"Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo" (Mt 1, 16).
Deus previra que seu filho nascesse numa família como as outras, pois a vida de Jesus tinha que ser igual à dos demais homens: devia nascer indefeso e, portanto, necessitando de um pai que o protegesse e que lhe ensinasse o que todo o pai ensina aos seus filhos.
Foi no cumprimento dessa missão de protetor de Maria e de pai de Jesus que esteve toda a essência e o sentido último da vida de José. Veio ao mundo para fazer as vezes de pai de Jesus e esposo castíssimo de Maria, da mesma forma que cada homem vem ao mundo com uma missão peculiar, confiada por Deus, que fundamenta todo o sentido da sua vida. Quando o anjo lhe revelou o mistério da concepção virginal de Jesus, José aceitou plenamente a sua missão, e a ela permaneceria fiel até a morte. Toda a sua glória e felicidade consistiram em ter sabido entender o que Deus queria dele e em tê-lo realizado fielmente até o fim.
Foi muito grande o amor de José por Maria. "Devia amá-la muito e com grande generosidade quando, sabendo do seu desejo de manter a consagração que havia feito a Deus, aceitou desposá-la, preferindo renunciar a ter descendência a viver separado daquela a quem tanto amava"1. O seu amor foi limpo, delicado, profundo, sem mistura de egoísmo, respeitoso. E o próprio Deus selou definitivamente a sua união com Maria mediante um novo vínculo que era o comum destino na terra de cuidarem juntos do Messias.
Hoje contemplamo-lo junto à Virgem Maria, que está prestes a dar a luz o seu Filho Unigênito. E fazemos o propósito de viver este Natal ao lado de José: um lugar tão discreto e ao mesmo tempo tão privilegiado.
O mistério de Cristo é, antes de mais nada, o mistério de Maria, o seu grande dia. É a festa da Mãe2. Só Ela penetrou realmente no mistério do Natal. Mas se o mistério da Encarnação dizia respeito sobretudo à Mãe e ao Filho, José passou a participar dele quando o anjo lhe revelou os desígnios de Deus e a missão que deveria cumprir. José foi, assim, o primeiro, depois de Maria, a contemplar o Filho de Deus feito homem, o primeiro a experimentar a felicidade de ter em seus braços Aquele que ele sabia ser o Messias. Imaginemos a cena de carinho e ternura... Contemplou também a felicidade de sua esposa. Viu como Ela contemplava o seu Filho e alegrou-se com isso. Presenciou a chegada dos pastores e dos Magos.
Se procurarmos a intimidade com José nestes dias, ele nos ajudará a contemplar este mistério inexplicável de que foi testemunha silenciosa: a Virgem Maria com o Filho de Deus feito homem em seus braços. Que bom é José! Trata-me como um pai a seu filho. Até me perdoa se tomo o menino em meus braços e fico, horas e horas, dizendo-lhe coisas doces e ardentes!...3
São José compreendeu imediatamente que toda a razão de ser de sua vida era aquela criança, precisamente enquanto criança; como o era também Maria, que o próprio Deus lhe confiara.
Como terá sido o relacionamento de José com Jesus? Como teria atuado a graça em José para que fosse capaz de desempenhar a tarefa de educar o Filho de Deus nos aspectos humanos? José fez de Jesus um artesão, como ele. Jesus, apesar de fisicamente parecido com Maria, devia parecer-se com José no modo de trabalhar, nos traços de seu caráter, na maneira de falar, no seu modo de sentar-se à mesa e de partir o pão... Da maneira de falar e agir de Jesus, que constatamos durante as passagens do Evangelho, deduz-se não somente os traços de Maria, mas também os de José.
Entende-se bem que, depois da Virgem Santíssima, seja José a criatura mais cheia de graça. Unidos a José fica mais fácil abeirar-nos do presépio, onde só se encontra amor, simplicidade, retidão, pureza, dedicação e obediência. Com ele poderemos contemplar Maria e seu Filho. Vamos nos preparar, se não o fizemos até agora, através de uma boa confissão; para tenhamos preparado um lugar para Jesus que quer nascer em nossos corações. Peçamos a José e Maria que nos tornemos simples de coração, como as crianças, para tratar a Jesus Menino.