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51. Submetemos a nossas respectivas autoridades esta declaração concorde a respeito da autoridade na Igreja. Acreditamos que, se essa declaração sobre a natureza da autoridade e o modo de exercê-la for aceita e posta em prática, esta questão não será mais causa do prosseguimento de uma ruptura na comunhão entre nossas duas igrejas. De acordo com isto, especificamos abaixo alguns aspectos desta concordância, que significam avanços recentes em cada uma de nossas comunhões, bem como certas questões que ainda têm que ser enfrentados por elas. Enquanto caminharmos em direção a uma comunhão eclesial plena, sugerimos formas em que a comunhão existente, embora imperfeita, possa se tornar mais visível através do exercício de uma colegialidade renovada entre os bispos e de um exercício e uma recepção renovados da primazia universal.
Avanços no Consenso
52. A Comissão acredita que já aprofundamos e estendemos nosso consenso com relação a:
53. A Conferência de Lambeth de 1998 reconheceu a necessidade de refletir sobre o modo como a Comunhão Anglicana toma decisões autorizadas. Em nível internacional, os instrumentos Anglicanos de sinodalidade têm autoridade considerável para influenciar e apoiar as províncias; entretanto, nenhum desses instrumentos tem o poder de passar por cima de uma decisão provincial, mesmo se ela ameaçar a unidade da Comunhão. Assim, a Conferência de Lambeth de 1998, à luz do Relatório de Virgínia da Comissão Teológica e Doutrinal Inter-Anglicana, resolveu fortalecer esses instrumentos de várias formas, principalmente o papel do Arcebispo de Canterbury e do Encontro de Primazes. A Conferência também solicitou ao Encontro de Primazes que iniciasse um estudo em cada província "sobre se a comunhão efetiva, em todos os níveis, não requer instrumentos apropriados, com a devida salvaguarda, não apenas para legislação, mas também para supervisão ... bem como no que se refere a um ministério universal a serviço da unidade Cristã" (Resolução III, 8(h)). Ao lado da autonomia das províncias, os Anglicanos estão percebendo que a interdependência entre as igrejas locais e entre as províncias também é necessária para promover a comunhão.
54. A Igreja Católica Romana, principalmente a partir do Concílio Vaticano Segundo, tem desenvolvido gradualmente estruturas sinodais para sustentar a koinonia com mais eficácia. A função estimuladora das Conferências Episcopais nacionais e regionais e a realização regular de Assembléias Gerais do Sínodo de Bispos demonstram essa evolução. Tem havido mudanças, também, no exercício da sinodalidade em nível local, embora isso varie de lugar para lugar. A legislação canônica requer, agora, que homens e mulheres leigos, pessoas da vida religiosa, diáconos e padres tomem parte nos conselhos pastorais paroquiais e diocesanos, em sínodos diocesanos e em vários outros órgãos, sempre que se reunirem.
55. Na Comunhão Anglicana, existe uma procura por estruturas universais que promovam a koinonia, e, na Igreja Católica Romana, um fortalecimento de estruturas locais e intermediárias. Em nossa opinião, esses avanços refletem uma consciência comum e cada vez maior de que a autoridade na Igreja precisa ser exercida de forma apropriada em todos os níveis. Mesmo assim, ainda há questões a serem consideradas pelos Anglicanos e Católicos Romanos relativas a aspectos importantes do exercício da autoridade a serviço da koinonia. A Comissão propõe algumas questões com franqueza, mas na convicção de que precisamos do apoio mútuo ao respondê-las. Acreditamos que, na situação dinâmica e fluida em que são colocadas, a tentativa de respondê-las deve ser acompanhada pelo desenvolvimento de outras etapas em direção ao exercício compartilhado da autoridade.
Questões Defrontadas pelos Anglicanos
56. Vimos que são necessários, em todos os níveis, instrumentos de supervisão e decisão para apoiar a comunhão. Tendo isso em mente, a Comunhão Anglicana está explorando o desenvolvimento de estruturas de autoridade em suas províncias. Estaria a Comunhão também aberta à aceitação de instrumentos de supervisão que iriam permitir chegar a decisões que, em certas circunstâncias, uniriam toda a Igreja? Quando surgem grandes questões que, em fidelidade à Escritura e à Tradição, requerem uma resposta unida, poderão essas estruturas auxiliar os Anglicanos a participar do sensus fidelium com todos os Cristãos? Até que ponto a ação unilateral por parte das províncias ou dioceses em assuntos relativos a toda a Igreja, mesmo após ter havido uma consulta, poderia enfraquecer a koinonia? Os Anglicanos têm se mostrado prontos a tolerar anomalias para manter a comunhão. Entretanto, isso tem levado a um enfraquecimento da comunhão manifestada na Eucaristia, no exercício da espicope na comunicação recíproca do ministério. Quais são as conseqüências disso? Acima de tudo, como os Anglicanos irão considerar a questão da primazia universal que está emergindo de sua vida em comum e do diálogo ecumênico?
