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CATOLICISMO

X

PROTESTANTISMO FUNDAMENTALISTA
Partes: Carlos Ramalhete (católico) X Mary Schultze (protestante fundamentalista)
Contribuição: A Hora de São Jerônimo - Debate

II

Caro Prof. Carlos Ramalhete:

Recebi o seu “ramalhete” de perguntas interessantes a respeito da santa, perfeita e inerrante Palavra de Deus, a Bíblia, que sua Igreja não considera como Autoridade Final em matéria de fé e prática de vida.

1. Diga-me a razão para aceitar a Bíblia que um muçulmano não poderia...

R. O Corão é um livro escrito e revisado muitas vezes, conforme as necessidades de adaptação do mesmo aos adeptos do Islamismo. A Bíblia é eternamente inspirada e adaptável a qualquer época e circunstâncias, não precisando, desse modo, de revisões humanas para se adaptar às realidades presentes. Além do mais, quem escreveu o Corão foi Maomé, um homem pecador e corrupto e nele foram feitas várias mudanças, fato reconhecido até por estudiosos islâmicos. Abdolla Sahr, seguidor do “profeta” fez-lhe muitas sugestões no sentido de melhorar o Corão mudando frases, adicionando ou tirando algo que não parecesse convincente, sugestões prontamente aceitas por Maomé. Esse mesmo Sahr acabou deixando o Islamismo, quando finalmente se convenceu de que se o Corão fosse realmente um livro inspirado por Deus não precisaria de tantos melhoramentos. Mais tarde, quando Meca foi conquistada, Sahr foi sentenciado à morte pelo “profeta” por ter sido considerado um herege... e também porque sabia demais... (Provavelmente Maomé era guiado pelos mesmos instintos assassinos de alguns papas do catolicismo, como por exemplo Lotario de Segni, ou Inocêncio III, 1198-1216). Mais tarde Caliph Uthman conseguiu reunir os supostos manuscritos esparsos, contendo as doutrinas de Maomé, padronizando o Corão, que seria aceito a partir do seu tempo.

Alguns manuscritos originais foram destruídos, simplesmente porque havia contradições entre eles (a Igreja Católica tem usado outro expediente em relação às suas doutrinas: corrompeu os manuscritos bíblicos originais através de certos pais da igreja (Orígenes, por exemplo) e tem inventado mensagens recebidas do céu, como a “carta celestial” de Pedro endereçada a Pepino, os decretos de Isidoro (na antigüidade), e as aparições de Maria nos dois últimos séculos, sempre em função do lucro material e do aprisionamento das consciências mal informadas.

Historiadores árabes admitem que, ao contrário de Jesus, que viveu uma vida reta, pura e santa diante de Deus e dos homens, Maomé era mentiroso, enganador, ambicioso, trapaceiro, ladrão e assassino (um protótipo do Papa João XII, ou Jacques Duèse (1316-1334 inventor do escapulário) e do primeiro Papa João XXIII (Baldassare Cossa, 1410-1415), cujo perfil moral foi detalhado pelo falecido arcebispo do Rio de Janeiro, D. Jaime de Barros Câmara, em seu livro “Apontamentos de História Eclesiástica” - Ed. Vozes Ltda., 1942 Petrópolis, RJ).

Quando comparamos a Bíblia com o Corão notamos logo numerosas contradições e conflitos irreconciliáveis sobre assuntos de suma importância. Assim como a Tradição católica tem muitas vezes se chocado contra a Palavra de Deus, o mesmo acontece com o Corão. Por exemplo, o Corão conta algumas das histórias bíblicas, porém de um ângulo completamente diferente. A Bíblia diz que toda a família de Noé foi salva para repovoar a terra após o dilúvio (Gênesis 7); o Corão diz que um dos filhos de Noé, tendo se recusado a entrar na arca, pereceu afogado no dilúvio (Sura 11:42,43). Outro exemplo de choque entre o Corão e a Bíblia é que este confunde Maria, a mãe de Jesus com Miriam irmã de Moisés (Sura 19:28). Obs.: Admira-me que o Corão não tenha sido revisado nos últimos oitenta anos, para confirmar que a Maria, que apareceu em Fátima, cidade batizada com o nome da filha favorita de Maomé, não tenha sido ainda amalgamada com a Fátima do Corão).

