A g n u s D e i

ANUNCIAÇÃO
Autor: José Fernandes Vidal

Primeiro, encontro a tela bizantina pintada ouro em seda:
a moça está sentada numa cadeira de escabelo e espaldar
e hierático anjo fala e o que diz prende-se na seda calada.
Mas vejo suas sandálias, mensageiro de boa nova ele será.

Quão belos são os pés do mensageiro que anuncia a salvação!

Peregrino cristão, eis o portal da Catedral de Reims real.
Um escultor genial, e a mesma cena, em mármore talhada,
de pé os dois, fala o anjo e, rosto baixo, calada, está a eleita.
Não ouvimos? A pedra fala: - Sim, aceita, diz a face virginal.

Aqui estou, a serva do Senhor. Faça-se segundo tua palavra!

Giotto, tu a retratas em amável quarto cortinado, medieval,
sentada solitária, o anjo se foi, ou nós mortais não o vemos,
em posição de orante, temerosa ou alegre, não sabemos,
mas digna qual sacrário escolhido para o Ungido do Senhor.

Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo. Não temas...!

Um anjo comovente, inspiração angélica é o de Florença.
Martini o põe de joelhos ante à Virgem relutante, quem não sente?
Traz-lhe rama viçosa, e a profecia se faz clara presença
do que disse Isaías sobre a vinda do Messias, dela carente.

Há de brotar uma rama da cepa de Jessé e dela a flor nascerá!

A Virgem ajoelhada em belo pátio de clausura, romano,
Frei Angélico põe-lhe à frente um anjo de asas multicores
que não nos deixa dúvidas do anúncio, subscrito no plano,
mas, vejam, em latim, e ela o entendeu, a mãe da Igreja:

Conceberás e darás à luz um filho e o chamarás Jesus!

Mas afinal me lembro de meu Lucas das Vozes, ilustrado:
moça palestinense que no poço, enche de água seu cântaro,
poderia ser vós, Senhora, eu penso no realismo do achado,
ouvindo o mensageiro, como quando Ele à mulher pediu água.

Bendita hão de chamar-me doravante todas as gerações!