A g n u s D e i

MAIS VALE OUVIR QUE VER
por: Diógenes Pereira de Araújo

Pelo fato de termos o dom de ver podemos contemplar as belezas da criação, Palavra de Deus não escrita, e pelo mesmo dom de ver podemos ler a Bíblia, Palavra de Deus escrita.

Em ambos os casos, por uma operação mental, pode ocorrer e se aprimorar o nosso ouvir e isto é do agrado do Senhor porque para nosso maior bem: "Foi esta a única ordem que lhes dei: '-Escutai minha voz: serei vosso Deus e vós sereis o meu povo; segui sempre a senda que vos indicar, a fim de que sejais felizes'" (Jr 7,23).

Sempre que o ver contribui para ouvir mais a Deus, o ser humano se torna mais feliz: "Os puros verão a Deus", ou seja, os puros, por trás do que vêem, verão espiritualmente até a Quem não é dado se ver pelos olhos.

Muito embora tudo o que se vê provenha do que não se vê, desde sempre o ser humano teve uma volúpia pelo ver. Hoje em dia há gente mais propensa a ver que a viver.

Por saber disto, já nos primórdios, a insidiosa serpente acenou para Eva com a possibilidade de lhe aumentar a capacidade da visão, desde que comesse do fruto da árvore proibida: "... no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal" (Gn 3,5).

A queda aconteceu assim:

"A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele e o comeu..." (Gn 3,6).

A mulher, após ter visto e comido, tendo pretendido aumentar a capacidade do ver, saiu, isto sim, da fecunda economia do ouvir. Ouvir a Deus. Pretendendo ser igual a Deus perdeu a graça, a filiação divina, o dom da ciência - conhecimentos elevados sem estudo -, a integridade moral, a imunidade e a imortalidade; e o pior: onerou-se com a desgraça, reduziu-se à condição de criatura, escalavrou-se com a doença, acompanhada de dor, e a morte. Adquiriu males: não visíveis, antes, porém, penosamente sensíveis.

O Senhor Deus, na pessoa de Jesus, desenvolveu um projeto em sentido diametralmente oposto - não para dar uma resposta à inveja da invejosa serpente, mas por ser amor. Jesus, pois, tendo vindo e redimido a raça humana, antes de morrer, em outras palavras, antes de se tornar invisível para os homens, tornou possível sua presença no meio de nós sob as espécies de pão e de vinho, ainda que o que se veja seja apenas isto: pão e vinho.

Quando nós comemos e bebemos aquilo que vemos, pão e vinho, nos tornamos Naquele que não vemos. É o momento do ato de fé maior. Reforça-se o ouvir, o obedecer. Crescemos no orar, no amar e na graça para nós primeiro e depois para levar ao mundo carente.

Diante de espécies tão pequenas e humildes ninguém se pode sentir nem um tanto humilhado ou diminuído. Por outro lado, ninguém supera o Oculto em soberania, grandeza e, ao mesmo tempo, em humildade, serviço. O Senhor persevera em ser servidor, através de Sua presença no Pão e no Vinho.


TOMAI E COMEI

Não posso ver além do pão e então
me apego ao que não posso ver pois sei
que atrás do pão se esconde a imensidão
do eterno Criador e Deus e Rei

Não quero caminhar pela visão
De muito do que vejo até cansei
Hei de ligar-me a Deus pela audição
Pela audição a Deus me ligarei

Ao Reino chegarei pelo escutar
pois o escutar a Deus é obedecer
O escutar a Deus faz compreender

que o escutar a Deus é orar e amar
Orar e amar são formas de exaurir
a graça para ao mundo a transmitir.

Retornar