O Corão apresenta erros e contradições com referência à história, lugar, tempo, nomes de personagens bíblicos, etc. O Corão afirma que o pai de Abraão se chamava Azar (Sura 6:75), enquanto a Bíblia diz que o seu nome era Terah (Gênesis 19:26,31). Maomé possuía mente fertilíssima. Inventou discursos fictícios de personagens bíblicos, usando palavras como “muçulmano” e “islamismo” (Sura 5:3; 61:7; etc), que não existiam nas línguas contemporâneas das pessoas por ele mencionadas. Obs.: se eu quisesse melhorar o Corão poderia atribuir a Maomé a seguinte frase: “Maldita cristã M.S., por que você, em vez de pilotar um computador e acessar a Internet, não vai pilotar um fogão, que é a ocupação ideal de toda mulher?” Quase todas as palavras atribuídas a Abraão, Isaque, Jacó, Noé, Jesus e outros, no Corão, são obviamente fraudulentas, por conta da tradição muçulmana...

A Bíblia declara textualmente que Jesus Cristo é o Filho de Deus (Atos 8:37, entre outros), porém o Corão nega textualmente a filiação divina de Jesus (Sura 4:171), afirmando que Allah jamais teve um filho!

O Cristianismo está completamente embasado no fato de que Jesus Cristo morreu na cruz pelos pecados dos homens, e ressuscitou no terceiro dia. O Corão rejeita essa doutrina-chave, conforme Sura 4:157. Como vemos, muitas das afirmações do Corão vão de encontro à Bíblia. Cristo ressuscitou e subiu aos céus, assentando-se à destra do Pai Celestial, segundo as Escrituras (Atos 1:9-11; 1 Coríntios 15:3,4; 1 Pedro 3:22 e outros), enquanto os restos mortais de Maomé permanecem na sepultura, em Medina, cidade à qual os muçulmanos fazem peregrinações anuais.

Porém, a diferença maior entre o Corão e a Bíblia é que o Corão prega o extermínio de todos os infiéis e desertores (Sura 4:89 e 5:51), enquanto a Bíblia prega o amor como o mandamento máximo de Jesus Cristo (Mateus 5:44 e Gálatas 5:14 e outros).

Enquanto o Corão foi escrito por um pecador não regenerado e revisado por outros na mesma condição, a Palavra de Deus “nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo" (2 Pe. 1:21). Ela é a nossa única regra de fé e prática, daí porque necessitamos de “Sola Scriptura”, sem o concurso do Magistério e da Tradição de homens, todos falíveis e engajados na conquista de objetivos pessoais. Se Deus necessitasse do Magistério e da Tradição para conduzir o seu povo, não teria dito as seguintes palavras:

  1. "Para sempre, ó Senhor, está firmada a tua palavra no céu...A tua palavra é a verdade desde o princípio e cada um dos teus juízos dura para sempre” (Salmos 119:89,160).

  2. "As palavras do Senhor são palavras puras, como prata refinada em fornalha de barro, purificada sete vezes. Tu as guardarás, Senhor, desta geração, e as livrarás para sempre” (Salmos 12:6-7).

  3. “Santifica-os na verdade. A tua palavra é a verdade” (João 17:17).

  4. "Mas ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema... Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gálatas 1:8-9).

  5. .Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1 Pedro 1:21).

  6. “... Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mateus 22:29).

  7. e ainda: ”Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16-17).

Observação: As citações bíblicas acima são uma tradução literal da Versão Autorizada Bíblia King James, de 1611, embasada nos manuscritos antioquianos, que mais tarde ficaram conhecidos como Textus Receptus. Ao contrário das “bíblias” católicas, todas embasadas nos espúrios textos alexandrinos, como o Vaticanus e o Sinaiticus, a Bíblia King James, mesmo tendo sofrido inúmeros atentados por parte dos jesuítas, durante quase 400 anos, continua correndo o mundo e transformando milhões de pecadores perdidos em cristãos salvos somente através fé em Jesus Cristo. Por tudo isso e muito mais, não posso, nem por um instante, crer que o Corão tenha sido inspirado pelo Deus da Bíblia. Esta é uma ligeira resposta ao item nº 1 do seu debate.

