A g n u s D e i

APOLOGÉTICA
É possível ligar João Paulo II a São Pedro? (A lista dos papas)

Volta e meia, nestas minhas andanças pela Internet, acesso sites protestantes para tentar descobrir alguma novidade... e não raras vezes encontro! A última que me chamou a atenção diz respeito à fundação da Igreja Católica!

Pela experiência que tenho, sei muito bem que os "evangélicos" não aceitam a autoridade do papa. Também não é para menos: se aceitassem, não seriam protestantes, mas católicos!

Dessa forma, é muito comum ouvirmos distorções sobre a infalibilidade papal, a primazia do romano pontífice e outros assuntos ligados à figura do Bispo de Roma. É certo que essas distorções foram originariamente introduzidas por protestantes contrários à unidade da Igreja, contudo, muitos "evangélicos" de coração sincero acabam por assumir essas posições simplesmente pelo amor que têm às suas comunidades, ocasiando muitas vezes um clima de "Guerra Santa".

Retornando, porém, à minha excursão pela Internet, encontrei um site mantido por um missionário brasileiro nos Estados Unidos, que encontrou uma nova maneira de atingir o papa (e, por extensão, todo o clero católico), distorcendo a História ao afirmar que a Igreja Católica não foi fundada por Cristo ou seus Apóstolos!

E como conseguiu tamanha proeza? Simples... Acrescentou um botão em seu Site entitulado "Heresiologia" e relacionou o Catolicismo Romano como "Religião Para-Cristã", ao lado de outras heresias como Mormonismo, Ciência Cristã, Jeovismo e Armstrongismo (!)... E, para distorcer ainda mais a verdade, colocou como nota introdutória a seguinte expressão:

"Catolicismo Romano - Religião originária na Itália, em torno de 476 [dC]".

É uma pena, porém, que o missionário não tenha disponibilizado o artigo sobre tal afirmação leviana...

No entanto, para quem conhece um pouco de história antiga, vê-se que, para se escrever um artigo desses, é necessário fazer uma verdadeira salada mista. Assim, não é necessário nem esperar a publicação dessa "tese", pois, uma vez que não estará amparada na História - que, felizmente, quanto ao passado, é imutável - torna facílima a refutação.

Poderíamos tecer um longo artigo, mostrando quase que ano a ano, o desenvolvimento da Igreja primitiva até a Igreja atual, porém basta-nos lembrar da sucessão apostólica, isto é, da lista dos Bispos de Roma, a partir do atual papa até chegarmos em Pedro. Se conseguirmos demonstar isso, estará provada que a Igreja Católica atual é a mesma Igreja dos Apóstolos, erguida sobre Pedro, fundada por Jesus Cristo (Mt 16,18).

E isso é algo simples de fazer justamente pelo fato do Cristianismo, ao contrário de muitas outras religiões, ser uma religião histórica. Observe a lista abaixo e repare como podemos chegar até Pedro, príncipe dos apóstolos:

  • 1978 - ....: João Paulo II (Karol Woityla)
  • 1978: João Paulo I (Albino Luciani)
  • 1963 - 1978: Paulo (VI Giovanni Battista Montini)
  • 1958 - 1963: João XXIII (Angelo Giuseppe Roncalli)
  • 1939 - 1958: Pio XII (Eugenio Pacelli)
  • 1922 - 1939: Pio XI (Achille Ratti)
  • 1914 - 1922: Bento XV (Giacomo Marchese della Chiesa)
  • 1903 - 1914: Pio X (Giuseppe Sarto)
  • 1878 - 1903: Leão XIII (Giocchino Vincenzo de Pecci)
  • 1846 - 1878: Pio IX (Giovanni Conte Mastai-Ferretti)
  • 1831 - 1846: Gregório XVI (Bartolomeo Cappellari)
  • 1829 - 1830: Pio VIII (Francesco Saverio Castiglioni)
  • 1823 - 1829: Leão XII (Annibale della Genga)
  • 1800 - 1823: Pio VII (Luigi Barnaba Chiaramonti)
  • 1775 - 1799: Pio VI (Giovanni Angelo Conte Braschi)
  • 1769 - 1774: Clemente XIV (Lorenzo Ganganelli)
  • 1758 - 1769: Clemente XIII (Carlo Rezzonico)
  • 1740 - 1758: Bento XIV (Prospero Lambertini)
  • 1730 - 1740: Clemente XII (Lorenzo Corsini)
  • 1724 - 1730: Bento XIII (Pietro Francesco Orsini)
  • 1721 - 1724: Inocêncio XIII (Michelangelo Conti)
  • 1700 - 1721: Clemente XI (Giovanni Francesco Albani)
  • 1691 - 1700: Inocêncio XII (Antonio Pignatelli)
  • 1689 - 1691: Alexandre VIII (Pietro Ottoboni)
  • 1676 - 1689: Inocêncio XI (Benedetto Odescalchi)
  • 1670 - 1676: Clemente X (Emilio Altieri)
  • 1667 - 1669: Clemente IX (Giulio Rospigliosi)
  • 1655 - 1667: Alexandre VII (Fabio Chigi)
  • 1644 - 1655: Inocêncio X (Giambattista Pamphili)
  • 1623 - 1644: Urbano VIII (Maffeo Barberini)
  • 1621 - 1623: Gregório XV (Alessandro Ludovisi)
  • 1605 - 1621: Paulo V (Camillo Borghesi)
  • 1605: Leão XI (Alessandro Ottaviano de Medici)
  • 1592 - 1605: Clemente VIII (Ippolito Aldobrandini)
  • 1591: Inocêncio IX (Giovanni Antonio Facchinetti)
  • 1590 - 1591: Gregório XIV (Niccolo Sfondrati)
  • 1590: Urbano VII (Giambattista Castagna)
  • 1585 - 1590: Sisto V (Felici Peretti)
  • 1572 - 1585: Gregório XIII (Ugo Boncompagni)
  • 1566 - 1572: Pio V (Michele Ghislieri)
  • 1559 - 1565: Pio IV (Giovanni Angelo de Medici)
  • 1555 - 1559: Paulo IV (Gianpetro Caraffa)
  • 1555: Marcelo II (Marcelo Cervini)
  • 1550 - 1555: Júlio III (Giovanni Maria del Monte)
  • 1534 - 1549: Paulo III (Alessandro Farnese)
  • 1523 - 1534: Clemente VII (Giulio de Medici)
  • 1522 - 1523: Adriano VI (Adriano de Utrecht)
  • 1513 - 1521: Leão X (Giovani de Medici)
  • 1503 - 1513: Júlio II (Giuliano della Rovere)
  • 1503: Pio III (Francesco Todeschini-Piccolomini)
