apenas em relação à Bíblia, mas em
relação a toda a Verdade, como sendo, sim, a depositária da Verdade ("Timóteo,
guarda o Depósito"- 1Tim 6,20) e a "Coluna e Fundamento da Verdade" (1Tim 3,15).
A Sagrada Escritura, assim como a Tradição Oral apostólica ("conservai as
Tradiçoes que aprendestes, ou por nossas palavras, ou por nossa carta"- 2Ts
2,14) são sim fontes da Revelação, de que a Igreja é depositária. Compete à
Igreja explicar ("como posso entender, se não há quem mo explique?" - At 8,31)
e expor a Verdade, justamente para evitar a proliferação de seitas que é
causada pela incompreensão da Sagrada Escritura. Aliás, Deus, através da pena
do primeiro Papa, já havia declarado que os ignorantes que lêem a Bíblia não
entendem nada e vão para o Inferno (2Pd 3,16).
Não poderia, caso isto fosse verdade. Como não é, entretanto, a pergunta não
procede. Afinal, foi a Igreja que eliminou a escravidão; foi a Igreja que
impediu - enquanto teve condiçoes para tal - as guerras injustas; foi a Igreja
que - ao contrário do calvinismo posterior - sempre acolheu igualmente os ricos
e os pobres...
Basta ver que a imensa maioria dos Papas, Bispos e padres é oriunda das classes
populares. Rarísimos foram os Papas oriundos de famílias poderosas, e aliás
foram estes os piores Papas.
Mais uma vez, não poderia caso isso fosse verdade. Isto porém não é verdade.
Quem seriam estes "milhões", supostamente assassinados "em nome de Cristo" (que
aliás foi a expressão usada por Lutero para autorizar a chacina dos camponeses)?
Ecumenismo verdadeiro. Sem Cristo não há salvação, pois não há outro nome pelo
qual possamos ser salvos. A Igreja é o Corpo de Cristo. Ou a pessoa entra para
o Corpo de Cristo, ou ela vai cair sentada no colo do Cramunhão assim que bater
as botas. É bastante evidente, não?
Seria uma traição ao Senhor se o contrário fosse pregado, se fosse dito que é
possível salvar-se enquanto se abraça o erro e se nega a Verdade, que é Cristo.
Porque o próprio Senhor, pela pena de São Paulo (pelo jeito, a Sra. Schultze
considera que contrariamente à natureza humana) o sugeriu e afirmou ser melhor
ser celibatário que casado (1 Cor 7,32-33).
Já São Paulo afirma que isto ocorre por abandonar a Deus após tê-l'O conhecido
(Rom 1,21ss). Eu fico com São Paulo.
Além disso, é fácil perceber que o argumento não procede. A imensa maioria dos
homens casados não sente mais alguns anos após o casamento o mesmo desejo que
sentia logo depois. Muitíssimos não têm mais relações com suas mulheres,
vivendo assim em celibato "de facto". Nem por isso eles se tornam
homossexuais!, ou vêm a constituir novas famílias. Se os padres fossem todos
casados (na verdade há muitos padres casados; não só esta é uma disciplina
restrita ao Rito Latino, como mesmo no Rito Latino há padres casados, em grande
parte ex-anglicanos que se converteram e foram ordenados com autorização papal
especial), estes que pecam contra a natureza pecariam contra a natureza do
mesmo jeito. Os que fornicam, provavelmente cometeriam adultério. Exatamente,
aliás, como ocorre entre os padres dos Ritos Orientais e entre os "pastores"
protestantes.O problema deles não é uma suposta "carência de sexo", mas sim uma
verdadeira carência de Graça. Eles deixaram Deus de lado, e foram subjulgados
por sua natureza marcada pelo Pecado Original.
Esta história é apócrifa, e até coloca este mau Papa em uma luz melhor que a
realidade. Ele não quis se casar; ele caiu porque sua devassidão era tão
escandalosa que não se aguentava mais os protestos populares contra suas
milhares de amantes. Este, aliás, é um bom exemplo tanto da causa disso (pois
dificilmente alguém que tem mil amantes como celibatário deixaria de tê-las
caso se casasse!), que é evidentemente o abandono pessoal de Deus, quanto da
garantia divina à Igreja. Qualquer outra organização, qualquer organização
meramente humana, não teria sobrevivido a um péssimo líder como este!
Outro caso de "teria razão se fosse verdade". A Igreja, porém, não mente. Seus
Papas podem mentir, seus Bispos podem mentir, seus padres e leigos também. Vão
aliás para o inferno se mentirem sabendo que o fazem, como é perfeitamente
comprensível e a Igreja ensina. A Igreja, porém, não mente. Quando a Igreja
define um ponto de Fé e Moral, ela está declarando a mais pura Verdade, da qual
ela é a Coluna e o Fundamento.
Estes documentos apócrifos (a Donação e as Pseudo-Decretais) não são parte do
magistério da Igreja. São documentos que foram tidos como verdadeiros por
engano pela imensa maioria dos que creram neles, não algo que a Igreja tenha
definido como fazendo parte do Depósito da Fé (o que seria absurdo, aliás).