Brevemente voltaremos à sua insigne presença virtual, com novos esclarecimentos.

Mary Schultze

Pax Christi!

Finalmente agora tenho tempo para poder responder ao texto de minha contendora (...).

Esta é uma resposta ao texto que ela enviou como resposta à pergunta seguinte:

    "1 - Por favor, diga-me uma razão para aceitar a Bíblia que um muçulmano não poderia usar para considerar o Corão inspirado por Deus. "

A longa resposta da Sra. Mary Schultze (está certo, minha verborragia habitual não me dá autoridade para chamar sua resposta de longa, mas tudo bem) traz substancialmente como razões:

  1. "O Corão é um livro escrito e revisado muitas vezes, conforme as necessidades de adaptação do mesmo aos adeptos do Islamismo. A Bíblia é eternamente inspirada e adaptável a qualquer época e circunstâncias, não precisando, desse modo, de revisões humanas para se adaptar às realidades presentes";

  2. "Quem escreveu o Corão foi Maomé, um homem pecador e corrupto (...) Historiadores árabes admitem que, ao contrário de Jesus, que viveu uma vida reta, pura e santa diante de Deus e dos homens, Maomé era mentiroso, enganador, ambicioso, trapaceiro, ladrão e assassino";

  3. O Corão contradiz a Bíblia, contendo "numerosas contradições e conflitos irreconciliáveis sobre assuntos de suma importância (...) apresenta erros e contradições com referência à história, lugar, tempo, nomes de personagens bíblicos, etc. [contém por invenção de Maomé] discursos fictícios de personagens bíblicos, usando palavras como “muçulmano” e “islamismo” (Sura 5:3; 61:7; etc), que não existiam nas línguas contemporâneas das pessoas por ele mencionadas. (...) O Corão rejeita essa doutrina-chave [da crucifixão e ressurreição do Senhor, e ] prega o extermínio de todos os infiéis e desertores";

  4. "Enquanto o Corão foi escrito por um pecador não regenerado e revisado por outros na mesma condição, a Palavra de Deus 'nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo' (2 Pe. 1:21)"

Respondo-lhe, porém, QUE:

Nenhuma destas respostas fornece um motivo plausível para aceitar a Bíblia que um muçulmano não poderia usar para considerar o Corão inspirado por Deus.

Afinal, todas as respostas enviadas pressupõem a inspiração e inerrância da Bíblia (que evidentemente não nego, mas que reconheço por razões distintas das de minha contendora). Um muçulmano responderia pressupondo a inspiração e inerrância do Corão, exatamente como ela faz com a Bíblia. A crença na inspiração de um livro, seja um livro realmente inspirado, como a Bíblia, ou um livro mentiroso como o Corão, não pode ser baseada apenas na autoridade subjetiva daquele que afirma que o livro é inspirado. Pressupor a inspiração de um livro é ver-se como autoridade superior ao livro cuja inspiração é benevolentemente outorgada, pois apenas uma instância superior em veracidade e inerrância pode atestar a veracidade e inerrância de um material que lhe é apresentado. Eu reconheço como prova do erro do Corão as suas contradições da Bíblia; um muçulmano, porém, reconheceria nestas contradições uma prova de que a Bíblia estaria errada, não o Corão.

  • Resposta à objeção (a): A recensão do Corão feita pelo Califa Uthman foi feita pouquíssimo tempo após a morte de Maomé. Entre os que reclamaram contra ela estava Aicha, mulher favorita de Maomé, cujo irmão matou o Califa. É em verdade que as controvérsias só foram resolvidas definitivamente no século X, mas ainda hoje há controvérsias em relação ao texto bíblico, o que não ocorre com o Corão. A prova disso são as acusações feitas pela Sra. Mary Schultze contra a Igreja, que ela acusa de haver corrompido as Escruturas. Além disso, os muçulmanos afirmam haver no texto do Corão um "milagre matemático", que faz com que haja padrões matemáticos complexos embutidos no texto, o que seria - afirmam eles - algo que não pode ser atribuído ao acaso. Isto é tido por eles como uma prova da inspiração do Corão. Os judeus, da mesma forma, reconheceram com o auxílio de programas de computador a presença de palavras "escondidas" no Antigo Testamento, cujo texto massorético não encontra objeção no meio judaico (ao contrário das diversas versões do Novo Testamento no meio cristão).

