A g n u s D e i

A VERDADEIRA IDOLATRIA
por: Roberto Ednísio

A idolatria é a acusação preferida de certos grupos religiosos contra os católicos. Acusação que é feita em cima de textos "pescados" e de uma leitura fundamentalista da Bíblia.

Há no Antigo Testamento dois importantes textos que proíbem a fabricação de ídolos. Trata-se de Ex 20,4-5 e Dt 5,7-10. Os dois textos se assemelham. Vejamos o que está no livro do Êxodo: "Não faça para você ídolos, nenhuma representação daquilo que existe no céu e na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. Não se prostre diante desses deuses, nem sirva a eles, porque eu, Javé seu Deus, sou um Deus ciumento...". Como entender isso?

Os textos do Êxodo e do Deuteronômio citados acima fazem parte do Decálogo (Dez Mandamentos). Ora, para entendermos corretamente o Decálogo, é preciso entrar por sua porta. E qual é essa porta? É a afirmação inicial: "Eu sou Javé seu Deus que fez você sair da terra do Egito, da casa da escravidão. Não tenha outros deuses diante de mim" (Ex 20,2-3). Sem essa "porta de entrada" é que acontecem acusações contra os outros em nome de Deus e com a Bíblia na mão.

O Decálogo surgiu por causa de um confronto entre os hebreus e os egípcios. Alguns anos antes os hebreus haviam sido libertados da escravidão no Egito. O Egito que tinha sua religião, suas divindades. E essas divindades causavam nada mais nada menos que a escravidão dos hebreus, pois o faraó era visto e adorado como filho da divindade. Ele, "filho da divindade", decretara o fim dos hebreus. E quem tirou os hebreus da escravidão foi Javé.

A Terra Prometida, que iria ser ocupada pelos hebreus, era uma terra habitada e ocupada. Os reis cananeus, também, "filhos da divindade", que se faziam representações dos deuses, provocavam a morte do povo, dos camponeses.

Portanto, a idolatria de que fala o Decálogo é muito mais do que uma imagem ou estátua. Idolatria é participar de um projeto de sociedade que provoca sempre mais a escravidão e a morte do povo. O Decálogo é uma proposta de sociedade totalmente diferente do projeto social do Egito e dos cananeus. É por isso que o Decálogo proíbe fazer imagens ou representações de Javé, pois facilmente, o povo de Deus confundiria Javé com os ídolos dos povos vizinhos.

Passando, agora, à questão das imagens hoje em dia, podemos nos perguntar, se elas afastam as pessoas do Deus verdadeiro ou se, pelo contrário, ajudam as pessoas a se aproximarem dele. Essa resposta só pode ser dada pela própria pessoa. Se afastam do Deus verdadeiro, são ídolos. Se aproximam, não são ídolos. Aliás os verdadeiros ídolos de hoje são outros. E muitos se prostram diante deles. Para entender melhor isso, basta aprofundar as tentações de Jesus (cf. Mt 4,1-11; Lc 4,1-12).

A idolatria não diz respeito somente aos falsos cultos do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consiste em divinizar o que não é Deus. Existe idolatria quando o homem presta honra e veneração a uma criatura em lugar de Deus, quer se trate de deuses ou demônios (por exemplo o satanismo), do poder, do prazer, da raça, dos antepassados, do Estado, do dinheiro, etc. "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro" diz Jesus (Mt 6,24). Numerosos mártires foram mortos por não adorarem a "besta", recusando-se até a simular o seu culto. A idolatria nega o senhorio exclusivo de Deus, é portanto incompátivel com a comunhão divina. (CIC 2113).

O culto cristão de imagens não é contrário ao primeiro mandamento que proíbe os ídolos. De fato "a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original", e quem "venera uma imagem, venera nela o que nele está pintada". A honra prestada às santas imagens é uma "veneração respeitosa", e não uma adoração que só compete a Deus. (CIC 2132).

Para os católicos, os santos e as imagens são apenas um sinal e nada mais. Ora, se você está andando por uma estrada e encontra uma placa indicando uma direção, é evidente que a placa não é o lugar que você vai, mas simples indicação para onde você deve ir. Os santos e as imagens são como que sinais a indicar o caminho. Os santos e as imagens não são o ponto final de nossa fé. São simples indicações.

Como se vê, não vale a pena usar a Bíblia para brigar uns com os outros. Aliás, essas questões costumam ser resultados de uma leitura desencarnada da Bíblia. E nós devemos desconfiar das propostas religiosas que se baseiam na condenação da fé dos outros. Que valor você dá às religiões ou aos modos de viver a religião que vêem tudo de errado nos outros e procuram ganhar pontos em cima disso?


(Retirado do livro "159 Respostas Esclarecedoras sobre a Bíblia", de José Bortolini, ed. Paulus)

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