  • 1492 - 1503: Alexandre VI (Rodrigo de Bórgia)
  • 1484 - 1492: Inocêncio VIII (Giovanni Battista Cibo)
  • 1471 - 1484: Sisto IV (Francesco della Rovere)
  • 1464 - 1471: Paulo II (Pietro Barbo)
  • 1458 - 1464: Pio II (Enea Silvio de Piccolomini)
  • 1455 - 1458: Calisto III (Alfonso de Bórgia)
  • 1447 - 1455: Nicolau V (Tomaso Parentucelli)
  • 1431 - 1447: Eugênio IV (Gabriel Condulmer)
  • 1417 - 1431: Martinho V (Odo Colonna)
  • 1410 - 1415: João XXIII (Baldassare Cossa>
  • 1409 - 1410: Alexandre V (Pedro Philargi de Candia)
  • 1406 - 1415: Gregório XII (Angelo Correr)
  • 1404 - 1406: Inocêncio VII (Cosma de Migliorati)
  • 1389 - 1404: Bonifácio IX (Pietro Tomacelli)
  • 1378 - 1389: Urbano VI (Bartolomeo Prignano)
  • 1370 - 1378: Gregório XI (Pedro Rogerii)
  • 1362 - 1370: Urbano V (Guillaume de Grimoard)
  • 1352 - 1362: Inocêncio VI (Etienne Aubert)
  • 1342 - 1352: Clemente VI (Pierre Roger de Beaufort)
  • 1334 - 1342: Bento XII (Jacques Fournier)
  • 1316 - 1334: João XXII (Jacques Duèse)
  • 1305 - 1314: Clemente V (Bertrand de Got)
  • 1303 - 1304: Bento XI (Nicolau Boccasini)
  • 1294 - 1303: Bonifácio VIII (Bento Gaetani)
  • 1294: Celestino V (Pietro del Murrone)
  • 1288 - 1292: Nicolau IV (Girolamo Masei de Ascoli)
  • 1285 - 1287: Honório IV (Giacomo Savelli)
  • 1281 - 1285: Martinho IV (Simão de Brion)
  • 1277 - 1280: Nicolau III (Giovanni Gaetano Orsini)
  • 1276 - 1277: João XXI (Pedro Juliani)
  • 1276: Adriano V (Ottobono Fieschi)
  • 1276: Inocêncio V (Pedro de Tarantasia)
  • 1271 - 1276: Gregório X (Teobaldo Visconti)
  • 1265 - 1268: Clemente IV (Guido Fulcodi)
  • 1261 - 1264: Urbano IV (Jacques Pantaleon de Troyes)
  • 1254 - 1261: Alexandre IV (Reinaldo, conde de Segni)
  • 1243 - 1254: Inocêncio IV (Sinibaldo Fieschi)
  • 1241: Celestino IV (Gaufredo Castiglione)
  • 1227 - 1241: Gregório IX (Hugo, conde de Segni)
  • 1216 - 1227: Honório III (Censio Savelli)
  • 1198 - 1216: Inocêncio III (Lotário, conde de Segni)
  • 1191 - 1198: Celestino III (Jacinto Borboni-Orsini)
  • 1187 - 1191: Clemente III (Paulo Scolari)
  • 1187: Gregório VIII (Alberto de Morra)
  • 1185 - 1187: Urbano III (Humberto Crivelli)
  • 1181 - 1185: Lúcio III (Ubaldo Allucingoli)
  • 1159 - 1180: Alexandre III (Rolando Bandinelli de Siena)
  • 1154 - 1159: Adriano IV (Nicolau Breakspeare)
  • 1153 - 1154: Anastácio IV (Conrado, bispo de Sabina)
  • 1145 - 1153: Eugênio III (Bernardo Paganelli de Montemagno)