  • Resposta à objeção (b): Um muçulmano diria que Maomé pode ter sido um homem pecador, mas foi o Anjo Gabriel quem ditou a ele o Corão. São Paulo se declara "escravo da lei do pecado" e "vendido ao pecado" (Rom 7), além de ter sido, segundo o próprio texto bíblico, um auxiliar no apedrejamento de Santo Estêvão. O texto bíblico, além disso, foi escrito não pelo próprio Jesus Cristo - que, reconhece o muçulmano, não pecou - mas por vários homens pecadores. Sabemos que eles foram inspirados por Deus, mas o muçulmano, que não reconhece isso, diria que a Bíblia é um monte de textos escritos por pecadores, enquanto o Corão seria para ele um texto ditado por um anjo.

  • Resposta à objeção (c): Um muçulmano diria que as contradições entre o texto bíblico e o Corão mostram que a Bíblia está errada. Ao ler a mensagem de minha contendora e ver que ela acusa a Igreja de corrupção da Bíblia, ele diria que tanto a versão que ela aceita quanto a que eu aceito são corrompidas; a prova disso seria justamente estas contradições.

  • Resposta à objeção (d): Um muçulmano diria que enquanto a Bíblia foi escrita (e falsificada) por vários pecadores ao longo dos séculos, o Corão foi ditado a uma pessoa só, Maomé, pelo Anjo Gabriel ao longo de vinte e três anos. O Corão "é o Livro em que é encontrado guia seguro e sem dúvidas para os que temem a Deus" (Sura 2,2). Apelar para uma afirmação no texto de sua inspiração como prova de que ele é inspirado não faz sentido. Sabemos que o Corão não é inspirado, mas ele se diz inspirado, assim como o Livro de Mórmon e várias outras lorotas. Não é o fato da Bíblia afirmar ser inspirada que prova a sua inspiração!

Além disso, minha contendora avançou vários argumentos que julga provarem o Sola Scriptura. Estes argumentos encontrariam lugar melhor em respostas às outras quatro perguntas que enviei ("2 - Por favor, diga-me porquê a senhora aceita apenas uma parte da Bíblia (afinal, a lista de livros que compõem o Novo e o Antigo Testamento foi determinada ao mesmo tempo - aliás, junto com o título de Mãe de Deus para Nossa Senhora - e a senhora aceita apenas parte do Antigo Testamento), e com que autoridade a senhora o faz; 3 - Por favor, diga-me porque a Bíblia teria precisado de quase 1600 anos para ser entendida corretamente, se ela é teoricamente algo que qualquer um pode ler e entender; 4 - Por favor, explique como alguém pode saber se entendeu a Bíblia corretamente, se ele só pode confiar na Bíblia, e em mais nada; afinal existem cerca de 30.000 seitas protestantes no mundo, cada uma entendendo a Bíblia de maneira diferente e todas achando que estão certas; 5 - Por favor, prove usando apenas a Bíblia que ela é o que a senhora considera que ela seja - ou seja, a única fonte de Verdade Revelada, composta pelos livros que a senhora aceita, todos eles e só eles -; claro que todo mundo sabe que a Bíblia é Palavra de Deus, boa para o ensino, etc. e tal, mas por favor, tente provar que ela é a única fonte de Palavra de Deus, composta pelos livros que a senhora aceita, todos eles e só eles"), mas vejamo-las mesmo assim:

Eu, como filho da Igreja, Coluna e Fundamento da verdade (1 Tim 3,15) nego que a Bíblia seja a única regra de fé e prática do cristão. Minha contendora objeta, pelas seguintes razões:

  1. "Ela [A Bíblia] é a nossa única regra de fé e prática, daí porque necessitamos de “Sola Scriptura”, sem o concurso do Magistério e da Tradição de homens, todos falíveis e engajados na conquista de objetivos pessoais." Exemplos destes homens seriam:
    1. "Lotario de Segni, ou Inocêncio III, 1198-1216 (...)";
    2. "Orígenes";
    3. "Papa João XII, ou Jacques Duèse (1316-1334 inventor do escapulário)"; e
    4. "o primeiro Papa João XXIII (Baldassare Cossa, 1410-1415)".

