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TERTULIANO: APOLOGIA |
» CAPÍTULO XIX
A grande antigüidade, antes de tudo, dá autoridade àqueles escritos. Vossa
religião, também, pede fé baseada no mesmo fundamento. Sim, todas as
substâncias, todos os materiais, as origens, classes, conteúdos de vossos
mais antigos escritos, além da maioria das nações e cidades ilustres que
recordam o passado e são notáveis por sua antigüidade nos livros de anais,
as próprias formas de vossas cartas, tudo que revela e conserva os
acontecimentos, e - penso que falo coerentemente - vossos próprios deuses,
vossos próprios tempos, oráculos e ritos sagrados são menos antigos do que a
palavra de um único profeta, no qual encontrareis o tesouro da integral
religião judia e, consequentemente, da nossa.
Caso tenhais ouvido falar de um certo Moisés, digo-vos que ele é muitíssimo
mais antigo do que o argeu Ínaco, em aproximadamente quatrocentos anos. Ele
é anterior a Dânaos, vosso mais antigo nome. Antecedeu por um milênio a
morte de Príamo. Posso afirmar, também, que viveu quatrocentos anos antes de
Homero, existindo fundamentos para essa afirmação. Os outros profetas,
também, embora de datas posteriores, são, mesmo os mais recentes, tão
antigos quanto o primeiro de vossos filósofos, legisladores e historiadores.
Aqui faço apenas uma afirmação, não apresentando as provas, não tanto
porque isso é difícil, mas devido à amplitude da apresentação de toda a
fundamentação. O trabalho não seria somente árduo, mas sobretudo tedioso.
Requereria o apressado estudo de muitos livros, os dedos ocupados em
folheá-los.
As histórias das mais antigas nações, tais como dos Egípcios, dos Caldeus,
dos Fenícios teriam de ser exploradas. Igualmente teriam de ser consultados
para apresentarem seus testemunhos homens dessas várias nações, com suas
informações. Mâneto, o Egípcio, Beroso, o Caldeu, e Hierão, o Fenício, rei
de Tiro, assim como seus sucessores, Ptolemeu o Mendesiano, Demétrio de
Falero, O Rei Juba, Apião, Thallo, e o crítico de todos eles, Josefo, da
própria nação judia, o pesquisador da história antiga de seu povo, que os
confirma ou os refuta.
Igualmente, deveriam ser postas lado a lado as listas dos censores gregos, e
esclarecidas as datas dos acontecimentos, para que as conexões cronológicas
pudessem ser feitas, bem como usadas as narrativas dos vários anais para
lançar mais luz sobre o assunto. Deveríamos seguir aprofundando as histórias
e literaturas de todas as nações. Mas, de fato, já vos trouxemos a prova
parcial, fornecendo-vos as sugestões de como o estudo poderia ser realizado.
Parece-nos melhor deixarmos para outra ocasião a discussão disso tudo, com
receio de que em nossa pressa não possamos aprofundá-lo suficientemente, ou
de que no manuseio disso tudo façamos uma digressão demasiadamente extensa.