A g n u s D e i

A FRAÇÃO DO PÃO
Autor: José Fernandes Vidal

Os dois homens desciam de Jerusalém para Emaús,
suportavam o calor da tarde
do primeiro dia da semana.
Mas não era a canícula
que lhes pesava. O que lhes doía
eram planos desfeitos,
Jesus, seu Mestre, crucificado,
nele, morto e sepultado o Reino.

O Rabi dos sinais também se fora, como outros, mártir.
Mas as mulheres, nesta manhã,
e é verdade que Pedro,
tinham visto o sepulcro vazio.
Vã esperança que só os corroía.

Dessas coisas falavam, quando alguém a eles se juntou.
Mas como? Não o reconheceram?
O sol, o glorificado corpo,
de tal modo os cegava?
Que conversais? questiona o estranho,
que se põe a falar do Messias,
lembrando-lhes velhas profecias,
tudo o que do Cristo predisseram.

Não era necessário que padecesse e entrasse na glória?
Filho de Deus, em Isaías,
não era o Homem das Dores?
Agora, os dois pensavam:
a palavra do estranho, ou o sol,
os aquecia?

Conversando chegaram ao fim da viagem, Emaús.
O homem queria seguir jornada,
mas eram os dois que protestavam:
- Fica conosco, amigo,
já cai a tarde e se esvai o dia.
Amavam suas palavras,
eram como a presença do Mestre,
tal como quando ouviam Jesus.

À mesa do albergue eles se sentaram, em vespertina ceia.
Havia o pão, fraternidade havia.
Tomando o pão, o estranho o benzeu,
e como ensinara, o repartiu.
Mas como? Era o Senhor.
O véu caia.

Assim os de Emaús, na fração do pão viram Jesus,
que logo qual sombra esvaneceu.
Aos dois deixou amor e alegria,
pois vivia, era certo. Vivia!
Em ato eucarístico, a palavra,
o pão e o vinho, haviam repartido.
Germinara a semente do Reino.

Sem demora, na estrada, a Jerusalém foram de volta.
Às mulheres, aos onze, aos discípulos,
contavam como viram Jesus.
Jesus, porém, a nós que não o vimos
deixou-nos um legado de fé:
vivia, e sua palavra, e presença
na Eucaristia.