    Exemplos de ações desonestas destes homens seriam suas acusações de que:
      e. a Igreja "corrompeu os manuscritos bíblicos originais através de certos pais da igreja Orígenes por exemplo"; e
      f. "tem inventado mensagens recebidas do céu, como a 'carta celestial' de Pedro endereçada a Pepino, os decretos de Isidoro (na antigüidade), e as aparições de Maria nos dois últimos séculos, sempre em função do lucro material e do aprisionamento das consciências mal informadas."

  2. "Se Deus necessitasse do Magistério e da Tradição para conduzir o seu povo, não teria dito as seguintes palavras: "Para sempre, ó Senhor, está firmada a tua palavra no céu...A tua palavra é a verdade desde o princípio e cada um dos teus juízos dura para sempre” (Salmos 119:89,160)."

  3. "Se Deus necessitasse do Magistério e da Tradição para conduzir o seu povo, não teria dito as seguintes palavras: "As palavras do Senhor são palavras puras, como prata refinada em fornalha de barro, purificada sete vezes. Tu as guardarás, Senhor, desta geração, e as livrarás para sempre” (Salmos 12:6-7)."

  4. "Se Deus necessitasse do Magistério e da Tradição para conduzir o seu povo, não teria dito as seguintes palavras: “Santifica-os na verdade. A tua palavra é a verdade” (João 17:17)."

  5. "Se Deus necessitasse do Magistério e da Tradição para conduzir o seu povo, não teria dito as seguintes palavras: "Mas ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema... Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gálatas 1:8-9)."

  6. "Se Deus necessitasse do Magistério e da Tradição para conduzir o seu povo, não teria dito as seguintes palavras: "E Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1 Pedro 1:21)."

  7. "Se Deus necessitasse do Magistério e da Tradição para conduzir o seu povo, não teria dito as seguintes palavras: “... Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mateus 22:29)"

  8. "Se Deus necessitasse do Magistério e da Tradição para conduzir o seu povo, não teria dito as seguintes palavras: "Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16-17)."

Respondo-lhe, porém, QUE:

A afirmação de que a Bíblia é a única regra de fé e prática do cristão é contrária à letra e ao espírito da Bíblia.

Afinal, esta afirmação não é encontrada em ponto nenhum da Bíblia. A Bíblia não apenas não registra esta frase, como também afirma textual e repetidamente a importância da manutenção da Tradição Oral (2Ts 3,6; 2Tm 1,13; 1Cor 11,2; 2Ts 2,15). O Apóstolo faz menção a seu ensino oral em 2Ts 2,5ss, e a partir desta menção não considera necessário repetir por escrito o que ensinara oralmente. Afinal, a palavra de Deus é ouvida, como ele mesmo diz em 1Ts 2,13. Esta Tradição Oral é chamada Depósito da Fé. São Paulo diz a Timóteo que guarde o Depósito (em grego, "paratheke" - 1Tm 6,20; 2Tm 1,14), e o transmita (ou "deposite" - "parathou", em grego) oralmente (2Tm 2,2).

Do mesmo modo, o Senhor manda que seja ensinado tudo o que Ele ensinou (Mt 28,20), e muitíssimo do que Ele ensinou não está contido na Bíblia, que se fosse conter tudo o que Ele fez cobriria a face da Terra e ainda assim não bastaria (Jo 21,25).

Do mesmo modo, o Senhor afirma que Pedro ficará até que Ele volte (Jo 21,22).

A Verdade, para ser ensinada a cada geração, deve ter meios infalíveis de transmissão em sua íntegra. Caso contrário, não se poderia saber o que é e o que não é Verdade. A própria existência de centenas de milhares de seitas protestantes concorrentes, cada qual com um credo diferente e todas com a mesma Bíblia, prova que a Bíblia sozinha não é esta forma de transmissão. Além disso, o fato de que a imensa maioria da população sempre foi analfabeta até este século faz da Bíblia um meio menos eficaz de transmissão que a palavra oral. Ainda há o "pequeno detalhe" da necessidade de copiar a Bíblia manualmente até a invenção da Imprensa, o que certamente tornaria bastante difícil a difusão da Verdade se só na Bíblia ela estivesse.

