A g n u s D e i

PRIMEIRA CARTA DE SÃO CLEMENTE AOS CORÍNTIOS
Parte III - Capítulos 21 à 30

CAPÍTULO XXI
1Amados, cuidai para que vossos benefícios tão numerosos não se transformem em condenação para nós, o que acontecerá se não formos dignos Dele e não realizarmos em concórdia o que é bom e agradável a Seus olhos,
2pois está dito em alguma parte: "O Espírito do Senhor é uma lanterna que penetra até o fundo do coração".
3Consideremos o quanto está próximo, de forma que nada do que pensamos, nada do que calculamos permanece-Lhe oculto.
4Assim, é justo que não nos afastemos da Sua vontade.
5Devemos preferir chocar homens tolos e insensatos, exaltados e cheios da arrogância de seus discursos, do que a Deus.
6Reverenciemos o Senhor Jesus, cujo sangue foi derramado por nós. Respeitemos nossos chefes. Honremos os anciãos. Eduquemos os jovens a temerem a Deus. Guiemos nossas mulheres para o bem.
7Que elas manifestem o desejo da pureza, a pura intenção na suavidade. Que, pelo silêncio, demonstrem a moderação de sua linguagem. Que o amor não fique dependente das inclinações, mas que seja praticado de modo santo e igual entre todos aqueles que temem a Deus.
8Que nossos filhos participem da educação em Cristo, aprendendo o quanto pode a humildade perante Deus, o quanto o amor consegue perante Deus, o quanto o temor Dele é bom e excelso, salvando a todos os que nele vivem santamente em pura intenção.
9É Ele que investiga nossos pensamentos e desejos. É o sopro Dele que está presente em nós e que pode ser retirado por Ele quando quiser.

CAPÍTULO XXII
1A fé em Cristo garante todas essas coisas, pois é Ele mesmo que assim nos convida, pelo Espírito Santo: "Filhos, vinde e escutai-me: hei de ensinar-vos a temer a Deus.
2Quem é o homem que quer vida e aprecia ver dias bons?
3Guarda tua língua do mal e teus lábios da traição.
4Afasta-te do mal e faze o bem.
5Procura e persegue a paz.
6Os olhos do Senhor estão voltados para os justos e seus ouvidos para as suas súplicas. Mas a face do Senhor se volta contra os que praticam o mal, destruindo a memória deles sobre a terra.
7O justo clama e o Senhor o atende, livrando-o de todas as tribulações.
8Muitos são os flagelos do pecador, já a misericórdia cerca os que esperam no Senhor.

CAPÍTULO XXIII
1O Pai todo-poderoso e misericordioso tem entranhas para os que O temem e, assim, distribui de forma bondosa e amorosa Suas graças àqueles que se aproximam Dele com o coração simples.
2Não hesitemos por causa disso, nem se orgulhe nossa alma por causa dos Seus dons ricos e magníficos.
3Que nunca se aplique a nós a passagem da Escritura que diz: "Infelizes os que hesitam no coração e desconfiam na alma; aqueles que dizem: 'Tais promessas já escutamos na época de nossos pais e eis que envelhecemos e nada disso aconteceu'.
4Ó insensatos, comparai-vos à uma árvore; reparai na videira que, primeiro perde as folhas e então brota, a seguir vêm a folha, então a flor e, depois disso, a uva verde é seguida da uva madura". Considerai como, em pouco tempo, o fruto da árvore se torna maduro.
5É bem assim que a vontade de Deus se cumpre, em ritmo veloz e inesperado, como a própria Escritura nos atesta: "Virá logo e não tardará. Subitamente o Senhor entrará no seu santuário, o Santo a quem esperais".

CAPÍTULO XXIV
1Amados, observemos como o Senhor não cessa de dar-nos provas de que, no futuro, a ressurreição se concretizará. Deu-nos prova dela primeiramente ressuscitando Jesus Cristo dos mortos.
2Amados, vejamos como se dá a ressurreição a seu tempo.
3O dia e a noite nos manifestam a ressurreição: dorme a noite, ressuscita o dia; o dia se retira, chega a noite.
4Exemplifiquemos com os frutos da terra: como e de que modo faz-se a semeadura?
5O semeador sai e espalha, semente por semente, pela terra lavrada, que caem secas e nuas sobre a terra e aí se desfazem; desta decomposição, a grandiosa providência do Senhor as ressuscita, de forma que, de uma, aumentam para muitas e produzem fruto.

