A g n u s D e i

PRIMEIRA CARTA DE SÃO CLEMENTE AOS CORÍNTIOS
Parte V - Capítulos 41 à 50

CAPÍTULO XLI
1Irmãos, cada qual de nós agrade o Senhor em sua função, vivendo em boa consciência, não transgredindo as regras de seu ofício e exercendo-o com toda a dignidade.
2Irmãos, nem por toda parte são oferecidos sacrifícios perpétuos ou votivos, de expiação e remissão, mas apenas em Jerusalém. E lá mesmo não se oferece em qualquer parte, mas apenas na frente do santuário, sobre o altar, e só depois que o sumo-sacerdote e os seus auxiliares, acima mencionados, examinarem atenciosamente a oferenda.
3Aqueles que praticam algo contra aquilo que agrada Sua vontade recebem a morte como castigo.
4Irmãos, vede que, quanto maior o conhecimento com que somos distingüidos, maior o perigo a que nos expomos.

CAPÍTULO XLII
1Os apóstolos receberam em nosso favor a boa-nova da parte do Senhor Jesus Cristo. E Jesus Cristo foi enviado por Deus.
2Portanto, Cristo vem de Deus e os apóstolos [vêm] de Cristo. Esta dupla missão realizou-se em perfeita ordem por vontade de Deus.
3Munidos de instruções e plenamente assegurados pela ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, confiantes na Palavra de Deus, saíram a evangelizar a próxima vinda do Reino de Deus na plenitude do Espírito Santo.
4Assim, proclamando a palavra nos campos e nas cidades, estabeleceram suas primícias, como bispos e diáconos, dos futuros fiéis, após prová-los pelo Espírito.
5E não se trata de inovação... há séculos que as Escrituras falam de bispos e diáconos, pois assim se lê em algum lugar: "Quero estabelecer os bispos deles na justiça e os seus diáconos na fé".

CAPÍTULO XLIII
1Por que estranhar que os apóstolos, a quem Cristo confiou, da parte de Deus, tal obra, tenham instituído os acima mencionados? Ora, até o bem-aventurado e servo fiel em toda casa, Moisés, assinalou tudo o que lhe fôra ordenado nos santos livros. Seguiram-no os demais profetas, juntando os seus testemunhos às leis por ele instituídas.
2No momento de irromper o ciúme a respeito do sacerdócio e de se disputarem as tribos, isto é, qual delas deveria ostentar esse título glorioso, ordenou ele aos doze chefes de tribo que lhe trouxessem bastões com o nome de cada tribo gravado. Tomando tais bastões, amarrou-os, assinalou-os com os anéis dos chefes e os depositou sobre a mesa de Deus na tenda do testemunho.
3Então fechou a tenda, selando as chaves da mesma forma que os bastões.
4Disse-lhes, então: "Irmãos, a tribo cujo bastão brotar será a escolhida por Deus para exercer o sacerdócio e ministrar seu culto".
5Ao amanhecer, reuniu todo Israel, os seiscentos mil homens, mostrou os selos aos chefes, abriu a tenda do testemunho e retirou os bastões. E ocorreu que o bastão de Aarão não só germinara como também produzira fruto.
8Então, o que lhes parece, irmãos? Acaso Moisés não sabia, previamente, que era isso o que ocorreria? Sem dúvida sabia-o. Mas, para que não irrompesse uma revolta em Israel, agiu dessa maneira, para que fosse glorificado o nome do verdadeiro e único Deus. A Ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