Este meio infalível é a Igreja. Nosso Senhor Jesus Cristo não garantiu a impecabilidade de cada membro da Igreja; pelo contrário, afirmou-nos que o joio e o trigo permanecerão juntos até o fim. Ele, porém, garantiu que as portas do Inferno não prevaleceriam sobre a Igreja. O que são as Portas do Inferno? O erro, a mentira. A Igreja não consegue pregar como verdade o que é mentira, e não pode ser destruída. Estas são as garantias divinas, e só estas.

É pela autoridade da Igreja que reconheço a autoridade da Sagrada Escritura.

  • Resposta à objeção (1): O fato de homens maus terem ocupado (e ocuparem ainda!) posições de preponderância na Igreja só faz comprovar a assistência divina. Que instituição meramente humana se manteria ao longo de quase dois mil anos com tantas pessoas trabalhando contra ela em seu seio?! O fato de haver tantos inimigos da Igreja trabalhando dentro dela mostra o ódio que lhe tem o demônio, que os inspira, e mostra igualmente a assistência divina, que faz com que eles trabalhem em vão. Além disso, é importante perceber que a função de ensinar da Igreja (que, como sua persistência, é assegurada por Deus) nunca foi ultrajada por maus Papas. Até mesmo Papas que apoiavam a heresia antes de suas eleições, como o citado João XII - ou até Pio IX, que tinha veleidades maçônicas - nunca conseguiram pregar heresia ex-cathedra.

    Coisa bastante diferente é vista no meio protestante; é verdade que é fácil afirmar: "mas eu não sigo Lutero - que mandou matar milhares - ou Calvino - idem - ou os puritanos caçadores de bruxas de Massachussets, ou Edir Macedo (que distribui galhinhos de arruda junto com o jornal em que publica os artigos de minha contendora, vende óleo de soja 'santo' e arranca todo o dinheiro dos pobres), ou Jim Jones, ou o 'pastor' que acaba de ser preso por fraude. Sigo a Bíblia". O único problema é que cada um desses seria considerado "evangélico", "salvo", etc. Citar pecados alheios como suposta prova do erro dos outros é fácil, mas não é eficaz. A Igreja jamais pregou que seus membros seriam impecáveis, muito pelo contrário. Somos todos pecadores, dependentes da misericórdia de Deus.

    O importante, porém, é saber o que é ensinado pela Igreja. A Igreja ensina a mesmíssima coisa desde Pentecostes. O protestantismo, porém, é levado por cada vento de doutrina. Lutero inventou o protestantismo, e viu ainda em vida suas idéias serem rejeitadas por outros protestantes. Hoje em dia é raro encontrar dois protestantes que não entrem em desacordo acerca de questões essenciais e básicas, e ambos com a mesma Bíblia debaixo do braço.

    Pecadores existem em toda parte, tanto na Igreja quanto fora dela. A Verdade, porém, é o que importa. E a Verdade está na Igreja.

    • Resposta à objeção (1a): Inocêncio III dificilmente poderia ser considerado um desses homens venais que realmente houve no Trono de Pedro. Ele provocou a ira do Rei João da Inglaterra ao negar-se a aceitar suborno, por exemplo. Outros teriam aceito. Provavelmente suas objeções a Inocêncio III vêm do fato dele haver pregado firmemente a devida autoridade papal e de, entre outra coisas, ter iniciado a Cruzada contra os Cátaros de Albi. Ora, os Albigenses seguiam uma heresia gnóstica dualista, que afirmava haver um deus bom e um deus mau; afirmavam que a reprodução humana era um mal em si (aliás esta tese está na moda hoje em dia...); e sancionavam a fornicação (idem). Além disso, esta heresia negava aquilo que era a base da organização social da época: o juramento. Toda a organização social era baseada no juramento, seja um voto de vassalagem, seja o juramento de proteção por parte do suserano, etc. Negar-se a jurar e ao mesmo tempo pregar doutrinas pervertidas era colocar-se em oposição direta a todos os princípios de funcionamento da sociedade. Hoje em dia temos grupos armados tentando conquistar o poder pela insurreição, desprezando os meios instituídos (eleições, etc.). Os governos tomam ação armada contra estes grupos, no que têm toda razão. Exatamente o mesmo foi feito em relação aos albigenses.

