»» Patrística

APOLOGIA
de Aristides de Atenas

Tradução: Carlos Martins Nabeto

CONCLUSÃO SOBRE A FALSA RELIGIÃO POLITEÍSTA

XIII. Assim, se extraviaram gravemente os egípcios, os caldeus e os gregos, introduzindo tais deuses, fazendo imagens deles, e divinizando os ídolos surdos e insensíveis.

E me admira como vendo seus deuses serrados, destruídos pelo fogo, cortados pelos artífices, envelhecidos pelo tempo, dissolvidos e fundidos não compreendam que não existem tais deuses pois, quando nenhuma força possuem para sua própria salvação, como poderão ter providência pelos homens?

Mas seus poetas e filósofos, querendo com seus poemas e obras glorificar os seus deuses, não têm feito outra coisa senão descubrir suas vergonhas e torná-las desnudas para todos; pois, se o corpo do homem, ainda que seja composto por muitas partes, não despreza nenhum de seus membros, mas, conservando-os todos em irrompível unidade, mantendo-se sempre unidos, como poderia ocorrer na natureza de Deus tamanha batalha e discórdia? Ora, se a natureza dos deuses é uma, não deve um deus perseguir outro deus, nem degolá-lo ou machucá-lo. E se os deuses têm perseguido uns aos outros, e se degolaram, roubaram e foram fulminados, já não há uma só natureza, mas pareceres divididos e todos maléficos, de forma que nenhum deles é Deus. Portanto, é claro - ó Rei - que toda a teoria sobre a natureza desses deuses é puro extravio.

E como não compreenderam os gregos sábios e eruditos que, ao estabelecer leis, seus deuses são condenados por essas leis? Pois se as leis são justas, são absolutamente injustos os seus deuses que fizeram coisas contra a lei, como mortes mútuas, feitiçarias, adultérios, roubos e uniões contra a natureza; e se tudo isto que fizeram foi bom, então as leis é que são injustas porque vão contra os deuses. Porém não é isto que ocorre: as leis são boas e justas, pois louvam o bom e proíbem o mau, e as obras dos deuses são ímpias. Ímpios são, portanto, os seus deuses; todos são réus de morte; ímpios também são aqueles que introduzem semelhantes deuses, porque se as histórias que são contadas são mitos, então os deuses não são nada mais que palavras; e se são físicas, já não são deuses os que tais coisas fizeram ou sofreram; e se são alegorias, são estórias e nada mais.

Fique provado então - ó Rei - que todos estes cultos para muitos deuses são obras que extraviam e levam à perdição, pois não se deve chamar deuses às coisas visíveis que não vêem, mas deve-se adorar ao Deus invisível que tudo vê e criou.