CAPÍTULO XLIV
1Também os apóstolos sabiam, por Nosso Senhor Jesus Cristo, que haveria contestações a respeito da dignidade episcopal.
2Por tal motivo e como tivessem pleno conhecimento do porvir, estabeleceram os acima mencionados e deram, além disso, instruções no sentido de que, após a morte deles, outros homens comprovados lhes sucedessem em seu ministério.
3Os que assim foram instituídos por eles ou, mais tarde, por outros eminentes homens com a aprovação de toda a Igreja, servindo de modo irrepreensível ao rebanho de Cristo, com humildade, pacífica e abnegadamente, recebendo o testemunho favorável por longo tempo e da parte de todos, não é justo, em nossa opinão, serem depostos de seus ministérios.
4E não será pequena a nossa falta se depusermos do episcopado aqueles que ofereceram, de maneira santa e irrepreensível, os sacrifícios.
5Bem-aventurados os presbíteros que nos precederam na caminhada e terminaram sua jornada carregados de frutos e perfeição. Não têm a temer que alguém os remova do lugar para eles preparado.
6Vemos que vós afastastes a alguns de boa índole de um ministério que eles honraram de forma digna.

CAPÍTULO XLV
1Irmãos, cheios de zelo, disputai pelas coisas que levam à salvação.
2Vós vos aprofundastes nas verdadeiras Escrituras Sagradas, que nos vêm do Espírito Santo.
3Sabeis que elas não são injustas, nem contêm falsificação. Lá não encontrareis que homens justos foram depostos por homens santos.
4Ao contrário, os justos foram perseguidos por pecadores, foram encarcerados por ímpios, foram apedrejados por trasgressores da lei, foram assassinados por homens cheios de ciúmes abomináveis e criminosos.
5Tais sofrimentos eles suportam com glória.
6O que diríamos então, irmãos? Acaso Daniel foi lançado à cova por homens tementes a Deus?
7E quanto a Ananias, Azarias e Misael: foram eles lançados à fornalha ardente por homens que praticavam o culto excelso e glorioso do Altíssimo? De modo algum! Então, quem praticou tais coisas? Foram indivíduos odiosos, cheios de maldade e que nutriam tal fúria que mandavam à tortura todos aqueles que serviam a Deus com santa e irrepreensível intenção, esquecendo-se que o Altíssimo é defensor e escudo daqueles que servem a seu Santíssimo Nome com consciência pura. A Ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
8Os que perseveraram na paciência, receberam glória e honra como herança, foram exaltados e inscritos no livro da memória de Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

CAPÍTULO XLVI
1Irmãos, temos que nos apegar a tais exemplos,
2pois está escrito: "Apegai-vos aos santos porque os que a eles se apegam serão santificados".
3E, de novo, em outra parte, se diz: "Junto ao homem puro serás puro. Junto ao eleito serás eleito. Junto ao perverso serás perverso".
4Apeguemo-nos, pois, aos puros e justos porque são esses os eleitos de Deus.
5Por que entre vós existem disputas, ódios, contendas, cismas e guerras?
6Acaso não temos um só Deus, um só Cristo e um só Espírito da graça derramado sobre nós e uma só vocação em Cristo?
7Por que insistimos em separar e despedaçar os membros de Cristo, nos revoltando contra o próprio corpo, chegando a uma loucura tal que nos esquecemos que somos membros uns dos outros? Lembrai-vos das palavras de Nosso Senhor Jesus,
8porque foi Ele quem disse: "Ai daquele homem! Melhor seria que não tivesse nascido do que escandalizar um dos meus eleitos. Mais lhe valeria amarrar uma pedra em seu pescoço e afundar no mar do que perverter um dos meus eleitos".
9Vosso cisma perverteu a muitos, atirou muitos no desânimo, colocou muitos na dúvida, entristeceu-nos a todos. E vossa revolta se prolonga...