      Note-se porém que o Papa Inocêncio III condenou veementemente os excessos da guerra de conquista em que se transformou a Cruzada, iniciada apenas depois que a busca da conversão dos albigenses feita por meios pacíficos ter fracassado. Ele também é conhecido por sua luta contra a corrupção na Igreja, tendo sido o patrono e sancionador das primeiras ordens mendicantes (de S. Francisco de Assis e S. Domingos).

    • Resposta à objeção (1b): Orígenes não era um copista, que pudesse ter corrompido os escritos bíblicos (mesmo porque em seu tempo já havia tantas cópias dos textos bíblicos que seria impossível substituí-las todas por um texto corrompido, por ele ou por outrem). Apesar de alguns erros que ele cometeu, causados provavelmente por uma má aplicação da filosofia platônica à exegese bíblica, Orígenes foi um grande defensor da ortodoxia cristológica que certamente minha contendora aceita e tem por verdadeira, levantado forte oposição dos nestorianos, arianos, pelagianos, etc. Mais uma vez, com tantos safados na história da Igreja para provar que Deus realmente a sustenta, um mau exemplo foi escolhido. :)

    • Resposta à objeção (1c): João XII dificilmente poderia ser considerado "mentiroso, enganador, ambicioso, trapaceiro, ladrão e assassino". Nas difíceis circunstâncias de seu pontificado, ele até que foi um bom Papa, apesar de bastante centralizador. Apesar de suas posições errôneas antes de sua eleição papal (ele defendeu em livro que os justos falecidos não gozavam de visão beatífica antes do Juízo, mas depois retratou-se), ele defendeu firmemente - apesar da situação de conflito com o Rei Luís - a ortodoxia, condenando a perigosa heresia dos Franciscanos Espirituais (depois apoiados pelo Rei só por serem contra o Papa), segundo a qual Nosso Senhor e os Apóstolos não tinham bem material algum. As consequências desta heresia são tremendas! Muitos foram assassinados por frações destes grupos heréticos, que consideravam que a possessão de qualquer bem material era um crime grave, digno até da pena de morte. Houve certamente papas que correspondiam a esta descrição, mas mais uma vez foi escolhido um que não correspondia.

    • Resposta à objeção (1d): Ah, este era mesmo um safado, "mentiroso, enganador, ambicioso, trapaceiro, ladrão e assassino". Mas não era Papa. Baltazar Cossa foi um antipapa, um falso pretendente ao trono de Pedro. Graças ao bom Deus, porém, ele reconciliou-se com a Igreja e abandonou sua pretensão papal.

    • Resposta à objeção (1e): A suposta corrupção de manuscritos bíblicos, para ser eficiente, dependeria da existência de poucos manuscritos (o que não era o caso) e de fácil acesso a eles para que pudessem ser destruídos e substituídos por versões corruptas. Ora, isso é algo que seria de realização praticamente impossível. Seria necessário um complô de dimensões tremendas, a cumplicidade de milhares de copistas... Esta, aliás, é uma acusação absurda freqüentemente feita pelos muçulmanos, que afirmam que os cristãos teriam tirado da Bíblia as referências a Maomé. :)

      A solução proposta por minha contendora também seria uma negação da Providência divina: segundo ela a Bíblia digna de confiança é a KJV, ao ponto dela traduzir desta versão os versículos que usa. Ora, se levarmos às ultimas consequências suas afirmaçoes, poderíamos dizer que apenas quem lia grego e tinha acesso aos manuscritos que teriam sido usados nesta tradução pôde conhecer a Verdade durante o milênio e meio transcorrido da Ressurreição do Senhor até a confecção desta tradução, e hoje ainda quem não lê inglês não tem acesso à Verdade...