Quanto às encíclicas e dogmas, são simplesmente o exercício do múnus de ensinar
que nosso Senhor confiou a São Pedro. São formas de "confirmar os irmãos na
Fé". Eles não atentam contra a lógica, evidentemente (ao contrário do
protestantismo, fundamentalmente irracional. Lutero várias vezes declarou que a
lógica é um instrumento do Demônio...), nem tampouco "proíbem os católicos de
pensar como adultos". Será que afirmar que o quadrado da hipotenusa é igual à
soma do quadrado dos catetos é "proibir os matemáticos de pensar como adultos"?
Um dogma nada mais é que uma explicitação de uma Verdade de fé, um ponto sólido
a partir do qual a pessoa pode raciocinar. Se formos duvidar de tudo a
princípio - como aliás o faz a filosofia moderna - nunca chegaremos a lugar
algum. Se formos negar a existência de Verdades absolutas, como o faz na
prática o protestantismo, teremos - como ocorre no protestantismo - milhares de
seitas mutuamente divergentes. Ah, claro. Os outros não contam. Só são
"cristãos verdadeiros" os que por acaso chegaram à mesma conclusão da Sra.
Schultze, havia esquecido...
Quanto a isto, basta entrar em qualquer livraria católica e em qualquer
livraria protestante para ver quem está a "pensar como adulto". Na protestante,
só bíblias (o único ponto comum de fé de todos os protestantes) e livros que
poderiam ser classificados como "auto-ajuda". Na católica, tratados e mais
tratados de teologia e filosofia, indo mais fundo e mais longe que jamais
sonharia um protestante.
Costumo dizer que o protestantismo é como uma trepadeira que se arrasta pelo
chão por não ter onde se apoiar. Assim que se sai da simples leitura em voz
alta da bíblia surgem discordâncias e diferenças de interpretação. Já o
cristianismo verdadeiro, o católico, tem todo o Depósito da Fé, e apoiado nele,
sobe mais e mais.
Será que a Sra. Schultze estaria negando que Ele é o mesmo, ontem, hoje e
sempre? Se Ele é o mesmo, pode ser representado em qualquer momento de Sua vida
na terra.
Bebezinhos, eu não diria. Crianças, sem dúvida. O próprio Senhor nos disse que
devemos ser como as crianças. Crianças são alimentadas e crescem, assim como
nós somos alimentados pelos Sacramentos e crescemos na Fé e na Santidade. A
metáfora correspondente para o protestantismo, creio eu, é a de Lutero, segundo
a qual os protestantes são como montes de estrume cobertos de neve alva... alva
como um sepulcro caiado.
A maturidade é nesta metáfora a salvação; assim como a criança que não é
alimentada, mas deixada sozinha no meio do mato a catar raízes e matos para
comer dificilmente chegará à maturidade, os pobres protestantes, que ficam por
conta própria tentando descobrir o que é ou não digerível, dificilmente chegam
à Salvação...
A "pobreza" de que fala a Igreja é a pobreza evangélica. Nosso Senhor e os
apóstolos tinham bens (que Judas aliás roubava...). Pobreza evangélica não
significa ausência de bens, sim desapego a eles. Os bens da Igreja sao de dois
tipos: alguns são bens imóveis (obras de arte, igrejas, etc.), que são usados
para a maior glória de Deus; outros são bens móveis (dinheiro), que são usados
para caridade e evangelização.
Se é assim, de qualquer modo, eu poderia perguntar como seu editor pEdir
MaisCedo pode falar de riqueza quando é ele quem arranca todo o dinheiro dos
mais pobres dentre os pobres...
Como lamentavelmente o Index Librorum Prohibitorum não existe mais, é fácil
perceber que sua afirmação é errada.
A guerra movida pelos príncipes e reis (ou seja, pelo poder civil) depois do
fracasso das tentativas da Igreja de eliminar a perigosa heresia dos valdenses
teve realmente muitas vítimas, de ambos os lados.
Se porém a Sra. Schultze considera que os valdenses seriam "cristãos
verdadeiros", terá que aceitar em sua definição de cristianismo verdadeiro os
pontos de fé que eles defendiam:
etc.
O Papa, que evidentemente não era onisciente nem tinha assinatura da CNN, :)
não tinha como saber o que realmente havia ocorrido. Seu sucessor Clemente
VIII, aliás, foi um dos cossignatários do Édito de Nantes, que permitiu que os
hereges continuassem em terras francesas.
De qualquer modo, era tempo de guerra religiosa. Perseguições ainda mais cruéis
foram feitas aos católicos nos países protestantes. Aliás é interessante
perceber que, assim como Islã, o protestantismo só conseguiu impor-se pela
violência e pelo massacre dos cristãos verdadeiros.
seu irmão em Cristo,
Carlos
"Diga-me: por que a Bíblia teria precisado de quase 1.600 anos para ser
entendida corretamente, se ela é teoricamente para se ler e entender?"
Vejamos agora as outras acusações infundadas e perguntas retóricas da Sra.
Schultze:
Afinal, não há absolutamente nenhum vestígio arqueológico de seitas escondidas
no meio do mato copiando Bíblias a mão. Tampouco se sabe de qualquer
linchamento de hereges deste tipo, e nesta época a heresia provocava
normalmente reações bastante violentas do povo cristão. Se fosse descoberto um
só desses grupinhos, certamente eles teriam sido linchados pelo povo enfurecido.
[]s,