A g n u s D e i

O ESPÍRITO SANTO E A GRAÇA
por: Maurício Uzêda

Quando chegou o dia de Pentecostes [festa Judaica celebrada cinquenta dias depois da Páscoa, na qual se davam graças a Deus pela safra do ano], estavam todos juntos num mesmo lugar. E sobreveio de repente um ruído do céu, como de um vento impetuoso, que encheu toda a casa em que se encontravam. E apareceram-lhes como línguas de fogo, as quais, repartindo-se, pousavam sobre cada um deles. E ficaram cheios do Espírito Santo... ( At 2 1,4)

1O vento impetuoso do dia de Pentecostes exprime a nova força com que o Amor divino irrompe na Igreja e nas almas. O fogo produz luz, e significa o novo resplendor com que o Espírito Santo faz compreender a doutrina de Jesus Cristo.Sim! É este mesmo Espírito Santo que recebemos no Batismo. 2Quando nos batizamos recebemos a graça santificante pela primeira vez. Deus, na pessoa do Espírito Santo, estabelece sua morada em nós. Com a sua presença, comunica à alma essa qualidade sobrenatural (a Graça Santificante) que faz com que, de uma maneira grande e misteriosa, Deus Pai se veja em nós e, consequentemente, nos ame. E já que esta graça santificante nos foi conquistada por Jesus Cristo, por ela estamos unidos a Ele. Deus Pai, por conseguinte, nos vê como o seu Filho, e cada um de nós se torna filho de Deus.

Podemos considerar o Espírito Santo como um pintor que vem pintar, na tela de nossa alma, usando as tintas da graça santificante, o retrato perfeito de Jesus Cristo, para que Deus nela contemple seu Filho e a ame.

3Uma vez recebida a graça santificante no batismo, é questão de vida ou morte conservarmos esse dom até o fim. E se fôssemos atingidos pela catástrofe do pecado mortal que expulsa de nossa alma o Divino Inquilino, seria de uma terrível urgência recuperarmos o precioso dom perdido (a vida espiritual, a filiação divina). Este dom perdido supõe nada mais nada menos que a morte de nossa alma para a vida com Deus, que nos criou para a visão beatífica, a união pessoal com Ele (união que é a essência da felicidade no Céu). Para nos tornar capazes de vê-Lo diretamente, Deus nos dará um dom sobrenatural (dom sobrenatural = dom superior aos que a nossa natureza humana nos confere) a que chamamos LUZ DA GLÓRIA. Esta luz da glória, no entanto, não poderá ser concedida senão à alma já unida a Deus pela graça santificante. Se entrássemos na eternidade sem a graça santificante, perderíamos esta união com Deus.

É também importante que incrementemos a graça santificante dentro de nós. Sim! Ela pode e deve crescer. 4Quanto mais uma alma luta por cumprir a vontade de Deus, melhor corresponde à ação do Espírito Santo na sua alma. Na medida em que o "eu" egoísta e egocêntrico se reduz, quando saímos de nós mesmos e de nossas coisas e nos centramos em Deus e na sua vontade, aumenta em nós a graça santificante. E o grau da nossa graça santificante determinará o grau da nossa felicidade no Céu. Sim! Há níveis de felicidade no Céu! Podemos entender isto se pensarmos que maior felicidade terá aquele no qual o retrato de Cristo, pintado pelo Espírito Santo, está mais perfeito. Podemos entender também pensando em duas pessoas que contemplam o teto da Capela Sixtina e sentem um prazer completo à vista da obra de Michelangelo. Mas a que tiver melhor sensibilidade e melhor formação artística obterá um maior prazer que a outra, de gosto menos cultivado. Podemos também entender que nossas almas são recipientes de graça, que aumentam à medida em que a graça cresce em nós. A luz da glória e, portanto, a felicidade no Céu, será proporcional ao tamanho do recipiente. Duas pessoas com diferentes intensidades de graça estarão ambas repletas de felicidade no Céu, porém, na que mais correspondeu e recebeu graças durante a vida, caberá maior grau de felicidade.

Estas são, pois, as três condições em relação à graça santificante: primeiro, que a conservemos permanentemente até o fim, segundo, que a recuperemos imediatamente se a perdemos pelo pecado mortal, e terceiro, que procuremos crescer em graça, com a ânsia de quem tem o Céu como meta.

Esta maravilhosa vida espiritual - a participação na própria vida de Deus que é a graça santificante - cresce de duas maneiras. Com os sacramentos, em especial, e com a oração (vocal ou mental).

Lembremo-nos que os outros sacramentos que temos à nossa disposição para recorrermos ao tesouro que Jesus nos conquistou são: penitência (confissão) e eucaristia. Podemos e devemos procurá-los e recebê-los com frequência. Batismo e Crisma são os sacramentos relacionados à intensidade da presença das graças e dons do Espírito Santo em nossa alma. Os outros sacramentos nos conferem graças específicas (Matrimônio, Ordem e Unção dos Enfermos).

Oração? Sim, oração! Alguma vez você já se ajoelhou em uma igreja silenciosa, talvez depois da Missa, quando todos se retiraram, ou simplesmente ao cruzar com uma em seu caminho, e permaneceu ali alguns minutos, olhando o sacrário ou para uma imagem da Virgem, dirigindo-lhes palavras de súplica, aflição ou devoção? Talvez alguns pensamentos e até algum propósito concreto depois de uma leitura de um bom livro de leitura espiritual (devemos tê-los, e dos bons) ou do evangelho? Sim, isto é oração! Porquê não fazer disto um hábito?

5Para chegarmos ao convívio mais íntimo com o Espírito Santo, nada mais eficaz do que aproximarmo-nos de Nossa Senhora, Esposa do Espírito Santo, que, como ninguém, soube seguir suas inspirações. Os apóstolos, antes do dia de Pentecostes, perseveravam unânimes na oração, com algumas mulheres e com Maria, a Mãe de Jesus. (At 1, 14)


1"A Fé Explicada", Leo J. Trese, ed. Quadrante.
2Idem.
3Idem.
4Idem.
5"Falar com Deus", Francisco Fernandez Carvajal, ed. Quadrante.

Retornar