CAPÍTULO XLVII
1Tornai a ler a epístola do bem-aventurado apóstolo Paulo.
2O que vos escreveu primeiro, no início do evangelho?
3Na verdade, estava ele inspirado pelo Espírito quando vos comunicou normas sobre si próprio, sobre Cefas e Apolo, pois já então formáveis partidos.
4Mas o partidarismo daquele tempo importou num pecado muito menor para vós já que vos agrupáveis em torno dos apóstolos e de um homem aprovado por eles.
5Refleti, porém: quem são os que vos pervertem neste momento e como enfraqueceram o renome da vossa caridade tão celebrada por todos.
6Uma vergonha, meus caros, uma vergonha muito grande e indigna de uma conduta em Cristo ouvir-se que a Igreja dos coríntios, tão inabalável e antiga, se rebele contra os presbíteros por causa de uma ou duas pessoas.
7E tal rumor não chegou apenas até nós, mas atingiu também a outros que possuem as mesmas convicções que nós, a ponto de se proferirem blasfêmias ao nome do Senhor por causa da vossa insensatez, por armar perigo para vós próprios.

CAPÍTULO XLVIII
1Arranquemos esse mal o mais rápido possível. Lancemo-nos aos pés do Senhor e peçamos-lhe, entre lágrimas, que se compadeça de nós, reconciliando-se conosco, trazendo-nos de volta a uma prática santa e pura de nossa fraternidade.
2Porque é esta a porta da justiça aberta para a vida, conforme está escrito: "Abri-me as portas da justiça: por elas quero entrar e louvar o Senhor.
3É esta a porta do Senhor: por ela entrarão os justos".
4Entre as muitas portas abertas, a porta da justiça é a porta de Cristo. Bem-aventurados todos aqueles que entram por ela e guiam seus passos na santidade e justiça, cumprindo todas as coisas impertubavelmente.
5Que alguém tenha fé, que seja capaz de expor o conhecimento, que seja sábio em discernir os discursos, que seja santo em suas ações.
6Quanto maior parecer, mais se deve ser humilde, procurando o proveito de todos e não o próprio.

CAPÍTULO XLIX
1Quem possui a caridade em Cristo, cumpra os mandamentos de Cristo.
2Quem poderia descrever o vínculo da caridade de Deus?
3Quem seria capaz de exprimir a magnificência de sua beleza?
4É indescritível a altura a que nos leva o amor.
5O amor nos une a Deus, o amor cobre os pecados, o amor suporta tudo, o amor é grandioso em tudo. Nada há de mesquinho e soberbo na caridade. A caridade não conhece cisma, a caridade não se revolta, a caridade realiza tudo com harmonia, na caridade todos os eleitos de Deus atingiram a perfeição. Sem caridade, não há nada que agrade a Deus.
6Na caridade o Senhor nos acolheu. Pela caridade que teve conosco, Nosso Senhor Jesus Cristo deu Seu sangue por nós, segundo a vontade de Deus; sua carne por nossa carne, sua alma por nossas almas.

CAPÍTULO L
1Amigos, vede como a caridade é grande e admirável e como não há como descrevê-la de forma perfeita.
2Quem seria capaz de chegar até ela a não ser aqueles a quem Deus os torna dignos. Peçamos e supliquemos por Sua misericórdia, para vivermos irrepreensíveis na caridade sem a parcialidade humana.
3Desde Adão, passaram todas as gerações até o dia de hoje. Mas os que foram perfeitos no amor segundo a graça de Deus tomaram posse da terra dos santos e hão de manifestar-se quando o Reino de Cristo estiver à vista.
4Pois está escrito: "Entrai nos aposentos por um instante, até que passe minha ira e meu furor. Então me lembrarei do dia favorável e hei de ressuscitar-vos de vossos túmulos".
5Amigos, somos felizes quando cumprimos os mandamentos de Deus na harmonia da caridade, para que nossos pecados sejam perdoados pela caridade.
6Porque a Escritura diz: "Bem-aventurados aqueles que tiveram perdoadas suas iniqüidades e encobertos seus pecados. Bem-aventurado o homem a quem Deus não imputa pecado e em cuja boca não se encontra a fraude".
7Estas bem-aventuranças dizem respeito aos que foram escolhidos por Deus, através de Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem se dê a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

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