A g n u s D e i

O SACRIFÍCIO DO CORDEIRO
por: Maurício V. de Uzêda

Pelo pecado o homem se perdera.

Apesar dos dons com que Deus presenteou a natureza humana de Adão e Eva, eles preferiram desobedecer e tentar a aventura de serem donos da verdade e da razão, auto-suficientes para decidirem sobre o que é certo e o que é errado, em outras palavras, serem senhores da moral sem terem recebido tal poder (soa como algo que conhecemos?), serem como Deuses. Pelo pecado, perderam sua condição de filhos de Deus, perderam a vida da Graça em suas almas, a amizade com Deus. Deus, ofendido, poderia ter abandonado a humanidade à triste sorte da condenação. E seria mera justiça.

Deus decidiu, entretanto, salvar o homem.

De que modo?

Os atos de sacrifício que pediu aos homens do povo escolhido não tinham valor algum por si mesmos além de manter neles a noção de seu dever de louvar o Criador. Como conseguir que sacrifícios de cabras, cordeiros e novilhos tivessem valor suficiente para pagar nossa dívida?

1A Infinita Majestade, em sua maravilhosa sabedoria, decretou uma medida de sublime liberalidade e de bondade, a qual permitiria, ao mesmo tempo, salvar a humanidade, salvaguardar os direitos de justiça, e obter, além disso, uma glorificação perfeita da parte de sua criatura, que deste modo atingiria plenamente o seu verdadeiro fim. Deus decretou que o Filho, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, se tornasse Sacerdote, isto é, que o Verbo, Filho de Deus, se abaixasse à condição humana, para executar, como Homem, representante de toda a sua raça, em honra da Santíssima Trindade, um ato sacerdotal através do qual Deus seria louvado, glorificado e engrandecido, e a humanidade pagaria sua dívida pela ofensa infinita. Convinha que fosse Deus e convinha que fosse homem. Somente este sacerdote é capaz de oferecer a Deus um culto suficiente.

Mas o que é ser Sacerdote?

É ser encarregado por Deus de estabelecer o relacionamento - "religar" - entre a criatura e o Criador, restabelecendo a intimidade perdida. Sacerdote é, pois, a ponte colocada entre o Céu e a terra.

2Quis Deus, em sua sabedoria, que o ato essencial do sacerdócio de Cristo fosse um sacrifício cruento (com derramamento de sangue). Aconteceu no mesmo dia em que os judeus ofereciam o sacrifício do cordeiro, lembrando sua libertação. Exigiu do Homem-Deus a morte cruel da cruz. Ele, o Cordeiro de Deus.

3É tal o alcance do Sacrifício da Cruz que, por si só e de uma só vez, basta para atingir plenamente, e sem restrições, a sua finalidade. Mas se este sacrifício basta para acumular de uma só vez os tesouros da reparação de nossa condição de filhos, resta aplicar esta riqueza (a vida da Graça, a vida de Deus em nossa alma) no espaço e no tempo (através dos sacramentos).

4Jesus Sacerdote não quis que sua grande imolação fosse para nós um fato histórico, fadado a desaparecer pouco a pouco na memória dos homens. Por isso quis que, ao longo dos séculos, se renovasse o seu sacrifício tantas vezes quantas fosse preciso. Com o intuito de perpetuar sua imolação e aplicar aos homens uma parte dos méritos da salvação que nos ganhou, Cristo chama a si alguns homens que o representarão sobre o altar, continuando a oferecer a Deus o seu sacrifício perfeito.

Sim. A perpetuação do sacrifício, do ato sacerdotal de Cristo, é a Santa Missa. Muito mais do que simples reunião dos fiéis para uma oração comum, muito mais que festa. A Missa não é, definitivamente, a lembrança da Santa Ceia, mas, sim, o Calvário. E é sim, também, momento de alegria, porque Cristo ressuscita. Ë sim, momento de alegria, porque O recebemos em corpo e alma na Eucaristia; Deus, a própria fonte da graça.

5O maior "louco" que já houve e haverá é Ele. Ë possível maior loucura do que entregar-se como Ele se entrega, e àqueles a quem se entrega? Porque, na verdade, já teria sido loucura ficar como um menino indefeso... Achou que era pouco: quis aniquilar-se mais e dar-se mais. E se fez comida, fez-se Pão. Divino Louco!

Como é a nossa Missa? Como é que O oferecemos a Deus? Como é que O recebemos? Como é que O tratamos? Porque O recebemos tão friamente, sem fervor?. 6Pensaste alguma vez em como te prepararias para receber o Senhor, se apenas se pudesse comungar uma vez na vida?


1"Minha Missa", C. Grimaud, ed. Vozes.
2Idem.
3Idem.
4Idem.
5"Forja", Josemaria Escrivá, ed. Quadrante.
6Idem.

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