Questões Defrontadas pelos Católicos Romanos
57. O Concílio Vaticano Segundo lembrou aos Católicos Romanos como os dons de Deus estão presentes em todo o povo de Deus. Também ensinou a colegialidade do episcopado em sua comunhão com o Bispo de Roma, cabeça do colégio. No entanto, existe participação efetiva do clero e dos leigos em todos os níveis em órgãos sinodais emergentes? Os ensinamentos do Concílio Vaticano Segundo sobre a colegialidade dos bispos foram suficientemente implantados? As ações dos bispos refletem uma consciência suficiente da extensão da autoridade recebida pela ordenação para governar a igreja local? Têm sido tomadas providências suficientes para assegurar as consultas entre o Bispo de Roma e as igrejas locais antes da tomada de decisões importantes que afetam a igreja local ou toda a Igreja? Como a variedade de opiniões teológicas é levada em consideração quando essas decisões são tomadas? Ao apoiar o Bispo de Roma em seu trabalho de promover a comunhão entre as igrejas, as estruturas e os procedimentos da Cúria Romana respeitam adequadamente o exercício da episcope em outros níveis? Acima de tudo, como a Igreja Católica Romana irá considerar a questão da primazia universal na medida em que ela emergir do "diálogo paciente e fraterno" sobre o exercício do ofício do Bispo de Roma para o qual João Paulo II convidou "os líderes da igreja e seus teólogos"?
Colegialidade Renovada: Tornando Visível nossa Comunhão Existente
58. Os Anglicanos e os Católicos Romanos já estão enfrentando essas questões, mas sua resolução pode levar algum tempo ainda. Entretanto, não há volta em nossa caminhada para a plena comunhão eclesial. Com base em nosso consenso, a Comissão acredita que nossas duas comunhões devem tornar mais visível a koinonia já alcançada. O diálogo teológico deve continuar em todos os níveis nas igrejas, mas não é suficiente por si só. Para o bem da koinonia e de um Testemunho cristão unido para o mundo, os bispos Anglicanos e Católicos Romanos devem encontrar formas de cooperar e desenvolver relações de responsabilidade mútua em seu exercício de supervisão. Nesse novo estágio, não precisamos apenas fazer juntos tudo o que pudermos, mas também ser juntos tudo o que nossa koinonia existente permitir.
59. Essa cooperação no exercício da episcope envolveria o encontro regular de bispos em nível regional e local e a participação dos bispos de uma comunhão em encontros internacionais de bispos da outra. Poderia se considerar seriamente, também, a associação dos bispos Anglicanos com os bispos Católicos Romanos em suas visitas ad limina a Roma. Sempre que possível, os bispos poderiam aproveitar a oportunidade de ensinar e agir juntos em aspectos de fé e princípios de conduta. Também devem testemunhar juntos na esfera pública em assuntos que afetam o bem comum. Aspectos práticos específicos da partilha da episcope surgirão de iniciativas locais.
Primazia Universal: Um Dom a Ser Compartilhado
60. O trabalho da Comissão tem tido como resultado um consenso suficiente sobre a primazia universal como um dom a ser compartilhado, até o ponto de poder propor que tal primazia seja oferecida e recebida mesmo antes de nossas igrejas atingirem uma comunhão plena. Tanto os Católicos Romanos quanto os Anglicanos cuidam para que esse ministério seja exercido em colegialidade e sinodalidade — um ministério de servus servorum Dei (Gregório, o Grande, citado em Ut Unum sint, 88). Contemplamos uma primazia que, mesmo agora, irá ajudar a sustentar a diversidade legítima das tradições, fortalecendo-as a salvaguardando-as em fidelidade ao Evangelho, e irá encorajar as igrejas em sua missão. Esse tipo de primazia já poderá auxiliar a Igreja na terra a ser a koinonia católica autêntica, na qual a unidade não diminui a diversidade, e a diversidade não põe em perigo, mas estimula, a unidade. Será um sinal efetivo para todos os Cristãos de como tal dom de Deus constrói essa unidade para a qual Cristo rezou.
61. Esse primaz universal irá exercer a liderança no mundo e também nas duas comunhões, dirigindo-se a elas de forma profética. Promoverá o bem comum sem a coação de interesses setoriais, e oferecerá um ministério de ensino contínuo e próprio, principalmente ao considerar questões teológicas e morais difíceis. Uma primazia universal nesse estilo irá acolher e proteger a investigação teológica e outras formas de busca da verdade, para que seus resultados possam enriquecer e fortalecer a sabedoria humana e a fé da Igreja. Tal primazia universal poderia unir as igrejas em vários tipos de consulta e discussão.
62. Uma experiência de primazia universal desse tipo confirmaria duas conclusões específicas a que chegamos: