A g n u s D e i

A PRÁTICA DA ORAÇÃO MENTAL
por: Maurício Uzêda

"E quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens... Tu, pelo contrário, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, ora a teu Pai..." (Mt 6,5)

Lembremo-nos das palavras do Senhor: "Marta, Marta, inquietas-te e te confundes com muitas coisas, uma só coisa é necessária! Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada" (Lc 10,41-42). Que coisa é essa senão a contemplação, a oração mental, a intimidade com Cristo? Na oração mental estamos com Jesus. Entregamo-nos a Ele para conhecê-Lo, para aprender a amá-Lo1. Não deixeis de orar! - aconselha-nos João Paulo II -. Se não procuras a intimidade com Cristo na oração e no Pão, como podes dá-lo a conhecer?!2

A prática da oração mental pode ser dividida em 7 etapas:

Preparação
Se queremos encontrar a Deus na oração devemos preparar a alma para esse encontro. Devemos procurar evitar a dispersão durante o dia, fomentando o recolhimento interior. Pode haver, em qualquer das situações de nosso dia (contratempos, tempo apertado...), o esforço por dirigir o coração a Deus, oferecendo-lhe com um breve movimento interior, esta ou aquela ação3. Podemos usar de artifícios tradicionais para manter-nos em estado de presença de Deus: Crucifixos, imagens de Nossa Senhora e de São José, ...

O lugar e o horário
O melhor local para fazermos oração é o de Maria, irmã de Marta: aos pés de Nosso Senhor Jesus Cristo4. Foi ela quem escolheu a melhor parte ( Lc 10,42), e essa deveria ser também a nossa escolha; como não nos coube a sorte de conviver com Cristo em suas andanças pela terra, temos de buscá-lo no sacrário mais próximo, com o mesmo encanto maravilhado. Vale a pena fazer o esforço de ir até uma Igreja onde permaneça reservado o Santíssimo Sacramento.5
Se esta visita à "Betânia" não for possível, podemos fazer o que Cristo nos aconselhou: o quarto silencioso ou a sala nas primeiras horas da manhã, uma sala de aula vazia, o escritório num momento apropriado, o local de trabalho nos momentos em que podemos ficar sós ou sem sermos incomodados, sempre com a ajuda de um crucifixo. O importante é reservarmos o(s) melhor(es) momento(s) do dia, cada um dentro de sua atividade específica. Não fazemos oração quando temos tempo, mas sim, reservamos um tempo para sermos do Senhor.6 Na medida do possível - e sempre é possível, quando queremos - convém que fixemos o horário da oração (todos os dias no mesmo horário), e que não seja o último do dia.

O tema
Uma boa oração requer uma cuidadosa escolha do tema. Falar de quê? Dele e de ti: alegrias, tristezas, êxitos, malogros, ambições nobres, preocupações diárias... fraquezas! E ações de graças, e pedidos; e Amor e desagravo...7
Falar Dele é discorrer sobre os dados da fé, e para tal é preciso boa doutrina, é discorrer sobre passagens de sua vida, por-se no lugar de São Pedro, de João, de Maria e de Marta: Rabi, onde moras?; Senhor ensina-nos a orar; Senhor é bom estarmos aqui, façamos uma tenda; e muitas passagens mais...
Falar de nós é mais fácil, não? Quantas confidências fazemos com nosso melhor amigo? O que dizer então do Amigo? Para Deus, sempre seremos como o garotinho que conta ao Pai as sua aventuras, que lhe pede coisas, que se lança em seus braços. Todo o nosso "pequeno mundo" interessa a Ele: nossos afazeres, nossas dificuldades, nossos sonhos e aspirações, nossos esforços por progredir no caminho da santidade...
Em duas palavras, conhecê-Lo e conhecer-te - ganhar intimidade!8

O apoio
É comum que haja dispersão da mente, distrações, que nos percamos em revolver os acontecimentos do dia em nosso pensamento, e que assim nos desviemos do tema de nossa oração. É recomendável tomar um bom livro, escolhendo textos que discorram sobre o tema escolhido para a oração. A oração mental deve ser espontânea, natural como qualquer diálogo, mas o costume de se tomar um bom livro como auxílio não se contrapõe a essa espontaneidade9. Há muitos livros bons que foram escritos especificamente para apoio da oração mental ("Cristo Minha Vida", "Caminho", "Forja", "Sulco", "Falar com Deus"...). Principalmente, podemos fazer uso do Novo Testamento, livros sobre a vida de Cristo, sobre sua Paixão.

Recolhimento
É particularmente importante colocar-nos na presença d'Aquele com quem desejamos falar. Muitas vezes o resto da oração depende destes primeiros minutos. Se nos situarmos verdadeiramente diante de Cristo, uma boa parte da aridez e das dificuldades para falar com Ele desaparecem10. Para nos pormos na presença de Deus, devemos fazer algumas breves considerações à que chamamos "ato de presença de Deus". Podemos, por exemplo, dizer a Jesus: "Meu Senhor e meu Deus, creio firmemente que estás aqui, que me vês e que me ouves. Adoro-te com profunda reverência. Peço-te perdão pelos meus pecados e graça para fazer com fruto este tempo de oração".

A Oração
A maneira habitual de utilizarmos o livro é lermos um breve trecho e, a seguir, deixar que a cabeça discorra, que o coração fale, dando voltas ao tema, aplicando-o à própria vida, tirando conclusões. Quando as idéias parecem ter se esgotado, volta-se a tomar o texto, e assim sucessivamente, até concluir o tempo reservado para a oração11. Não devemos procurar minutos de silêncio, mas sim, momentos de diálogo com Nosso Senhor. A oração transcorrerá, umas vezes, de modo discursivo; outras, talvez poucas, cheia de fervor; e, talvez muitas, seca, seca, seca... Mas o que importa é que tu, com a ajuda de Deus, não desanimes.12

Os propósitos
Normalmente, nossa oração deve encerrar-se com propósitos de melhora pessoal, de mudança de atitudes, de luta em algum ponto concreto de nossa vida. A tua oração não pode ficar em meras palavras, deve ter realidades e consequências práticas. Um propósito pequeno, concreto e factível, costuma ser o melhor fecho para nossa oração: sorrir mais, estudar em um horário fixo lutando contra a distração, engolir as críticas, dirigir-se a Jesus no sacrário cada vez que cruzar com uma Igreja, estudar mais a doutrina da Igreja, oferecer o sacrifício de pular da cama quando o despertador tocar, crescer em amizade com um amigo para lhe falar de conversão, evitar aquela ocasião que te põe em risco de pecar, firmeza para corrigir um filho ou um amigo...
Temos de compreender que não vale a pena fazer oração se não estamos dispostos a sair dela com umas disposições diferentes daquelas que tínhamos ao começar.
Quando duas pessoas se amam, querem estar juntas o maior tempo possível. Isso é o que acontece aos que dedicam diariamente um tempo fixo à oração mental: toda a sua vida se vai transformando em oração. Deixa de haver duas vidas paralelas: por um lado, a vida chamada espiritual, com seus valores e exigências, e, por outro, a chamada vida secular, do trabalho, das relações sociais e familiares, do empenho político e da cultura13.
Como enamora a cena da Anunciação! Maria - quantas vezes temos meditado nisso! - está recolhida em oração..., aplica os seus cinco sentidos e todas as suas potências na conversa com Deus. Na oração conhece a vontade divina; e com a oração converte-a em vida da sua vida. Não nos esqueçamos do exemplo de Nossa Senhora!14


1Falar com Deus, Francisco Fernandez Carvajal, ed. Quadrante
2Caminho, Josemaria Escrivá de Balaguer, ed. Quadrante
3Como orar? , Pe. Luiz Fernando Cintra, ed. Quadrante
4Idem
5Idem
6Catecismo da Igreja Católica, 2710
7Caminho, Josemaria Escrivá de Balaguer, ed. Quadrante
8Idem
9Como orar?, Pe. Luiz Fernando Cintra, ed. Quadrante
10Idem
11Idem
12Sulco, Josemaria Escrivá de Balaguer, ed. Quadrante
13Christifidelis Laici, João Paulo II
14Sulco, Josemaria Escrivá de Balaguer, ed. Quadrante

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