  • 1144 - 1145: Lúcio II (Gherardo de Caccianemici)
  • 1143 - 1144: Celestino II (Guido di Castello)
  • 1130 - 1143: Inocêncio II (Gregorio de Papareschi)
  • 1124 - 1130: Honório II (Lamberto dei Fagnani)
  • 1119 - 1124: Calisto II (Guido de Borgonha, arcebispo de Viena)
  • 1118 - 1119: Gelásio II (João de Gaeta)
  • 1099 - 1118: Pascoal II (Rainério, monge de Cluny)
  • 1088 - 1099: Urbano II (Odo, cardeal-bispo de Óstia)
  • 1086 - 1087: Vítor III (Desidério, abade de Monte Cassino)
  • 1073 - 1085: Gregório VII (Hildebrando, monge)
  • 1061 - 1073: Alexandre II (Anselmo de Baggio)
  • 1058 - 1061: Nicolau II (Geraldo de Borgonha, bispo de Florença)
  • 1058 - 1059: Bento X (João de Velletri)
  • 1057 - 1058: Estevão IX (Frederico, abade de Monte Cassino)
  • 1055 - 1057: Vítor II (Geraldo de Hirschberg)
  • 1049 - 1054: Leão IX (Bruno, conde de Egisheim-Dagsburg)
  • 1048: Dâmaso II (Poppo, conde de Brixen)
  • 1046 - 1047: Clemente II (Suidgero de Morsleben)
  • 1045 - 1046: Gregório VI (João Graciano Pierleone)
  • 1033 - 1046: Bento IX (Teofilato de Túsculo)
  • 1024 - 1032: João XIX (conde de Túsculo)
  • 1012 - 1024: Bento VIII (conde de Túsculo)
  • 1009 - 1012: Sérgio IV (Pietro Buccaporci)
  • 1003 - 1009: João XVIII (João Fasano de Roma)
  • 1003: João XVII (Giovanni Sicco)
  • 999 - 1003: Silvestre II (Gerberto de Aurillac)
  • 996 - 999: Gregório V (Bruno de Carínthia)
  • 985 - 996: João XV (?)
  • 983 - 984: João XIV (Pedro Canipanova)
  • 974 - 983: Bento VII
  • 972 - 974: Bento VI
  • 965 - 972: João XIII (João de Nardi)
  • 964: Bento V
  • 963 - 965: Leão VIII
  • 955 - 964: João XII
  • 946 - 955: Agapito II
  • 942 - 946: Marino II (ou Martinho III)
  • 939 - 942: Estevão VIII
  • 936 - 939: Leão VII
  • 931 - 935: João XI
  • 928 - 931: Estevão VII
  • 928: Leão VI
  • 914 - 928: João X (João de Tossignano, arcebispo de Ravena)
  • 913 - 914: Lando
  • 911 - 913: Anastácio III
  • 904 - 911: Sérgio III
  • 903 - 904: Cristovão
  • 903: Leão V
  • 900 - 903: Bento IV
  • 898 - 900: João IX
  • 897: Teodoro II
  • 897: Romano
  • 896 - 897: Estevão VI
  • 896: Bonifácio VI
  • 891 - 896: Formoso
  • 885 - 891: Estevão V
  • 884 - 885: Adriano III
  • 882 - 884: Marino I (ou Martinho II)
  • 872 - 882: João VIII
  • 867 - 872: Adriano II
  • 858 - 867: Nicolau I
  • 855 - 858: Bento III
  • 847 - 855: Leão IV
  • 844 - 847: Sérgio II
  • 827 - 844: Gregório IV
  • 827: Valentim
  • 824 - 827: Eugênio II
  • 817 - 824: Pascoal I
