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A CAMINHO
José Fernandes Vidal

Errantes peregrinos,
atrás das colheitas, gafanhotos,
vândalos pré-históricos, inquietos nômades, isso fomos,
e de todo ainda não perdemos a herança de andorinhas,
em busca sempre da sazão boa.

Mas aprendemos da diva Flora:
Fauna, criamos raízes, raízes cada vez mais profundas.
Começamos por querer ficar, fixação envolvente,
na aderência do materno seio,
lar e exílio primeiros.

Oh! é que somos ambíguos seres, no apego e na procura,
fogo caseiro, sandália errante.
à sua hora, sai de casa o moço e aquela a quem amou,
realizam-se exilados,
sozinhos cultivam sua semente.

E como aderir à nossa terra, se somos emigrantes?
Política degreda patrícios,
preconceito as frágeis minorias, aos vencidos, a guerra,
afugenta a seca o fruto e a caça,
e junto o retirante.

Merecemos um lar. O motivo? Cumprimento divino:
Canaã no horizonte.
Mas o povo que ouviu a Promessa, chorou amargamente.
Mesmo agora, o marginal irmão,
Jó redivivo, morre ao relento.

Lume terno, água fresca,
à sua vez, sombra e sol, ombro amigo,
digno abrigo do que foi primeiro, do que será futuro,
é como deve ser.
Sim, a cada pássaro, seu ninho, andorinha que seja.

Filhos de Eva no exílio,
proclama nosso direito ao lar, essa saudade herdada,
que, miragem, sempre nos seduz, e os olhos no horizonte
é o que nos faz errantes,
mas, assim, estamos a caminho.