A g n u s D e i

RAZÃO E FÉ
por: Maurício V. de Uzêda

1Deus concedeu ao homem a faculdade de raciocinar, e Ele deseja que a utilizemos. Existem duas maneiras de abusar dessa faculdade. Uma é não utilizá-la. Caso típico da pessoa que não aprendeu a usar a razão é, por exemplo, o daquela que toma por verdade todas as opiniões que lê nos jornais e revistas ou o que ouve nas novelas. Deslumbra-o a simples opinião dos prestigiados pela mídia, aceitando ingenuamente as mais extravagantes e infundadas afirmações dada por quem não tem nenhuma formação.

2No outro extremo está aquele que faz da sua razão um autêntico Deus. É aquele que não crê em nada que não veja e compreenda por si mesmo, ou seja, as verdades são aquelas formuladas por ele mesmo. Nada é verdade a não ser que ele assim o ache. Não é que recuse qualquer verdade que se baseie na autoridade: crerá cegamente na autoridade dos cientistas ainda que não entenda suas teses. O que lhe causa repulsa é a palavra "autoridade" quando se refere à Igreja. Vê com desdém aqueles católicos que respeitam as declarações da Igreja, em sua autoridade.

3Para um católico que raciocina, a aceitação das verdades da fé deve ser uma aceitação inteligente. O católico instruído considera suficiente as claras evidências:

  • de que Deus falou aos homens, e de que o fez, principalmente, por meio de seu Filho;
  • de que Jesus constituiu a Igreja como sua porta-voz, como sua manifestação visível à humanidade;
  • de que a Igreja católica é a mesma que Jesus estabeleceu;
  • de que aos bispos desta Igreja, como sucessores dos apóstolos (e especialmente ao Papa), Jesus Cristo deu o poder de ensinar, santificar e governar espiritualmente em seu nome (Magistério da Igreja, atributo da autoridade).
  • de que a promessa de Jesus Cristo: Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo (Mt 28,20), não teria sentido se a sua Igreja não fosse infalível (atributo da infalibilidade). É o próprio Deus, na figura da terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Divino Espírito Santo, quem garante isto.
  • de que as palavras de Cristo: Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16,18), não teria sentido se a Igreja não fosse permanente (atributo da indefectibilidade).
O homem de fé, pelo uso da razão, pode ver com clareza satisfatória que a Igreja Católica possui este atributos de autoridade, infalibilidade e indefectibilidade.

4Não é raro hoje em dia que a Igreja Católica (em seus Bispos e na figura do Papa) seja criticada por seu "autoritarismo", por ser governada "de cima", ao invés de ser governada "de baixo". Ora a resposta é que a Democracia é algo maravilhoso em matéria de política. A vontade da maioria pode enganar-se, e, muito mais, a de seus representantes, como bem o experimentamos nos últimos anos. Na medida em que seus erros só costumam dizer respeito a assuntos "deste mundo", geralmente podem ser corrigidos sem que o dano produzido seja irreversível. Mas quando o que está em jogo são os direitos de Deus, os deveres do homem para com Deus e a salvação eterna das almas, então não se pode admitir nem a menor margem de erro, porque nestas matérias os erros já não podem ser corrigidos. Por isso, no que diz respeito à Fé e à Moral, Deus preferiu tomar as rédeas em suas próprias mãos, através de seu representante, o Santo Padre, aliás também nomeado por Ele mesmo. E, para o caso de alguém ainda não estar convencido, basta pensar que, sendo infinito, Deus, sozinho, já é maioria...

"Apascenta meus cordeiros, ...apascenta minhas ovelhas" (Jo 21,16) - 5Sim, esta é a missão confiada pelo Senhor a Pedro e a seus sucessores: dirigir e cuidar dos outros pastores que regem o rebanho do Senhor, confirmar na fé o povo de Deus, velar pela pureza da doutrina e dos costumes, interpretar - com a assistência do Espírito Santo - as verdades contidas nas Escrituras. Por isso não deixarei de vos trazer à memória estas coisas, embora estejais instruídos e confirmados na presente verdade. Pois tenho por dever, enquanto habito nesta tenda, manter-vos despertos com minhas exortações,... (2Pd 1,12-15).

6O amor ao Papa é sinal do nosso amor a Cristo. E este amor e veneração devem manifestar-se na petição diária pela sua pessoa e por suas intenções.

7É um amor que deve exprimir-se com maior intensidade em determinados momentos: quando os ataques dos inimigos da Igreja se tornam mais duros, quando as normas morais que o Papa recorda ou precisa, suscitam dúvidas, críticas, conflitos com nosso próprio modo de vida e rebeldias no seio dos próprios católicos. É aí que deve ser provada a nossa fé. No nosso amor à autoridade do Papa, como filhos obedientes que acreditam em seu pai, o Doce Cristo na terra, como dizia Sta. Catarina de Sena. Um amor ativo que supõe não somente a aceitação amorosa de seus "lembretes", que não têm outra intenção que não a de guiarnos e manter-nos no rumo certo, preservando nossas consciências e nossas almas, mas que supõe também a defesa do Santo Padre contra todos os ataques à sua pessoa ou a seus ensinamentos, de todas as formas cabíveis, cada um dentro de suas possibilidades.

Podemos nos deparar com situações em que nossa fé e nossa devoção nos indiquem que algo não vai bem. Podemos sentir a necessidade de alertar nossos bispos sobre algum ponto não considerado em alguma decisão de governo (lembremo-nos que os Bispos receberam a missão de governar), mas nunca em matéria de Fé e Moral. Dirigir exortações a eles, talvez, quando uma intensa oração filial assim nos indicar, mas, como Santa Catarina de Sena, sempre com humildade e respeito pela dignidade com que estão revestidos, pois são "ministros do sangue de Cristo"8.

Peçamos à Maria que interceda por nós junto a seu Filho, para que aumente a nossa fé e que nos dê a sabedoria de sempre fazer bom uso de nossa razão, acatando com amor a autoridade de nosso pastor na terra. Com as palavras de Santa Catarina de Sena, peçamos a Nossa Senhora: "A ti recorro Maria! Ofereço-te minha súplica pela Doce Esposa de Cristo (a Igreja) e pelo seu Vigário na terra, a fim de que lhe seja concedida luz para governar a Santa Igreja, com discernimento e prudência"9.


1"A Fé Explicada", Leo J. Trese, ed. Quadrante.
2Idem.
3Idem.
4"A Sabedoria do Cristão", Leo J. Trese, ed. Quadrante.
5"Falar com Deus", Francisco Fernadez Carvajal, ed. Quadrante.
6Idem.
7Idem.
8Paulo VI, na proclamação de Santa Catarina de Sena como doutora da Igreja.
9Oração, Santa Catarina de Sena.

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