A g n u s D e i

A PORTA ESTREITA
por: Maurício Uzêda

Enquanto iam a caminho de Jerusalém, alguém pergunta a Jesus: "Senhor, são poucos os que se salvam?"1 ... "Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque vos digo: muitos procurarão entrar e não poderão. ... Como é estreita a porta e como é apertada a senda que leva à Vida, e quão poucos os que acertam com ela"2. A vida é como um caminho que termina em Deus, um caminho que leva à porta de entrada para a vida com Ele. Jesus nos convida ao esforço por entrar nesta porta estreita, de difícil acesso; nos convida à vida de peregrinos, que levam o estritamente necessário e se entretêm pouco nas coisas que vão encontrando a seu redor, porque sabem que estão de passagem. É um caminho árduo e alegre ao mesmo tempo. É árduo sim, pois é caminho de cruz e sacrifício. "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e me siga"3. Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só; mas se morre, dá muito fruto4. Negar-se... enterrar-se... morrer... Cristo nos quer carregando a nossa cruz. Que paradoxo este, que nos diz que é ao longo deste caminho que nos deparamos com a verdadeira alegria. Sim! Ao longo do caminho, não somente ao final. Negar-se e enterrar-se como os pais que abrem mão de uma vida cômoda e confortável, e se dedicam de corpo e alma à formação dos filhos que Deus lhes manda, sendo generosos com o número de filhos na medida de seu coração e não na medida de seu bolso (sem irresponsabilidades). Diferente do egoísmo ou do comodismo de quem não quer "se complicar"; que se esconde sob a desculpa da economia doméstica e da garantia de uma boa educação para os poucos filhos, que irão estudar nas escolas mais caras (não necessariamente se educar) às custas daqueles que não virão à vida.

Negar-se, como o profissional que não regateia esforços e, vencendo a preguiça, se dedica ao seu trabalho até o último detalhe, como a ferramenta de sua santificação, como forma de serviço, não por vício ou puramente pelo dinheiro.

Negar-se, como o estudante que vence o comodismo e afasta a vontade de largar o livro e ligar a TV ou atender ao chamado dos amigos.

Negar-se, como aquele que dedica o melhor de seu tempo aos outros, servindo; como aquele que, atendendo ao chamado da vocação, entrega tudo o que tem, sua própria vida e seu coração, para que esse, sem espaço para mais nada, seja invadido pelo amor de Deus, e adquira o tamanho do coração de Cristo.

Complicar-se, sim! Negar-se, sim! Contra essa filosofia Hedonista que assola nossa sociedade; esta filosofia materialista que preza o que é fácil, o que é gostoso, o que satisfaz e dá prazer, e que abomina o sacrifício, a generosidade, a doação, a dor. Esta filosofia que vai se infiltrando em nossas consciências, atordoando-as até que nos esqueçamos das palavra de Cristo e deixemos de ser luz, de dar sabor.

Quantos de nós, católicos praticantes, sabemos o que é fazer penitência e fazer mortificação ( a forma de fazermos o corpo e a vontade, que tantas vezes nos fazem cair, orarem). Quantas vezes ouvimos falar de amor à Cruz? De fazer da dor e da doença uma forma eficaz de oração? Não estamos começando a achar também que o bom é o que se gosta de fazer e dá prazer, e que devemos afastar nossos filhos de tudo o que custa sacrifício? Quantos casais de noivos são encorajados à generosidade com os filhos em nossos cursos de noivos? Quantos desses cursos transmitem informação segura sobre o que não é dito à respeito dos anticoncepcionais e qual é a orientação da Igreja sobre o controle por métodos naturais, nos casos em que há real justificativa para restringir o número de filhos ( quantos instrutores destes cursos procuraram informação sobre a eficácia do método Billings?). Para que queremos a liberdade se não para manter-nos na decisão de encontrá-LO? Quantas vezes ouvimos, ultimamente, que a forma mais sublime de usar a liberdade é usá-la para entregar-se? Qual é o pai ou a mãe de nosso tempo que se enleva com a idéia de ver seu filho ordenado sacerdote? Quantas vezes ouvimos falar que há alegria (a verdadeira) na Cruz?

Não estaremos começando a buscar na vida um outro caminho, largo e fácil?

O caminho estreito é árduo. Sim, mas no meio dele com certeza encontraremos a felicidade, não aquela que depende do bem-estar material, da saúde - tão frágil - dos estados de ânimo, da ausência de contrariedade, mas uma felicidade que nada pode abalar porque resulta da fidelidade à Deus, da identificação com sua vontade, da aceitação da Cruz5. A Cruz já não é um patíbulo, mas o trono do qual reina Cristo. E a seu lado encontraremos Maria, sua Mãe, Mãe nossa também. A Virgem Santa te alcançará a fortaleza de que necessitas para caminhar com decisão, seguindo os passos do seu filho6.


1Lucas 13, 23
2Mateus7, 14
3Lucas 9, 23
4João 12, 34
5Francisco Fernandez-Carvajal, Falar com Deus, ed. Quadrante
6Josemaria Escrivá de Balaguer, Amigos de Deus, ed. Quadrante

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