    • Resposta à objeção (1f): Nem a suposta carta de S. Pedro a Pepino, o Breve, nem as pseudo-decretais de Isidoro têm qualquer ponto de falsidade doutrinária, mas tampouco sua autenticidade é artigo de fé! A primeira é apenas uma história piedosa, que não é nem poderia ser a fonte da autoridade do ato papal de coroação de Pepino como Rei dos Francos após a declaração de vacância do trono dos reis "vagabundos". As pseudo-decretais de Isidoro são certamente uma coleção de falsas decretais. A aceitação destas falsas decretais, porém, mostra bem os limites da assistência divina à Igreja. Elas nada continham de incorreto doutrinariamente, nem fariam a Igreja desaparecer. É isto que o Senhor garantiu; a política de cada Papa, sua credulidade, etc., não são nem poderiam ser objeto de assistência divina.

      Quanto às aparições marianas, a coisa é bem diferente. Antes de mais nada, convém lembrar que as aparições marianas (como qualquer revelação particular) não são objeto de fé cristã; o que a Igreja faz é verificar se elas não são contrárias à Sã Doutrina, e dar consentimento para publicação. A Igreja não afirma que nenhuma aparição mariana é legítima.

      Nossa Senhora, porém, houve por bem aparecer algumas vezes (a primeira vez a S. Tiago em Compostela, ainda em vida) para nos prevenir e auxiliar. Suas aparições são normalmente feitas a crianças ou pessoas simples, e frequentemente são acompanhadas de milagres testemunhados por multidões, inclusive por incréus. Se fossem fraudes visando o lucro, como quer minha contendora, seriam certamente eventos mais "chamativos" que uma pequena camponesa francesa dizendo que viu "uma moça". Do mesmo modo, os milagres que acompanham estas manifestações do poder de Deus (posto que é Deus quem permite e realiza as aparições de Sua Mãe), mais que provados por testemunhas e estudos realizados por pessoas que não professam a fé católica, são prova da veracidade do que ocorreu várias vezes.

  • Resposta às objeções 2, 3, 4 e 6: Para usar estes versículos como apoio à heresia protestante do Sola Scriptura, seria necessário provar que apenas a Palavra de Deus Escrita (a Bíblia) pode ser considerada Palavra de Deus. Esta prova - aliás impossível por não ser verdadeira - não foi dada. Nosso Senhor Jesus Cristo não escreveu, falou oralmente. Ele mandou que os Apóstolos pregassem oralmente, e os Apóstolos ordenaram a transmissão oral do Depósito da Fé.

  • Resposta à objeção 5: Para usar este versículo como apoio à heresia protestante do Sola Scriptura, seria necessário não reconhecer o Apocalipse (escrito muito após a Epístola aos Gálatas, e contendo coisas que não estavam presentes nos livros anteriores da Bíblia), além de - se for usado um critério literalmente estrito - todos os versículos posteriores da mesma Epístola.

    Afinal, são coisas diferentes do que já havia sido escrito...

    Além disso, esta é a única epístola aos Gálatas que conhecemos. Este versículo é um dos primeiros de seu primeiro capítulo. Aquilo que S. Paulo havia ensinado aos Gálatas e que ele pede que guardem, portanto, foi-lhes ensinado oralmente. Ele está neste versículo a admoestá-los para que guardem uma tradição oral recebida dele.

  • Resposta à objeção 7: Esta resposta, dada por Nosso Senhor Jesus Cristo aos saduceus (seita que negava a Tradição Oral, pregando que apenas o Pentateuco era inspirado por Deus), cabe bem como prova de que a heresia protestante está errada. Afinal, como seria possível que os saduceus, que pregavam apenas pela Escritura, pudessem ser acusados de não "conhecê-las"?! Isto ocorre porque eles não a compreendiam, já que a tomavam sem o auxílio necessário da Tradição Oral.. Já a multidão que ouviu este diálogo encheu-se de admiração pelas palavras que ouviu.

  • Resposta à objeção 8: Toda a Escritura é indubitavelmente inspirada e proveitosa para estes fins. Não está escrito, porém, que só a Escritura deva ser usada para este fins.

Esperando a resposta às outras quatro questões,

seu irmão em Cristo,

Carlos