»» Colaboradores

AMORIZAÇÃO
José Fernandes Vidal

Saiba o paciente leitor que neste poema pairam conceitos de Teilhard de Chardin.

Saiba que a Cosmologia é uma ciência que a cada dia nos traz a mensagem de uma maravilhosa criação, tão perfeita em seu macrocosmo como em seu microcosmo abissais, em seu desabrochar, como um mecanismo perfeitíssimo, em que as partículas quânticas evidenciam uma quase que consciência, conforme a confissão dos astrofísicos.

Assim como também os microfísicos e biólogos dia a dia vão descobrindo essa mesma mensagem maravilhosa da criação no incomensuravelmente pequeno, perfeitamente ordenada, o mundo material nos aponta a conjugação de esforços em busca de um fim. Ao homem, porém, foi dada a liberdade que o diferencia dos demais seres. Ao homem cabe tomar essa mesma atitude de, sendo indivíduo, viver em função do outro, em processo de amorização, para que haja "um novo céu e uma nova terra". Confesso que quando escrevi esse poema estava embalado na admiração pelas "Elegias de Duíno", de Rainer Maria Rilke.


Visão de mistério moldada objetiva, Anjo da Natureza vero lucífero!
Consciência, reflexão, o Sim e o Não, indivíduo, autônomo, fechado círculo,
peregrino congênito entre as esferas, mire-se no cosmonômico envolvente
carrossel luminescente de anos luz, sistemas fechados sensíveis ao meio,
seguindo confiantes as leis maiores, em si de centração, e de atração ao próximo,
em seu âmbito e no todo interativo, curva embora cerrada em seu arco próprio,
nos infindos siderais a percepção, qual co-reflexão de partículas quânticas.
Mire-se no que saiu de suas mãos, sim, na pequenina, miniatural
jóia de comunhão, modelo do Imenso, mecânica humana de contar segundos,
aderem-se estrelas, conjugados círculos, cada um fechado, se realiza fora,
cadeia de aceitação e transmissão, se não comparte da sensitiva forma,
isolado, colide em desoras, pára. É tão somente um cronômetro quebrado.
Não! Eu não, anjos estranhos decidiram e alicaídos em curso controverso
rompem o Elo íntegro, aliciando aqueles em crisálida alados do Alfa ao Ômega,
das metáforas e sinais Suma Face, Suma Realização da centração última.
Oh! o que há de ser de quem não reflete, alheio aos círculos junto a si partidos,
arco sem corda, sem cântico, intangido arco sem íris, angelitude muda,
morfotropia com o mofo da morte, anjo negro de letal proximidade,
astro que se desgarra, peça quebrada, cometa transviado, um elo perdido.
Sou o Outro, Cristo, o Ser Teândrico foi, Porta e Porto a todos, in quo omnia constant,
constituindo-se Pólo Universal de convergência do Humano e do Divino,
que todos sejam Um, como Ele no Pai, indivíduo em envolvente comunhão.
Desafio a quem nada em mares mortos, rompendo o âmbito do Eu, fazer corrente,
Amor irisado, Ação, Amorização, energia que sente, que doa força,
descentração no Salvo Conduto do Outro, ungidos peregrinos na Cristogênese,
Sim da matéria, Mundo posto a caminho, convergência ao Ponto Ômega desde sempre,
Sim da Consciência, lúcida afirmação, emergência salvífica no Divino,
o primordial Quantum vindo do Nada no Universal Crístico aporta para Ser,
a Face que marca o Eterno se revela.