  • 816 - 817: Estevão IV
  • 795 - 816: Leão III
  • 772 - 795: Adriano I
  • 768 - 772: Estevão III
  • 757 - 767: Paulo I
  • 752 - 757: Estevão II
  • 752: Estevão [II] (pontificado de apenas 4 dias)
  • 741 - 752: Zacarias
  • 731 - 741: Gregório III
  • 715 - 731: Gregório II
  • 708 - 715: Constantino
  • 708: Sisínio
  • 705 - 707: João VII
  • 701 - 705: João VI
  • 687 - 701: Sérgio I
  • 686 - 687: Cônon
  • 685 - 686: João V
  • 683 - 685: Bento II
  • 682 - 683: Leão II
  • 678 - 681: Agatão
  • 676 - 678: Dono
  • 672 - 676: Adeodato II (ou Deusdedite II)
  • 657 - 672: Vitaliano
  • 654 - 657: Eugênio I
  • 649 - 655: Martinho I
  • 642 - 649: Teodoro I
  • 640 - 642: João IV
  • 638 - 640: Severino
  • 625 - 638: Honório I
  • 619 - 625: Bonifácio V
  • 615 - 618: Adeodato I (ou Deusdedite I)
  • 608 - 615: Bonifácio IV
  • 606 - 607: Bonifácio III
  • 604 - 606: Sabiniano
  • 590 - 604: Gregório I Magno
  • 579 - 590: Pelágio II
  • 575 - 579: Bento I
  • 561 - 574: João III
  • 556 - 561: Pelágio I
  • 537 - 555: Vigílio
  • 536 - 537: Silvério
  • 535 - 536: Agapito (ou Agapeto)
  • 533 - 535: João II
  • 530 - 532: Bonifácio II
  • 526 - 530: Félix III
  • 523 - 526: João I
  • 514 - 523: Hormisdas
  • 498 - 514: Símaco
  • 496 - 498: Anastácio II
  • 492 - 496: Gelásio I
  • 483 - 492: Félix II
  • 468 - 483: Simplício
  • 461 - 468: Hilário (ou Hilaro)
  • 440 - 461: Leão I Magno
  • 432 - 440: Sisto III
  • 422 - 432: Celestino
  • 418 - 422: Bonifácio I
  • 417 - 418: Zózimo
  • 402 - 417: Inocêncio I
  • 399 - 402: Anastácio I
  • 384 - 399: Sirício
  • 366 - 384: Dâmaso I
  • 352 - 366: Libério
  • 337 - 352: Júlio I
  • 336: Marcos
  • 314 - 335: Silvestre I
  • 310 - 314: Melcíades
  • 308 - 310: Eusébio
  • 307 - 309: Marcelo I
  • 296 - 304: Marcelino
  • 282 - 296: Caio
  • 274 - 282: Eutiquiano
  • 268 - 274: Félix I
  • 260 - 268: Dionísio
  • 257 - 258: Sisto II
  • 254 - 257: Estevão I
  • 253 - 254: Lúcio I
  • 251 - 253: Cornélio
  • 236 - 250: Fabiano
  • 235 - 236: Antero
  • 230 - 235: Ponciano
  • 222 - 230: Urbano I
  • 217 - 222: Calisto I
  • 199 - 217: Zeferino
  • 189 - 199: Vítor I
  • 174 - 189: Eleutério
  • 166 - 174: Sotero
  • 154 - 165: Aniceto
  • 143 - 154: Pio I
  • 138 - 142: Higino
  • 125 - 138: Telésforo
  • 116 - 125: Sisto I
  • 107 - 116: Alexandre I
  • 101 - 107: Evaristo
  • 90 - 101: Clemente I
  • 79 - 90: Anacleto (ou Cleto)
  • 64 - 79: Lino
  • 33 - 64: Pedro Apóstolo