CAPÍTULO XXV
1Consideremos o sinal prodigioso que ocorre na região oriental, isto é, nas terras próximas da Arábia.
2Aí existe um pássaro chamado fênix, único na espécie e que vive quinhentos anos. Quando está para morrer, ergue seu próprio sepulcro usando incenso, mirra e outras plantas aromáticas e, ao completar seu tempo, aí se introduz e morre.
3De sua carne em decomposição nasce uma larva que se alimenta da matéria putrefata do animal morto e cria asas; quando se torna forte, levanta o sepulcro onde se encontram os restos de seu ancestral e carrega-o, voando da terra da Arábia até a cidade do Egito chamada Heliópolis.
4E, em plena luz do dia, aos olhos de todos, transporta e depõe aqueles restos sobre o altar do sol; a seguir, retoma o vôo de volta.
6Então os sacerdotes examinam os calendários e percebem que ele chegou ao se completarem quinhentos anos.

CAPÍTULO XXVI
1Devemos, então, considerar grandioso e estranho o fato de o Criador operar a ressurreição de todos aqueles que lhe serviram santamente na confiança de uma boa fé, se ele ilustra até por um pássaro a grandeza de sua promessa?
2Lê-se em alguma parte: "Hás de me ressuscitar e eu te louvarei". E: "Deitei-me e adormeci; levantei-me porque tu estás comigo".
3E Jó adverte novamente: "Ressuscitarás minha carne que suportou todo esse sofrimento".

CAPÍTULO XXVII
1Que nossas almas se apeguem por uma esperança assim Àquele que é fiel em Suas promessas e justo em Seus juízos.
2Aquele que proibiu a mentira, tampouco haverá de mentir, pois nada junto a Deus é impossível, exceto a mentira.
3Portanto, que se acenda novamente dentro de nós a fé Nele e reconheçamos que todas as coisas estão próximas Dele.
4Com apenas uma palavra de sua grandeza, estabeleceu tudo e, com uma só palavra, pode destruir tudo.
5Quem diria a Ele: "O que fizeste?", e quem resistiria à força do seu poder? Fará tudo quando e como quiser. Nada das coisas que ordenou haverá de passar.
6Tudo está diante de Seus olhos, nada escapa de Sua determinação.
7Os céus anunciam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de Suas mãos. O dia comunica a façanha ao dia, a noite transmite seu conhecimento à noite. Não há palavras nem discursos em que suas vozes não são ouvidas.

CAPÍTULO XXVIII
1Já que vê tudo e ouve tudo, temamos a Ele e abandonemos os maus desejos das ações desonestas, para nos pouparmos por Sua piedade dos futuros juízos.
2Para onde poderia algum de nós fugir de Sua mão forte? Qual mundo receberia alguém que desertou Dele? Pois, em algum lugar, diz a Escritura:
3Para onde fugirei e onde me esconderei de Tua face? Se subir ao céu, lá estás. Se me retiro para as extremidades da terra, lá está a tua direita. Se me atiro nos abismos, lá está o Teu Espírito.
4Portanto, para onde poderia alguém ir para escapar Daquele que tudo envolve?.

CAPÍTULO XXIX
1Logo, aproximemo-nos Dele com alma santa, levantando mãos puras e imaculadas para Ele, amando nosso Pai bondoso e misericordioso, que nos admitiu como herdeiros.
2Porque assim está escrito: "Quando o Altíssimo distribuiu a herança aos povos, na hora de disseminar os filhos de Adão, definiu territórios para os povos conforme a multidão dos anjos de Deus. Tornou-se herança do Senhor o povo de Jacó e sua partilha foi Israel".
3E em outra parte se diz: "Eis que o Senhor toma para si um povo no meio dos povos, assim como um homem toma as primícias de sua eira, e deste povo há de proceder o Santo dos santos".

CAPÍTULO XXX
1Uma vez que formamos a porção santa, façamos tudo o que leva à santificação. Fujamos da maledicência, abraços impuros e impúdicos, bebedeiras, modismos temporários, cobiças abomináveis, adultério detestável e soberba hedionda.
2Pois Deus, como se lê, resiste aos soberbos, porém, concede graça aos humildes.
3Portanto, unamo-nos àqueles a quem Deus concede a graça. Revistamo-nos de concórdia, sejamos continentes humildes, mantendo-nos afastados de toda murmuração e calúnia, justificando-nos mais pelas obras do que pelas palavras.
4Pois assim se diz: "Quem muito fala, terá resposta. Qual homem eloqüênte imaginaria que isso fosse justo?"
5Bem-aventurado o homem, nascido de mulher, que vive pouco. Não te tornes pródigo em palavras.
6Venha nosso louvor de Deus e não de nós. Deus odeia aquele que louva a si próprio.
7O testemunho de nossas boas ações seja dado pelos outros, como assim também aconteceu com nossos pais, que foram justos.
8A arrogância, a presunção e a audácia se assentam sobre aqueles que foram malditos por Deus. A discrição, a humildade e a mansidão habitam junto daqueles que foram abençoados por Deus.

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