A g n u s D e i

FALAR EM LÍNGUAS
por: Roberto Ednísio/Grupo Nabi

"Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem" (At 2,4).

Falar ou Orar em línguas talvez seja o aspecto mais controverso da Renovação Carismática Católica. Mas sua compreensão, aceitação e prática deixarão de ser considerados dilemas quando o Dom de línguas (ou glossolalia) for tida por aquilo que realmente é: uma forma de oração de louvor , "dom do Espírito Santo", com projeção na vida das pessoas e dos grupos que se dispõem a viver segundo a ação do Consolador.

Podemos dividir o Dom de línguas em três modalidades: Orar em línguas, falar em línguas e cantar em línguas.

Orar em línguas consiste que, em profundo estado de oração, o Espírito Santo manifeste o seu poder e venha auxiliar-nos a conhecer mais profundamente ao Pai, através de gemidos inefáveis (cf. Rm 8,26).

Falar em línguas consiste em proferir uma mensagem da parte de Deus, para a assembléia, numa linguagem aconceitual.

Cantar em línguas consiste em executar hinos e cânticos em línguas inspiradas pelo Espírito Santo à louvar o Senhor.

O Dom de línguas sofre, infelizmente, vários tipos de preconceito. Sendo os mais comuns: desconhecimento de sua base escriturística, ficar na superficialidade do carisma e não penetrar na sua essência, o desconhecimento e, além disso, a ignorância acentuada que têm sobre sua verdadeira realidade e o caso de já se ter a própria língua para louvar a Deus. O fato de ouvir, emitir sílabas ou vocábulos desconexos, sem nenhum conteúdo conceitual, surpreende algumas pessoas e ainda as fazem emitir juízos que deixam em dúvida a normalidade das pessoas que oram em línguas.

Por mais que o Dom de línguas se assemelhe a uma língua humana estruturada e tenha uma significação espiritual, é uma afirmação arbitrária considerar o Dom de línguas como reflexo de uma modificação do estado de consciência, proveniente de uma excitação, de um transe.

Assim também não faz sentido em afirmar que o Dom de línguas corresponde a um estado "estático", pois o êxtase comporta uma exaltação emocional que torna o indivíduo mais ou menos inconsciente do mundo exterior e lhe tira, de certa forma, a consciência e o controle de si mesmo.

A oração em línguas põe em jogo toda a personalidade. Dela constituem parte importante e insubstituível os sentimentos. No entanto, o "orar em línguas" não está ligado a uma excitação emocional (emocionalismo). Não há estado psíquico no qual a vida afetiva não intervenha. Existe uma profunda e íntima relação entre as situações afetivas e as outras formas psíquicas.

O que é, então, a oração em línguas? Eis algumas características:

  • Linguagem não-racional: "Aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus" (1Cor 14,2). Trata-se de uma expressão livre dos artifícios de uma língua construída pelos homens. É um veículos de idéias e sentimentos.
  • Linguagem que se "assemelhe" às línguas conceituais: Não há gramática para a glossololalia; é um fenômeno parecido a uma linguagem humana em geral, mas não semelhante a uma língua específica. Pelo contrário, ninguém pode determinar um conjunto de regras que o capacite a falar a mesma "língua" que outro falante diferente.
Conhecemos algumas características de Deus, sobretudo por via negativa: Ser espiritual imutável, ilimitado, inacessível ao pecado, justo; e a realidade positiva do que verdadeiramente é: Plenitude da vida e do ser, figura perfeita, mistério do amor, único e incomparável. Por isso, não podemos abarcá-lo com nossa linguagem humana corrente, mas podemos afirmar que o conhecimento de Deus não é alcançado somente com a razão e sim com o coração, quer dizer, com a entrega total da pessoa. Eis o verdadeiro sentido do "dizer o inefável" (cf. Rm 8,26).

Uma das grandes dificuldades em aceitar o Dom de línguas é a mesma de aceitar o reino de Deus com a simplicidade de uma criança (Mc 10,15). Já que no orar em línguas, abandonamo-nos simplesmente e com fé ao Espírito, deixando de lado nosso racionalismo, medo do ridículo e insegurança.

"Aquele que fala em línguas edifica-se a si mesmo" (I Cor 14,4a). Isto significa que se o cristão ora em línguas e nele não há crescimento e testemunho de amor, perdão, serviço e fraternidade, isto quer dizer que fatalmente, o seu "Dom de línguas" não é autêntico.

Ressalto que o mais importante do Dom de línguas não é ele mesmo, mas sim o seu valor libertador e santificador que deve frutificar no dia-a-dia.

Relembro, ainda, aos carismáticos que nem toda emissão de sílabas e vocábulos fonéticos desconexos consiste em oração em línguas, visto que oração significa estar em intimidade com o Senhor, para que o Espírito de Deus dê o seu complemento.

O dom de línguas não é sinal do Batismo no Espírito Santo, mas, simplesmente, mais um modo que o Dinâmico Espírito de Deus suscitou na Igreja para viver esse Batismo e de encontrar e aperfeiçoar o maior de todos os dons: o Amor. A fé dos carismáticos não é firmada em "microfones e instrumentos", mas no amor à Deus e, principalmente, ao próximo que é imagem e semelhança de Deus aqui na Terra.

Orar em línguas é louvar ao Pai em Cristo pelo Espírito Santo que nos expõe à irradiação santificadora gerada pela vivência desse Dom do Espírito que continua fazendo nova todas as coisas.

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