Vemos, assim, que o papa João Paulo II é o 265º sucessor de Pedro, numa linha sucessória não interrompida.

Logo, não é verdade afirmar que a Igreja Católica se originou na Itália em 476, como afirma o missionário protestante. Aliás, seria muito estranho que bem no meio do pontificado de Simplício (468-483) fosse fundada a Igreja Católica. Na verdade, o que ocorreu em 476 foi a queda do Império Romano do Ocidente, em virtude da invasão dos povos bárbaros e de uma série de crises internas. Portanto, o ano de 476, segundo os historiadores, marca o ínicio da Idade Média e não a criação da Igreja Católica Romana. Esta já existia muito tempo antes, desde as primeiras perseguições movidas pelos Imperadores Romanos, ainda no século I... Um século antes, em 313, o imperador Constantino havia decretado o fim das perseguições aos cristãos e construiu diversas igrejas e basílicas, entre elas, o primeiro prédio da Catedral de São Pedro, no Vaticano.

Mas isso não é tudo... Defendendo a idéia de que a Igreja Católica surgiu em 476, tenta destruir o conceito da sucessão apostólica, como se esta não existisse ou não fosse praticada...

Felizmente essa intenção pode ser desfeita recorrendo-se a fontes seguras, como o Liber Pontificalis, que apresenta a lista de sucessões de Pedro até Félix III que, por sinal, pontificou entre os anos 526 e 530, ou seja, quase cinquenta anos após 476! Mas alguém poderia afirmar: "o Liber Pontificalis foi escrito no séc. VI... quem garante que, antes de 476, realmente existia a sucessão apostólica?".

Essa pergunta pode ser respondida por Ireneu de Lião, que escreveu sua obra "Contra Todas as Heresias" ou "Adversus Haereses" por volta do ano 180, isto é, em pleno século II. Note o que ele escreve sobre a sucessão apostólica:

"Os bem-aventurados apóstolos [Pedro e Paulo] que fundaram e edificaram a Igreja transmitiram o governo episcopal a Lino, aquele Lino que Paulo lembra na epístola a Timóteo. Lino teve como sucessor Anacleto. Depois dele, em terceiro lugar depois dos apóstolos, coube o episcopado a Clemente, que tinha visto os próprios apóstolos e estivera em relação com eles, que ainda guardava viva em seus ouvidos a pregação deles e diante dos olhos a tradição. E não era o único, porque nos seus dias viviam ainda muitos que foram instruídos pelos apóstolos. [...] A este Clemente, sucedeu Evaristo; a Evaristo, Alexandre; em seguida, sexto depois dos apóstolos foi Sisto; depois dele, Telésforo, que encerrou a vida com gloriosíssimo martírio. Em seguida, Higino. Depois Pio. Depois dele, Aniceto. A Aniceto, sucedeu Sótero e, atualmente, Eleutério, em décimo-segundo lugar na sucessão apostólica, detém o pontificado. Com esta ordem e sucessão, chegou até nós, na Igreja, a tradição apostólica e a pregação da verdade. Esta é a demonstração mais plena de que é uma e idêntica a fé vivificante que, fielmente, foi conservada e transmitida na Igreja, desde os apóstolos até agora." (Adv.Haer.,III,3,3 - grifos nossos).

Além do testemunho de Ireneu, outros Pais da Igreja - como veremos em outro artigo - consideravam que nenhuma igreja particular poderia ser considerada digna se não estivesse em comunhão com o Bispo de Roma, isto é, o papa. Note-se também que o termo "sucessão apostólica" também não foi "criado" pela Igreja Católica na Idade Média ou após a paz de Constantino (ano 313). Antes disso, o termo já estava em uso e sua prática foi ensinada pelos apóstolos! Eusébio, em sua "História Eclesiástica", descreve a sucessão apostólica não apenas do Bispo de Roma mas também de bispos de outras regiões.

Então perguntamos: qual outra Igreja, além da Igreja Católica, pode demonstrar e provar sua ligação direta com os Apóstolos e, conseqüentemente, com Cristo? Já pelo ano 180, existiam diversas seitas e Ireneu apontava a sucessão apostólica como único meio de se dissipar dúvidas; outros escritores antigos, como Eusébio, defendiam o mesmo critério; assim foi durante toda a Idade Média... se a Reforma Protestante fosse realmente legítima, não apenas comprovaria sua ligação com os apóstolos como também praticaria essa sucessão! E qual igreja protestante segue esse critério? Com exceção da igreja anglicana que, de forma muito precária, tenta provar sua sucessão (o que demonstra certo respeito e reconhecimento1), as demais confissões a rejeitam e, conseqüentemente, não a praticam. E se a maioria das igrejas do período de Reforma não reconhecem nem praticam a sucessão apostólica, muito menos motivo e possibilidade têm as igrejas mais recentes, pois foram fundadas por cisões internas do Protestantismo...

