A g n u s D e i

O VINHO DOCE DE DEUS
por: Roberto Ednísio

Ao presenciarem o acontecimento de Pentecostes, algumas pessoas responderam "estão todos embriagados de vinho doce" (At 2,13).

Este trecho pode representar muito bem, nos dias atuais, o nosso desconhecimento sobre a Pessoa do Espírito Santo.

Consubstanciado com o Pai e transubstanciado com o Filho na eucaristia, esse mesmo Espírito é o que move e que se faz presente dentro da Igreja nos sacramentos e alegrando, edificando e exortando, quando preciso, o povo de Deus, através de seus pastores.

O Antigo Testamento proclamava manifestamente o Pai, mas obscuramente o Filho. O Novo Testamento manifestou o Filho, fez entrever a divindade do Espírito. Agora o Espírito tem direito de cidadania entre nós e nos concede uma visão mais clara de si mesmo (CIC 684).

Este mesmo Espírito era o que animava os profetas a denunciar as injustiças e proclamar a paz.

Apesar de já caminhar pelas águas desde a Criação (cf. Gn 1,2) a Pessoa do Espírito Santo só foi reconhecida no Batismo de Jesus quando desceu como pomba desce, e não, necessariamente, em forma de pomba. Essa forma de pomba foi tirada do tempo de Noé, a pomba solta por ele voltou com um ramo de oliveira no bico, sinal de que a terra era de novo habitável. Assim o Espírito paira sobre Jesus para mostrar ao mundo que há possibilidade de vida nova e em abundância.

Fruto do amor entre o Pai e o Filho, forma com eles o maior e mais completo modelo de comunidade e sociedade: a Santíssima Trindade. Esta mesma que prega a igualdade e o amor mútuo.

Com sua ação santificante, busca edificar sua igreja derramando sobre ela dons e talentos de valores incalculáveis, para buscarmos encontrar o nossa parte no Corpo de Cristo (cf. 1Cor 12). Ele mostra, no entanto, que o verdadeiro caminho de se chegar ao Pai é o amor (cf. 1Cor 13).

Agindo como intercessor e também como consolador, este Espírito de Amor nos mostra o rosto do Pai, já que não sabemos orar como convém, é ele mesmo que nos socorre com gemidos inefáveis (cf. Rm 8,26). Como que num ato de misericórdia, Deus ousou louvar-se a si mesmo para nos salvar (Santo Agostinho).

No sacramento do Batismo, através Dele, somos agraciados com o novo nascimento em Deus Pai por meio de seu Filho e, no batismo no Espírito Santo vivido no dia-a-dia, conseguimos penetrar num maior estágio de graça e comunhão com o Senhor.

Sobre Ele o próprio Jesus se pronunciou, sentenciando que aquele que pecasse contra o Mesmo, não seria perdoado, isto é, aquele que de livre e espontânea vontade se posicionar contra o projeto libertador de Jesus, pois Jesus assim o realiza "movido pelo Espírito".

E a este mesmo Espírito foi confiada a Virgem Maria como esposa e Ele, além de fazer conceber o Salvador, fecundou a semente de santidade, ternura e serviço provenientes dessa divina união.

Ah, se, verdadeiramente, conhecêssemos o Dom de Deus, certamente seríamos nós que pediríamos "Dá-me de beber" e Ele nos daria uma água viva para afogar a nossa acomodação e alienação, matando nossa sede de paz, união e justiça.

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