A g n u s D e i

POR QUE CONFESSAR-SE?!
por: Maurício Uzêda

"Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Um homem tinha dois filhos, e o mais jovem disse a seu pai "Pai, dá-me a parte da herança que me cabe". Ele repartiu entre eles os seus bens. Passados alguns dias, o filho mais novo, reunindo tudo, partiu para uma terra distante....

Conhecemos esta parábola, não? Quantas vezes a ouvimos sem prestar atenção suficiente para descobrir a mensagem principal. Mais do que falar sobre os filhos - um, ingrato, que desperdiça os bens que seu Pai lhe dá (Nossa liberdade, nossa vontade, nossa alma em graça que nos torna seus filhos), e outro, egoísta, que preocupa-se consigo mesmo, acima do outro, achando-se mais merecedor das atenções do Pai por não ter falhado, mas que não sabe amar - Jesus queria nos falar sobre o Pai. Toda a parábola gira em torno do Pai. O comportamento dos filhos serve para mostrar os traços deste Pai.

Vamos pensar no final da parábola...

O filho pródigo distingue ao longe a fazenda paterna e os campos que a cercam. Treme e diminui o passo; seu coração bate com força. Uma angústia lhe oprime o peito. E se for expulso? No fundo, nada seria mais justo. É só agora que começa a entrever a malícia dos seus pecados. Sente na carne a dureza com que tratou seu Pai. Será capaz sequer de suportar-lhe o olhar? Pouco importa que lhe desperte a cólera, o que importa é que lhe confesse a sua falta. O dia declina e ele avança lentamente.

Um outro coração, porém, bate mais fortemente que o seu: o coração do Pai, que nunca se conformou com a partida do filho. Cada tarde, depois do dia fatal, ele sobe até o terraço, de onde a vista alcança as adjacências. Cada tarde ele perscruta as estradas circunvizinhas, para depois retornar a seus aposentos com o coração um pouco mais doído. E no dia seguinte volta a subir. Quem sabe seu filho regressará hoje?!

Que teria acontecido se, naquela tarde, cansado de esperar, o Pai não tivesse mais ido ao terraço? Ou se o filho não tivesse encontrado senão um criado que o tivesse enxotado? Ou se tivesse topado com o irmão mais velho?!

Naquela tarde foi diferente: Quando ainda estava longe, seu Pai o viu e, compadecido, correu-lhe ao encontro e se lançou ao seu pescoço e o cobriu de beijos.

Que faz esse Pai com a sua dignidade? Que faz com o prestígio da autoridade paterna?

E nós? O que fazemos com o nosso amor?

O Pai tem pressa em recuperar o objeto de sua ternura. O filho nem sequer tem tempo de pronunciar a frase ensaiada: "Pai pequei contra o céu e contra ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho." O pai toma sua cabeça entre as mãos e cobre-o de beijos.

Já lhe ocorreu pensar que nós, ao reconverter-nos pedindo perdão numa boa confissão individual, fazemos a alegria de Deus? É maior a alegria por um pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. Se Jesus não o tivesse dito tão claramente, poderia nos ocorrer que, antes que Deus nos dê a sua alegria, nós podemos dá-la a Ele?

Não descobrimos a gravidade de nossos pecados quando medimos a nossa leviandade ou desleixo, ou tentamos identificar um traço de pesar em nossa consciência. Só descobrimos quando avaliamos, pelas palavras de seu Filho, essa sua alegria pela nossa volta ( e também quando meditamos no sacrifício de Jesus, com a certeza de que o fez por cada um de nossos pecados individuais, Ele que, como Deus, tinha a ciência e a visão de cada um de nós que ainda viríamos ao mundo). Não se trata simplesmente de alegria, é algo maior! É júbilo, regozijo!

Pense no carinho com que Jesus descreve as atitudes deste pai da parábola, que não é outro senão seu Pai! O nosso pecado é tão grave que causamos luto à Deus! Nós O privamos eternamente de um de seus filhos! Isto nos leva à outra parábola: a da ovelha desgarrada, onde, mais uma vez, Jesus mostra seu apreço por nossas almas.

O filho já estava arrependido quando lembrou que na casa de seu Pai ele não tinha que comer a comida dos porcos. Mas, num primeiro momento, faltava-lhe o amor para decidir voltar, e de joelhos se humilhar e pedir perdão. Se o filho tivesse pensado na alegria de seu Pai, ao invés de pensar em sua reprovação, não teria se demorado tanto a se decidir.

Precisamos enraizar em nós, a certeza de que, antes que nós O amássemos Ele já nos amava quando nos criou. Ele nos ama tanto que, como um Pai que perdeu seu filho amado, está todo dia à nossa espera, sofrendo por nos ter perdido. Pense no quanto Ele lhe deu até hoje: Fé, família, bem estar material, saúde... Pense só em quantas vezes Ele cruzou o seu caminho e mudou a trajetória de sua vida! Como pode negar a Deus o que lhe é devido (seu amor e gratidão)?! O orgulho é algo que nos mata, se nos impede de nos humilharmos diante de Deus, para pedir perdão, ou se nos faz achar que não temos pecados, ou se nos faz pensar que podemos perdoá-los particularmente com Deus, sem a absolvição em uma confissão. Este orgulho nos afasta de Deus terminando por minar a nossa fé, criando uma crosta em nossa consciência que nos faz esquecer dele.

Deus o está esperando, porque, tenha certeza, você está se afastado dele. E para voltar a Ele é preciso que, pensando em seu amor, decida ser humilde, com a simplicidade de uma criança que, com um sorriso aberto, vem se mostrar suja a seu pai, pedindo que a limpe ( é assim que devemos ir a confissão). E esta decisão não se consegue sozinho. É preciso pedir que Ele o ajude a quebrar a crosta.


Adaptação do livreto "O Filho Pródigo", ed. Quadrante.

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