Logo, como professamos no Símbolo Niceno-Constantinopolitano, a Igreja do Senhor é una: Jesus orou por sua unidade (cf. Jo 17,11.21.23), os Apóstolos confirmaram (cf. 1Cor 1,10) e os verdadeiros fiéis seguiram a orientação (cf. escrituras do período patrístico, etc.). Como podemos, então, desconsiderar a ordem do Senhor e dos Apóstolos e criar denominações a torto e a direito, com a velha desculpa que foi ordem do Espírito Santo (aliás, uma blasfêmia que será punida rigorosamente: v. Mt 12,31-32; Mc 3,29; Lc 12,10)? E a tarefa de manter a Igreja unida foi conferida por Jesus a Pedro: note-se como o dono do rebanho (cf. Jo 10,14), dando sua vida por ele (cf. Jo 10,11), confia-o a Pedro - e apenas a Pedro - (cf. Jo 21,15-17), o que significa, tomando por base o texto de Jo 10,3.27 (onde Jesus afirma que o rebanho conhece e segue a voz do pastor), que estas ovelhas ouvirão, aqui na terra, a voz de Pedro, pois este passa a ser o responsável pela unidade do rebanho enquanto Ele não voltar (cf. Lc 22,32). Que fique bem claro: Pedro não é o dono do rebanho! Este pertence unicamente a Jesus! Pedro, visto por Jesus como servo bom e fiel, simplesmente recebeu a incumbência de dirigir este rebanho pela porta das ovelhas, que é Cristo Jesus (cf. Jo 10,7). E por que isso? Porque Jesus sabia que, em sua ausência, o rebanho se dispersaria. Pedro (e, obviamente, seus sucessores) passa a ser o ponto de referência: por isso Pedro é o único dos Apóstolos que detém a chave do Reino (cf. Mt 19,16)! Será que Jesus, como Deus que era, não tinha conhecimento do futuro? Em quem confiar, então? Numa Igreja comprovadamente fundamentada sobre os ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos ou numa das milhares de igrejas que se dizem "verdadeiras seguidoras de Jesus", mas que nenhuma ligação têm nem com os Apóstolos e, muito menos, com Jesus??

Encerramos este artigo citando as palavras de Inácio de Antioquia em sua carta à Igreja de Roma, escrita em torno do ano 110:

"Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que recebeu a misericórdia por meio da magnificência do Pai Altíssimo e de Jesus Cristo, seu único Filho; [...] à Igreja da região de Roma, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai: eu a saúdo em nome de Jesus Cristo, filho do Pai"2 (Ign.Rom., Intro - grifos nossos). Trata-se do reconhecimento, desde os tempos mais remotos do Cristianismo, da primazia e superioridade da Igreja de Roma sobre as demais!


1Eis o porquê dos cultos e crenças da igreja anglicana serem tão próximos aos da Igreja Católica Romana; isso também explica o grande número de convertidos anglicanos ao catolicismo (leigos e até clérigos); vem dos Estados Unidos a notícia de "catolização" oficial de várias comunidades anglicanas. De certa forma, o mesmo se aplica às Igrejas Ortodoxas Orientais.
2Inácio, segundo bispo de Antioquia, durante sua viagem compulsória para Roma (onde foi martirizado), escreveu pelo menos seis cartas destinadas, respectivamente, à Igreja de Éfeso, à Igreja de Magneso, à Igreja de Trália, à Igreja de Roma, à Igreja de Filadélfia e à Igreja de Esmirna. Todas elas possuem, praticamente a mesma estrutura: saudação inicial, exortações e saudação final; mas foi apenas à Igreja de Roma que dirigiu palavras de reconhecimento da primazia. Se isso não fosse verdade, por que Clemente, o quarto papa, escreveria aos Coríntios, em torno do ano 96, exigindo ordem naquela comunidade? (cf. 1ª Epístola de Clemente aos Coríntios); para quê Clemente se intrometeria em comunidade alheia, se não se sentisse responsabilizado para assim o fazer? Ou, melhor ainda, por que apenas Clemente, bispo de Roma, ousou escrever à comunidade de Corinto, tendo sido sua "orientação" acatada (segundo os registros da época)?


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